4 comments | terça-feira, janeiro 31, 2006

Mudanças no cantante. Apeteceu-me, não sei porquê, pôr a tocar a ária "Amor ti vieta", da Fedora, de Umberto Giordano. Gostava de usar uma interpretação, que conheço, de Luciano Pavarotti, mas as limitações técnicas, já o disse... Pavarotti, desdenhado pelos (do costume, em todas as áreas) que não gostam de fenómenos de massas, dá à melodia a límpida espontaneidade que lhe advém de ser um predestinado. Por tal, não é ultrapassável. Ali, ao lado, toca o que se arranjou, e nem sei quem canta (poderia deitar-me a adivinhar...). Piquei a música num site pindérico, coreano. Pirataria oblige.

Aqui fica, portanto, "o amor proibe-te de não amar..."

Amor ti vieta di non amar.
La man tua lieve che mi
respinge,
cerca la stretta della mia man;
la tua pupilla esprime: "T'amo"
se il labbro dice:
"Non t'amerò!"

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As presidenciais vão longe, Cavaco já vai parando por Belém, Sampaio planeia a reforma e Portugal está, claro, na mesma. Que dizer, então, sobre a eleição, quando quase tudo foi dito? Só me ocorrem, como motivo de arranque, alguns disparates que se ouvem por aí, efeito corrente de quando os analistas profissionais se vêem na necessidade de analisar tudo e mais alguma coisa. Não o disse aqui, nem teria de o dizer, mas votei em Manuel Alegre. Porque, do leque de opções que tinha no boletim de voto, entendi ser a melhor escolha para o cargo. Não me interessa dizer porquê, apenas notar que dificilmente serei o único que assim fez, pelo que acho ridículo que tantos comentadores insistam em ver no tal milhão e duzentos mil votos descontentamento com este ou com aquele líder político, descrença nos partidos ou uma forma de castigar Mário Soares.

Quanto à dúvida sobre o que poderá fazer Alegre com os seus 20%, respondo que nada. A candidatura fez todo o sentido num contexto específico, que deixou de existir na noite de 22. A heterogeneidade de gente que se identificou com a candidatura nunca poderia resultar num partido, nem sequer num movimento de cidadania que não se sabe bem o que é, além de veículo para a sede de protagonismo de alguns. Só uma eleição presidencial, pela essência do que está em causa, permite essa heterogeneidade.

A existência de dois candidatos saídos do mesmo partido resultou, apenas, da ineficácia socialista na preparação da eleição presidencial (com tanto tempo que tiveram...), como já sucedera por ocasião das autárquicas, pródigas em tiros nos pés dados pelo aparelho do PS (o Porto, com o seu líder da oposição sedeado em Bruxelas, é um entre vários exemplos). Foi essa permanente indecisão que fez pender para o lado de Cavaco os tais votos oscilantes, que sistematicamente ditam os favores da bipolarização governativa em que um dia caímos. Não é honesto, porém, que se queira ver em Manuel Alegre a causa da derrota da esquerda, como o deram a entender algumas vozes más perdedoras, como a de Ana Gomes, ou o triste episódio protagonizado por José Sócrates (triste de todas as formas, soubesse ele, ou não, que estava a interromper o discurso do segundo candidato mais votado).

Como não é nada honesto, também, que queira ver-se no resultado desta eleição uma derrota copiosa ou o triste fim de Mário Soares. Goste-se ou não, Soares existe para perdurar, algo que não se passa com Cavaco. Ou Sócrates. Ou José Barroso. Ou Guterres. Ou até Sá Carneiro, que a desdita transformou em mito sem que chegasse a ser figura histórica da dimensão de Soares ou Cunhal. Mário Soares é, evidentemente, mais do que uma eleição contra Cavaco. Embora a escolha de Soares pelo PS me tenha desagradado, porque anacrónica e sintomática de uma lógica aparelhística e de pequenas vinganças, o certo é que ele aceitou (ou quis) ir à liça numa situação em que, claramente, remava contra a maré. Mostrou-se combativo e saiu com dignidade. O tipo de discurso que usou ao longo da campanha foi apenas uma estratégia, tão válida como a de andar por aí mudo e quedo, sem fazer ondas nem comer em público, ou, pelo menos, em frente às câmaras de televisão. Soares tinha um propósito difícil, falhou-o com naturalidade e sai do processo sem uma beliscadura. Se o dito clã Soares, ou o filho, fica com o futuro comprometido, é coisa que nada me interessa.

