0 comments | sexta-feira, julho 30, 2004

Adoro o jogo e tremo ante o mistério, mas mistério é o nome do jogo.

1 comments | quarta-feira, julho 28, 2004

Sobre a Minha Cidade

sobre a minha cidade, falei-te ontem, mostrei-te
as esquinas do tempo, a imagem de fachadas
que ainda conheci, de outras que
eu próprio ignorava; sobre

a minha cidade e suas pedras, seus espaços
de árvores graves; e o que foi arrasado,
ou está a desfazer-se; as manchas do presente, a
poluição dos homens; e o que foi

violentamente arrancado por negócios sucessivos,
erros, brutalidades: que era e o que foi
o que é dentro de mim o seu obscuro,
imaginário ser: costumes e conflitos,

maneiras de falar a gente
e a confusão das ruas, as casas do barredo;
sobre a minha cidade achei que tu
tiveste gratidão, a viste.

que percorreste as pontes que a minha
cidade a ti me trazem, entre
gaivotas alastrando músicas diferentes,
foste nascer nela.

Vasco Graça Moura

3 comments | terça-feira, julho 27, 2004

 
Hoje mostraram-me “a rua mais bonita do Porto”. Se não é, é como se fosse.

1 comments | segunda-feira, julho 26, 2004

Portugal arde, novamente. Outra coisa não era de esperar, já estamos habituados aos tristes desempenhos dos políticos, daqueles que são nomeados pelos políticos, do próprio país. Em Setembro do ano passado, pus no Cerco do Porto (não consigo fazer o link para o texto) um extenso rol de considerações sobre a matéria. Não é necessário escrever tanto, mas volto a deixar algumas pistas:
  • Não existem serviços florestais descentralizados, ao nível do município, da freguesia, da aldeola, logo, não é feito qualquer aconselhamento aos pequenos proprietários florestais, os detentores da maior parte da floresta nacional;
  • Não há técnicos florestais nas cadeias de comando do combate a um incêndio;
  • Na altura em que se deve trabalhar na prevenção, fazem-se livros brancos, azuis ou cor-de-rosa, no resto do tempo reflecte-se sobre os ditos livros;
  • As matas que ardem não são as das grandes empresas de celulose, talvez seja coincidência o facto de eles serem mantidas em permanência por técnicos competentes;
  • Um grande incêndio começa sempre por ser um pequeno incêndio, mas não há maneira de superar a total inoperância dos mecanismos de acção rápida (onde estão os sapadores? quem foi o idiota que distribuiu carros como Toyota Yaris ou Renault Clio a vigilantes?...);
  • Os bombeiros são uns heróis, não haja dúvida, mas são realmente conhecedores dos terrenos onde operam?
  • Todos os anos há um responsável iluminado que lamenta a enorme quantidade de fogos simultâneos, que levam à dispersão de meios; por que é que não se apercebem de que essa é a situação expectável?
  • As acções de sensibilização são praticamente zero; esperem pelo foguetório das romarias;
  • A negligência, sem dolo, é, talvez, a causa mais frequente de incêndios florestais; que meios legais existem para penalizar os prevaricadores?
  • Valerá a pena, para salvar uma casa ou duas, deixar arder uma serra inteira; não tem o Estado obrigação de ressarcir devidamente as pessoas lesadas (já sei que os liberais dizem que não, que o Estado só serve para parecer que não existe)?
  • .................................................

Até ao dia 18 do corrente, houve mais ocorrências do que em igual período do ano passado, sendo importante notar que diminuiram os fogachos (fogos que consomem menos de um hectare) e aumentaram os incêndios florestais, aqueles que realmente destroem. Contudo, há opiniões, supostamente abalizadas, que menorizam tal circunstância, referindo que o período realmente crítico de 2003 não foi esse. Pelos vistos, sabem consultar calendários.

O problema é quando se ouve o presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil a assumir um discurso de vítima, dizendo que a culpa é dos criminosos. Ou quando ele se dá ao luxo de recomendar às pessoas que não façam queimadas, quando tal procedimento é rigorosamente condicionado pela lei, uma entre muitas leis que não há maneira de fazer cumprir. O drama é sempre o mesmo. No fim, reúnem-se conselhos de sábios, elaboram-se relatórios, policopiam-se os relatórios, distribuem-se os relatórios por outros sábios ou candidatos a sábios. Os políticos terão matéria para discutir e, no ano que vem, há-de haver uma altura em que as pessoas questionarão o que está a ser feito para prevenir os incêndios. No Verão, concluir-se-á que nem tudo foi feito. No Outono os políticos discutirão o problema...

0 comments | sábado, julho 24, 2004

Desliza-me o pensamento entre dimensões contraditórias, voga entre o tempo e a vida, entre as oportunidades desencontradas e os momentos desgarrados. Não digo que necessitasse de um outro eu, apenas de outras circunstâncias. Às vezes. Há uma espécie de dor controlada, uma estranha tomada de consciência tirada dos instantes em que, sabendo-o, somos do que não é nosso. É como estar de pé no parapeito e conseguir um estranho equilíbrio de forças, saltando em frente e, ao mesmo tempo, a aplicar em sentido contrário a força que nos mantém numa firme instabilidade. Não se trata de qualquer estado depressivo. Não me estou a subestimar, nem aos ensinamentos do tempo que passa. É apenas uma espécie de perplexidade cómica, algo como sonhar com a chave do totoloto um dia depois de ter sido sorteada.

Repararam que ando um bocado piegas? Ilusão vossa. Isto passa.

2 comments | sexta-feira, julho 23, 2004

0 comments | quinta-feira, julho 22, 2004

(alegadas irregularidades no passaporte fizeram com que Mantorras, futebolista do Benfica, fosse detido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras)

Pergunta o repórter da TVI a um dirigente do clube lisboeta, mais ou menos nestes termos: "Acha que isto é por causa dos resultados do Benfica?".

Nem todos os jornalistas são jornalistas, leia-se isto num ou noutro sentido. E mais não digo.

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O meu vizinho da frente chora. Sempre. Não se ouvem dele queixumes, não perde a postura altiva, apesar daquela inesgotável torrente lacrimosa. Há no choro dele uma contínua renovação, não sei se do sofrimento, se da nostalgia. Não sei se é o lamento de uma existência inalterável. Tem, por certo, mais de vinte metros de altura. É um cedro, creio, e besunta-me o carro com lágrimas resinosas quando paro à sombra dele. Domina a rua, dança com o vento, resiste à chuva. Aguenta o frio, não se esconde à sombra quando o sol o esmaga, antes prefere dar sombra aos que passam e não têm raízes. Não sei o que o faz chorar, se as raízes que o prendem, se alguma afinidade com aquele que o olha, arrancado à terra e sedento desse húmus que dá vida tanto ao choro como ao riso.

7 comments | quarta-feira, julho 21, 2004

No mesmo dia, Paulo Portas elogiou a ida de Teresa Caeiro para secretária de Estado da Defesa, justificando a escolha com a pérola curricular de ser "filha e neta de militares". mas como em política o que de manhã é verdade à tarde é mentira, a senhora já é, afinal, secretária de Estado das Artes e Espectáculos. Já se desconfiava do Ministério da Cultura, mas a cereja no topo do bolo é esta: os espectáculos privilegiados pela propaganda nacional serão os "tatoos" militares. Há palhaçadas que têm pouca piada.

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Isto é só para recomendar muito cuidado quando se liga o televisor, particularmente de manhã. Hoje fiz isso, talvez para ter ruído de fundo em casa, e reparei que o programa "Praça da Alegria" estava a ser feito no exterior, em Nevogilde, junto à conhecida pérgola que embeleza o passeio marítimo. Um dos convidados era um curioso cujo nome não fixei, certamente muito conhecedor das histórias da Foz, que, a páginas tantas, explicou que o Castelo do Queijo (o Forte de S. Francisco Xavier do Queijo, assim chamado por estar sobre um rochedo que era conhecido por Queijo) tinha sido erguido por influência do clero, para afastar os druidas que naquele sítio cumpriam os seus rituais. Ora, o edifício militar foi construído no século XVII, ou seja, o convidado do programa esqueceu-se de precisar que os clérigos queriam afastar os fantasmas dos druidas. Claro que desliguei o televisor. Claro que fiquei a pensar que muita gente, cuja fé na televisão é inquebrantável, está agora enriquecida com essa extraordinária "verdade histórica".

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É curioso que ainda ontem passei boa parte da manhã numa deliciosa conversa, em que vieram a propósito os problemas da condição feminina através dos tempos. Problemas perenes, mais perenes do que possamos imaginar. A parte curiosa – tristemente curiosa – é que mais tarde vi um trabalho, na televisão, a propósito da violência sobre as mulheres, com especial enfoque na situação espanhola, que ganhou grande visibilidade nos últimos anos, e alguma discussão sobre a realidade portuguesa.
 
Uma das questões que estão em cima da mesa tem a ver com o quadro legal aplicável, isto é, com a dúvida entre penalizar especificamente a violência sobre as mulheres ou enquadrá-la no quadro genérico da violência doméstica. Há quem considere que o tratamento isolado, em termos de legislação, dos casos em que as vítimas são mulheres é uma espécie de retrocesso, uma outra forma de discriminação pouco consentânea com os progressos obtidos, nos últimos tempos, em matéria de igualdade. Se a discussão for meramente académica, até lhes poderei dar razão, mas, de um ponto de vista mais pragmático, creio que cometem um erro.
 
Por mais que disso queiramos fugir, a sociedade continua eminentemente patriarcal. Se alguns de nós (homens e mulheres) entendem como irracional e profundamente injusta a desigualdade reinante, essa está longe de ser a mentalidade que domina. Há, ainda, muitas mulheres que entendem como normal (legítimo, até) o ascendente masculino no casamento, admitindo que o homem tenha o direito de retaliar fisicamente (há outras violências, claro, mas do que aqui se fala agora é da violência física). E estaremos a fugir à realidade se não tivermos em conta que todas as pessoas -- mesmo as que, por uso da razão, lutam contra a velha ordem – têm, de algum modo mais ou menos recôndito, interiorizada como normal a preponderância do homem.
 
Estamos a falar de uma limitação que é quase congénita, que cada um tem de combater, que cada um tem que procurar transmitir aos que educa ou àqueles com quem convive (estão a reparar na preponderância do género masculino na língua?). Promover a igualdade é uma prioridade, mas a verdadeira meta, que é incutir essa noção de igualdade nas mentalidades, é muito mais difícil de atingir do que possa parecer. Pressupõe o esforço de muitas (soubesse eu quantas) gerações, pois não se desfaz em poucas décadas uma evolução colectiva de milénios. Por isso é que, atendendo ao drama que é a violência, em tempo real, é necessário agir sobre o problema não só com a intenção de o eliminar, de vez, mas também de o evitar no imediato. Nesse sentido, parece-me que a tal discriminação, subjacente às leis específicas contra a violência sobre as mulheres, é um mal menor. Não podem os legisladores e pessoas que se interessam por isto pensar, porém, que vão assistir em vida à implementação plena da igualdade. A tarefa cabe a todos nós, mas não se coaduna com ciclos políticos. Queremos traçar rumos evolutivos e, portanto, teremos de ter consciência de que a evolução se faz ao sabor de outros ritmos. Não chega o tempo de uma vida, é precisa a dedicação de muitas vidas.

1 comments | terça-feira, julho 20, 2004

A coluna de links ali ao lado está a lástima do costume. Não me lembro de a actualizar, ou faço tudo por me esquecer quando tal ideia me sobe à cabeça. Mas reconheço que, mais dia, menos dia, terei de fazê-lo. Um dos novos blogues a destacar é o Dias com árvores, que teve a gentileza de mudar o url (aos info-excluídos: aquela coisa que se escreve lá em cima) para eu poder conhecer o que ali se faz. Só por causa disso, já me sentiria obrigado ao reconhecimento, mas não chega. É um blogue do Porto, com árvores. Original, bonito e útil (talvez o novel ministro do Ambiente possa aprender alguma coisa, esteja ele disposto a alguma coisa aprender).
 
Uma palavra para o nosso patrocinador: a situação acima explicada apenas foi possível com o desinteressado contibuto da caixa do comentários do Avenida dos Aliados, o verdadeiro blogue de serviço público.

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Às vezes, resistimos a ver os sinais que se nos deparam. Tendemos a imaginar que determinadas situações são meramente ilusórias, fruto da nossa vontade, quanto mais forte esta for. É uma atitude defensiva e desconcertante. Seria melhor que nem sempre aprendêssemos com os erros.

1 comments | domingo, julho 18, 2004

Ao reler um texto aí para baixo, arranjei um pós-título, ou epígrafe, ou lá o que se lhe queira chamar, para a Fonte das Virtudes. Apeteceu-me.

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O morro da Pena Ventosa, onde nasceu a cidade do Porto, é dominado, como saberão, pela Sé. O domínio reveste-se de uma óbvia dimensão simbólica, determinada pelo poder eclesiástico na cidade, e não importa agora falar de todas as intervenções arquitectónicas, tanto de pôr como de tirar, a que a Catedral tem sido sujeita ao longo dos séculos. Ressalvo apenas que esse domínio – falo da sensação visual – foi exacerbado pela criação, na década de 1940, do terreiro da Sé, à custa do casario que antes envolvia o templo, intervenção discutível mas também compreensível, na medida em que foi feita à luz das tendências da época e não de uma qualquer decisão espúria. É um pouco à sombra da Sé que está o monumento que agora nos interessa. Trata-se da única grande igreja que foi erguida entre a sede do poder episcopal e o Rio da Vila, facto que, por si, é amplamente significativo. Hoje em dia, essa igreja e os edifícios adjacentes formam o Seminário Maior do Porto, um centro de formação profissional de presbíteros, e é mais conhecida por igreja dos Grilos, à frente explicarei porquê. Prefiro designar essa estrutura por Colégio de S. Lourenço, testemunho da passagem da Companhia de Jesus pela cidade e, em paralelo, símbolo menos evidente da forte personalidade das gentes do Porto.
 
Existe, portanto, uma invulgar proximidade física entre os símbolos de poder do bispo e da ordem fundada por Inácio de Loiola, introduzida em Portugal no reinado de D. João III. Trata-se de uma proximidade que não traduz qualquer desafio, como sucede com o mosteiro beneditino da Vitória, mas um consentimento. Porém, tal consentimento – do bispo para com os jesuítas – não é revelador, por si, da realidade histórica, pois esconde a forte resistência que a cidade ofereceu à instalação dos inacianos dentro de muros. Com efeito, foi com muita dificuldade que a Companhia de Jesus se instalou no Porto, o que era contraditório com o que se passava no resto do Portugal quinhentista, com esta ordem religiosa a assumir rapidamente uma enorme predominância, tanto como senhores da educação como nos bastidores do poder régio.
 
Contam-se histórias acerca dessa resistência dos do Porto à entrada dos jesuítas, algumas de certo modo inverosímeis. Por exemplo, fala-se que, sendo esta uma cidade de mercadores e de homens embarcados e ausentes, a presença dos estudantes, já então tidos como gente desbragada, seria um perigo para as donzelas e para as esposas carenciadas. Ora, o que carece de fundamento é essa teoria. Parece mais viável que os poderosos do Porto, gente que vivia do trato, vissem com maus olhos a instalação de uma aula na cidade pela circunstância de a instrução fazer perigar a continuidade dos negócios. Daí que torcessem o nariz à possibilidade de o Porto se transformar num centro intelectual e aos propósitos dos jesuítas (conhecidos por “franchinotes”), resistindo, por bastante tempo, à instalação do colégio.
 
Decisiva para quebrar esse impasse foi a deslocação ao Porto, por volta de 1560, do jesuíta Francisco de Borja, um grande de Espanha, que, embora viajasse incógnito e dissimulado, foi detectado e convidado pelo então bispo do Porto, D. Rodrigo da Cunha, para se alojar no Paço. Os sermões deste Borja, mais tarde canonizado, eram de tal forma cativantes que um influente cidadão do Porto, Henrique Nunes de Gouveia, acabou por facilitar a instalação de alguns jesuítas na cidade, cedendo-lhes uma casa na zona da Ribeira (Rua das Almas), onde funcionou o primeiro colégio, consagrado, justamente, no dia de S. Lourenço. O grande impulsionador (ler financiador) do colégio novo, aquele de que aqui falamos, foi D. Frei Luís Álvares de Távora, balio de Leça, que em 1614 ofereceu trinta mil cruzados. Tal valeu-lhe o direito a sepultura na capela-mor da igreja que viria a ser construída. Erguer o monumento que aqui mostro demorou décadas, mas foi o primeiro passo para um enorme crescimento da influência dos jesuítas na cidade, particularmente intenso durante a dominação filipina.
 
Há uma particularidade, na fachada desta igreja, que a muitos poderá passar despercebida. É, creio, o único monumento português em cuja fachada persiste, intacta, a pedra de armas dos Távoras, afastada da face da terra e da memória pelo marquês de Pombal, no âmbito do triste processo que teve sangrento desfecho em Janeiro de 1759. No mesmo ano, precisamente, em que a Companhia de Jesus foi expulsa do país. E é depois disso que aparece o nome por que a igreja é, actualmente, reconhecida. Estando as instalações devolutas, foram lá instalados monges agostinhos descalços, que antes viviam numa Quinta dos Grilos, perto de Lisboa.
 
Esses monges são pouco relevantes, e a circunstância de hoje se falar mais em igreja dos Grilos não deve, penso, escamotear o que de importante tem o Colégio de S. Lourenço. Não tanto pelo que os jesuítas fizeram pela cidade, que também importa, mas pela circunstância de nesses idos de quinhentos, como em todas as épocas e momentos, os do Porto não terem hesitado em resistir a uma influência externa que julgavam fazer perigar o modo de vida que haviam construído ao longo de séculos. Isto deve ser endémico, mas é verdade que nunca gostámos que nos comessem as papas na cabeça.



0 comments | sábado, julho 17, 2004

O homem acabou de tomar posse. Tento acordar mas não consigo. Parece que é mesmo verdade.

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Não foram muitos os que saudaram o meu primeiro ano de vida blogosférica, mas valeram por várias multidões. Mais distraído do que ingrato, só agora lhes deixo aqui o meu abraço de gratidão, pela ordem em que chegaram à caixa de comentários.
 

 


2 comments | sexta-feira, julho 16, 2004

Completamente derretido -- pasmado, até --, fixo as formas curvilíneas que se vieram pôr à minha frente, luzidias, perfeitas, inebriantes. Não resisto a tocá-las, a cobri-las de carícias. Parece que ela gosta de mim, não pára de me olhar com ternura, deixa-se estar à minha frente quieta, serena, à espera do toque dos meus lábios. E eu gosto dela, do que aparenta e do que encerra. Para mais, consegue dizer tudo sem falar. É a garrafinha com que fui premiado, por ocasião do primeiro aniversário da versão blogue da Ânimo. Recebi-a há pouco e não resisti a levar o gargalo à boca, provando o licor de tangerina com que o António Colaço decidiu tornar os dias mais leves a cinco felizardos. É uma delícia!

2 comments | quinta-feira, julho 15, 2004

0 comments | quarta-feira, julho 14, 2004

Telegraficamente:

Bagão Félix nas Finanças: o homem da caridadezinha e do nefasto Código do Trabalho é, à partida, a garantia de que quem se lixa é o mexilhão; pelo menos, estamos habituados.

António Monteiro nos Negócios Estrangeiros: está mais que demonstrado que naquela casa, quando o tacho é entregue a um diplomata de carreira, a coisa não funciona; aparentemente, um erro de palmatória.

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Ser português implica uma vocação marítima? A questão poderia permitir que discorresse, numa espécie de prolixidade oca, partindo do zero para chegar ao vazio, isto é, sem perceber o que é isso de ser português ou que diabo é a vocação marítima. Portanto, há que simplificar. Presumo que não tenho de provar aqui a minha nacionalidade, ao que avançarei já para a minha vocação marítima. Descansem, é questão muito simples, adequada ao período estival e a algum alívio que me permitiu, ontem, cumprir a dita vocação. Poderia, eventualmente, abster-me de falar do assunto, por correr o risco de parecer um bicho raro, mas, afinal, já sei que não sou tão raro como isso: entre a praia propriamente dita e uma boa esplanada frente ao mar, tragam-me a esplanada.

É em olhar o mar, pois, que mora essa vocação marítima. No gesto de vaguear com a imaginação pelos mistérios que o horizonte encerra, no processo de auto-hipnose embalado pelo murmulho das ondas, pincelado pela silhueta dos navios, estimulado pelo calor, por forçada que soe a noção de estímulo quando impressa no gostoso torpor da inactividade. Vem-me de há muito este hábito pouco invulgar. Se estou com a neura, ala para as bordas do oceano à cata do infinito com os olhos. Mas ontem nem sequer estava com a neura. E, admito, também gosto de saborear as esplanadas costeiras em estilo mais mundano, como seja deitando abaixo uma travessa de amêijoas à Bulhão Pato e emborcando umas cervejolas. Só que, por cá, não temos muito disso, das amêijoas falo, há coisas em que o Sul nos bate aos pontos. E com isto me estou a perder. Ora, o que eu queria dizer é que, ontem à tarde, tive vagar e disposição para algo que não fazia há muito. Olhar o mar através de um copo, manter fechado o livro que levava comigo, espraiar-me mentalmente num mundo sem barreiras. Chegaria, ao cabo de uma hora, para regressar retemperado à base. Mas não chegou.

Enfiado no trânsito, dei por mim a virar para o Passeio das Virtudes (sim, sim, acima da fonte), a descer a Rua de Belomonte, a virar para a Bolsa e à esquerda na Rua do Infante D. Henrique, a enfiar pelo túnel e a atravessar o tabuleiro inferior da Ponte Luiz I rumo ao outro lado da cidade (já sabem que, para mim, a divisão administrativa, tal como está, não tem razão de ser, andamos ainda a perder tempo com as manigâncias do tio Afonso III), justamente para me espraiar noutra esplanada. Cumprida a vocação marítima, fui empurrado pela vocação fluvial. Uma vez mais levei o livro, uma vez mais o livro não se deixou abrir. Bebi Porto tónico pela primeira vez na vida (aconselho vivamente, Porto seco com água tónica, muito gelo, meia rodela de limão...) e olhei a cidade. E olhei o rio. Fiquei duas horas nisso, pasmado com o morro da Vitória (ou do Olival), vidrado no morro da Sé (ou da Pena Ventosa), pasmado com o ondulante vaivém do Douro. À minha frente S. João Novo, acima S. Bento da Vitória, um pouco à direita S. Francisco, depois, subindo o olhar, S. Lourenço (a igreja dos Grilos, dela falarei um dia destes, como há muito está prometido), depois a catedral amortalhada por andaimes... Igrejas, igrejas, o casario. E a imponente Alfândega Nova, à esquerda, e o vale do Rio Frio, por trás, o Horto das Virtudes (as Virtudes, outra vez). E o triste espectáculo do Convento de Monchique em ruínas, mais para a esquerda. E a ponte amortalhada por andaimes (à direita, novamente). E os troços visíveis da cerca dita Fernandina. E o buraco onde desemboca o encanado Rio da Vila. E o Douro, a razão de ser da cidade, o motor do comércio e a rota da prosperidade, tanto para jusante como para montante. E os barcos rabelos para turista ver, e os outros barcos para turista navegar. E o casario. E os telhados, as clarabóias. As cores...

As cores, leram bem. Quentes, mornas, frescas, excitantes ou sedativas. De Verão, na mormaça da tardinha, o Porto não é cinzento. O Porto nunca é cinzento. Ser do Porto, isto é, sentir o Porto, passa por aqui. E as descrições que se conhecem, por mais bem conseguidas que possam parecer, são sempre pálidos reflexos. Porque sentir o Porto está no campo do inefável. Por mais que um poeta escreva sobre o amor, nunca saberemos na justa medida, se justas forem as medidas, o quanto amou. Ser do Porto é isso. É algo que nunca partilhamos completamente, porque não sabemos como fazê-lo.

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Com atraso, dou pela saída da blogosfera do blasfemo CAA, outrora o mouricida CAA. Mesmo sem concordar muitas vezes com eles, sempre tive um gosto especial pelo Mata-Mouros e, depois, pelo Blasfémias, menos neste caso, pois perdeu-se a unanimidade portista. O CAA demonstrou sempre uma atenção muito viva à realidade e um forte desejo de intervenção cívica, podemos até falar de paixão pelas ideias que defende. Não é preciso concordar para que tenhamos essa percepção. Vai fazer falta.

0 comments | domingo, julho 11, 2004

Muitos bloguistas de direita, que,enquanto tal, nada mais são do que isso - bloguistas -, têm sido grosseiros em relação à dirigente socialista Ana Gomes. Os ataques, quase todos, tresandam a machismo e são inconsequentes. Como não concordam com o conteúdo, atacam a forma, isto é, o estilo, isto é, a frontalidade, isto é, a coragem. Pegam nesses ingredientes, amassam-nos bem amassados e inventam um bolo em que a cobertura é feita de adjectivos indelicados. E fazem muito bem, porque, ao fazê-lo, revelam-se. Só a liberdade de expressão permite isso. Certo, para mim, é que quem escreve isto está muito acima desses detractores de meia-tigela.

0 comments | sábado, julho 10, 2004

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Vivemos tempos incaracterísticos. Não, este texto não é sobre política. É apenas dedicado à gastronomia. E é curto. Só quero dizer que está a decorrer, uma vez mais, no Porto, o Festival da Francesinha. Nunca lá fui, e creio que voltarei a não o fazer. O patrocínio é da cerveja Sagres, e, apesar de estarmos num país tão pequeno, não gosto nada desta globalização. Francesinha devia ser regada com Super Bock ou Cristal. Noutros tempos, o patrocínio da Sagres não seria possível. Depois, sou fundamentalista nesta matéria. Gosto de comer as ditas nos sítios adequados, as cervejarias. Mais: não existe a francesinha perfeita. Para mim, a melhor seria a da Cufra, com o molho do Chamiço. Está dito.

0 comments | sexta-feira, julho 09, 2004

"Lamentável episódio da vida política portuguesa" - Assim classificou Ferro Rodrigues, ao demitir-se de secretário-geral do PS, a patética actuação do presidente da República. A atitude é digna e, até, corajosa. Alguém esfregará as mãos, mas Jorge Sampaio não terá um sono sossegado. O presidente agravou a crise. Isso é algo que ninguém esquecerá.

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Quando votei num presidente da República, estava à espera de um estadista com opinião própria, que a soubesse ter em conta nas poucas ocasiões em que tal lhe é consequentemente permitido. O homem acabou de dizer que não é notário, mas é. Se eu quisesse um simples árbitro, tinha votado em Martins dos Santos, que sempre é portista. Jorge Sampaio, ao ser cúmplice da sinistra tomada do Governo pela dupla Santana/Portas, manchou de forma indelével o seu mandato. Este nunca deveria ser um dia histórico, mas o golpe de Estado que vivemos pode tomar, pela negativa, tal sentido. É um dia triste. Dia de um tempo em que faltam os grandes homens. Um tempo turvo, cinzento.

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Sobre uma das bandeiras mais agitadas pelos partidos da Situação (maioria o tanas!), o Barnabé tem feito os devidos esclarecimentos, com sucessivas fotos de apelo ao voto, em 2002, no então Durão Barroso. Mas há outro exemplo, tão ou mais caricato. Reconhecem o senhor da foto? Se estão habituados a ver debates parlamentares na televisão, é aquele deputado que está sempre atrás de Telmo Correia, ostentando um arzinho asséptico, misto de Beeker, Calimero e Steve Martin. Nunca diz uma palavra, praticamente não se mexe, presumivelmente pestaneja de vez em quando. É Manuel Cambra, antigo presidente da Câmara de S. João da Madeira, rei das rotundas e deputado eleito pelo círculo de Aveiro. Foi eleito por as pessoas desse distrito acharem que estavam por ele bem representadas? Terá sido coincidência o cabeça-de-lista chamar-se Paulo Sacadura Cabral Portas?

2 comments | quarta-feira, julho 07, 2004


Cumpre-se um ano desde que, passados uns dias a entender o que era isso dos blogues, dei à luz o Cerco do Porto. Não sabia porquê, ainda não sei. Nem interessa, pelo menos aos que possam ler o que despejo na blogosfera. Um dia, vendo que o tasco inicial definhava, decidi colocar-lhe um ponto final. Logo então, dei a entender que a porta dos blogues não ficaria fechada para mim. Nem me passava pela cabeça que demoraria tão pouco tempo sem aguentar os tremeliques que, vagueando pelos blogues que entretanto se tornaram correntes pontos de passagem, me dava a vontade de participar novamente nisto tudo. E criei esta Fonte das Virtudes. Umas vezes falta-me o tempo, outras a disposição, nem sempre as actualizações surgem quando deviam. Mas gosto. Chega para que valha a pena. Compreende-se, portanto, que queira presentear com flores os que têm pachorra para ler isto, seja na diagonal, na vertical ou na horizontal. Muito obrigado, e abraços para todos.

Pierre Auguste Renoir
Rosas e jasmim numa jarra de Delft

0 comments | terça-feira, julho 06, 2004

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Na senda do texto anterior, agora com frases roubadas ao Filinto Melo, antes e depois.


"Já me tinha esquecido do prazer que sinto em andar pelo Porto."

=

"Already pleasure had forgotten it to me that I feel in walking for the Port."

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Nunca tinha comprado um livro desses que integram as promoções de jornais. Por motivo nenhum em especial, talvez por algum fenómeno semelhante ao que me leva a torcer o nariz aos CDs piratas, porque anulam o prazer do objecto verdadeiro, da real thing. Claro que as tais edições são absolutamente legais, mas falta-lhes qualquer coisa. Não quer isso dizer que eu seja um bibliófilo radical, pois o que me interessa nos livros, em primeiro lugar, é o que neles está escrito. Foi por isso que, outro dia, ao ver no café muita gente com uns calhamaços de capa alaranjada, fiquei curioso e, ao ver que era o "Moby Dick", de Herman Melville, decidi comprar (nunca tinha lido além de extractos, e é uma daquelas aventuras eternas que fazem soar sininhos nas nossas cabeças). Em má hora o fiz. A tradução é do mais bera que há. Um lixo. Reles. A dita promoção era do "Público", mas podia muito bem ser de outro jornal qualquer. Não são os jornais que estão em causa, porque as redacções nada têm a ver com iniciativas de marketing. O problema é que as iniciativas de marketing, tão importantes, actualmente, no negócio da Imprensa, estão a cargo de pessoas que nada têm a ver com jornais.

Neste caso, a tradução foi feita por alguém que não sabe Português, por alguém que traduzia e cozinhava ao mesmo tempo ou por um programa informático. Esta última possibilidade ocorreu-me há pouco, ao verificar que o Mar Salgado tem um dispositivo de tradução e ao experimentá-lo. Eis uma amostra do resultado:

"Não consigo deixar de pensar que ontem fui presenteado com uma tragédia grega."

passa a

"I do not obtain to leave to think that yesterday I was presenteado with a tragedy Greek."

Este "Moby Dick" é parecido.

0 comments | segunda-feira, julho 05, 2004



Diz o cherne: "Deixo estas funções num momento em que há condições de estabilidade política e de crescimento económico no nosso país".

Diz o cherne: "Existe na Assembleia da República uma maioria com forte vontade de concluir o programa aprovado para esta legislatura".

Digo eu, que nem sou grande comedor de peixe: que se metam sardinhas em latas é compreensível, peixe de dimensões pequenas que é, tão pequenas que duas ou três, enfiadas dentro de um pão, são que nem um banquete para muita gente. Ora, o cherne é peixe de largas dimensões, como se vê na foto, impróprio para enfiar, da cabeça ao rabo, em lata que caiba no bolso de trás das calças. Requer, já se está a ver, uma grande latosa. Ou seja, no momento em que dá à sola, gerando uma crise política, sai-se com discursos de estabilidade. E ainda se dá ao luxo de tentar pressionar o presidente ou enganar a opinião pública, falando da maioria que existe na Assembleia da República. A tal maioria de carneiros que seguiram o cherne mas não são agora capazes de seguir ninguém, tal a quantidade de cola que puseram entre os traseiros e os assentos.

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Repararam no Paulinho das feiras? Parecia estar numa bancada do Estoril Open. Terá sido a primeira vez que foi à bola?

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Repararam que a esposa de José Barroso agitava, denotando uma coisa parecida com convicção, uma bandeira das de pagodes?

0 comments | domingo, julho 04, 2004

Eu não ia escrever nada sobre isto, para já, mas as buzinas na rua estão a mexer com o meu sistema nervoso.

Portugal PERDEU. Foi incapaz de cumprir o único objectivo possível numa final, foi o primeiro dos últimos, como reza o chavão aplicável a estes casos. O guarda-redes teve 85% (oitenta e cinco por cento) da culpa pelo golo sofrido, e estou a ser benevolente na contabilidade. Vítor Baía, muito provavelmente, teria outra autoridade num canto batido para a pequena área. "Lá está a cegueira portista", pensarão. Não quero saber, nem estou a responsabilizar o Ricardo, que se transformou em herói por causa dos penáltis contra a Inglaterra. Um herói ao estilo mousse de chocolate Alsa, basta juntar água e fica livre de críticas.

A verdade é que o jogo de ontem fez renascer o velho Scolari, talvez o verdadeiro. Nem sei como classificar um treinador que deixa o Pauleta a jogar tanto tempo, com todo o país ciente de que o açoriano apareceu no Euro sem qualquer valia competitiva. Falha quando está em frente à baliza, compromete todas as jogadas quando recebe a bola fora da zona de tiro. Nuno Gomes devia ter sido titular ou, pelo menos, devia ter entrado em jogo muito mais cedo. Mas Scolari está no Olimpo de quase todos os analistas portugueses, que nem se lembram de onde o Olimpo fica...

Claro que a Grécia tem mérito, claro que a Grécia foi superior, porque ganhou, cumprindo na perfeição uma estratégia clara, feia mas eficaz. O Euro foi uma vitória a muitos níveis, a festa que se viveu ao longo da prova é memorável e foi muito bonita. O jogo de ontem, a final, foi patético.

Podem os nossos ter levado o esforço ao limite, o certo é que falharam. Nestas coisas, a culpa é do treinador. É uma culpa muitas vezes inglória. Neste caso, a culpa é, claramente, do treinador. Se Portugal tivesse tido a sorte do seu lado, é evidente que estas coisas não estariam agora a ser ditas, mas nem por isso deixariam de ser verdade. Portugal teve um percurso espectacular, até à final. Na final, falhou. É mau? Podia ser bem pior, e espero que o país - não só o futebol - saiba retirar dividendos deste grande momento. Mas o certo é que a Grécia é campeã. Estar por aí a buzinar não faz grande sentido. Ouvir o Roberto Leal a cantar o hino faz muito menos sentido. Pedro Santana Lopes primeiro-ministro, sem eleições, não faz sentido nenhum.

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0 comments | sábado, julho 03, 2004

Sob o título "Notáveis do Porto apoiam Santana", publica "O Comércio do Porto", em primeira página, uma foto de João Loureiro, Luís Filipe Menezes e Sílvio Cervan. Notável não é o mesmo que politiqueiro. Não é o mesmo que nenhum dos três retratados. Não é aquilo. O Porto sempre teve e terá gente notável, mas não são esses. Ao cabo de 150 anos, "O Comércio do Porto" devia saber isso.

0 comments | sexta-feira, julho 02, 2004

Este é o tempo

Este é o tempo
Da selva mais obscura

Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura

Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura

Este é o tempo em que os homens renunciam.


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"An actor is at most a poet and at least an entertainer."

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Noto que a blogosfera anda desatenta. Pelo menos, ainda não vi qualquer referência à entrevista da ministeriável Cinha Jardim. É o que faz não lerem as publicações de referência deste país, no caso a revista "Correio Mulher", integrada no jornal "Correio da Manhã". Transcrevo a parte que interessa:

"Agora que se fala da possibilidade de Santana Lopes assumir o cargo de primeiro-ministro, qual é a sua opinião?
"Não vejo o Pedro como primeiro-ministro. Tem mais perfil para presidente da República mas, se tiver de assumir o cargo... Deus escreve direito por linhas tortas.
"E o seu amigo Paulo Portas? Dava um melhor primeiro-ministro?
"O Paulo sim, tem perfil para primeiro-ministro, reúne todas as condições que considero necessárias para governar o nosso País. No entanto, não deixo de pensar que esta coligação, Paulo e Pedro, está no meu horizonte político."

Eu li! Eu estou a par da actualidade. Esta actualidade repugna-me.

1 comments | quinta-feira, julho 01, 2004

Os festejos da qualificação de Portugal justificam que ninguém (ao que parece) tenha ouvido as declarações do presidente da República, após o Portugal-Holanda, mas não explicam que a televisão pública as tenha editado, a posteriori, de modo a que não volte a ouvir-se o que importa. Sobre o futebol, o país é unânime, pelo que não é do júbilo demonstrado que quero falar, mas sim da circunstância de Jorge Sampaio ter dito esperar que a capacidade de mobilização dos portugueses se mantenha, depois do Euro, para outras decisões mais importantes. Às vezes, ouvimos o que queremos ou interpretamos como queremos. Como eu e uma multidão de cidadãos, indignados com a fantochada política que Portugal vive, queremos eleições antecipadas, é natural que se possa ver ali um sinal de que a dissolução da Assembleia da República é, efectivamente, um cenário possível.