Ganhou Cavaco. Como qualquer outro faria, usou o chavão de ser o presidente de todos os portugueses. Retórica de pacotilha. É o presidente da República. Ponto. Ganhou Cavaco, não com a facilidade que terá chegado a sonhar, mas com autoridade. À primeira volta (não ganharia uma segunda, é quase certo). Fiquei triste por ele ganhar, pensara-o fora de cena há dez anos. Dele, enquanto primeiro-ministro, ficaram o autoritarismo e o autismo, o favorecimento das elites (não me venham cá com as reformas que subiram), o início do afundamento da classe média em créditos de todo o feitio, o desbaratar do maná europeu em obras públicas mal feitas...

Há dias, um diálogo de ébrios, encostados a um balcão de café, pareceu-me revelador. "Religião não se discute! - dizia um - Cumpre-se e mais nada", ao que o outro somava uma pitada de sabedoria: "É como a política; vota-se sempre no mesmo e, depois, logo se vê". Pensei eu que foram assim decididos muitos dos votos que elegeram Cavaco Silva. Não o quis para presidente da República. Mas também não é o papão. Não é nenhum Le Pen, não é nenhum Berlusconi. Bem ou mal, a barca continuará a andar, até porque não faltam pontos de convergência entre o que o novo presidente defende e o que o primeiro-ministro faz.

Até isto contribui para que estas eleições tenham sido absolutamente atípicas. Sócrates, que seria, em tese, o grande derrotado, acaba por não o ser, porque não terá de alterar os rumos que traçou para a governação. Perdeu o país? Também não. O país tem vindo a perder, desumanizando-se, há muito tempo. O dia 22 de Janeiro foi apenas mais um episódio.

1 comments | sexta-feira, janeiro 27, 2006

Queria pôr a tocar no cantante, associando-me ao frenesim deste dia, o introitus do Requiem. De Mozart, claro. Mas, como já expliquei, as limitações técnicas obrigam-me a recorrer a música que já esteja disponível na Internet, pois não tenho onde alojar os meus ficheiros de som ("ficheiros de som" liga mal com arte, mas enfim...), e as únicas interpretações completas que encontrei eram muito, muito fracotas. E com isto digo, também, que ainda aqui ando, afastado do blogue por circunstâncias várias, mas pronto para continuar a carburar.

3 comments | domingo, janeiro 22, 2006

O que aconteceu há pouco, com José Sócrates a iniciar o discurso mal Manuel Alegre começara a falar, é uma ignomínia. Uma vergonha. Na desorientação da derrota, a revelação do carácter.

Adenda: oficialmente, o secretário-geral do PS "não sabia" que Manuel Alegre estava a falar; oficialmente, é um amador.

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http://app.uol.com.br/radiouol/player/frameset.php?opcao=umamusica&nomeplaylist=000815-1_11%3c@%3ePolítico%3c@%3eTanto_Mar%3c@%3eChico_Buarque_de_Holanda%3c@%3e0152%3c@%3eChico_Buarque_de_Holanda%3c@%3ePOLYGRAM%3c@%3ePhillips"target=_new">Tanto mar, versão 2


Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

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Ocorre-me esta magnífica canção. Roubei o link ao extinto Blog de Esquerda.

0 comments | sábado, janeiro 21, 2006

Depois de uma nota de consciência, obrigatória, este blogue decidiu não se pronunciar sobre esse assunto que amanhã dominará as atenções. Só quero dizer que isto do dia de reflexão é uma parvoíce das antigas.

1 comments | terça-feira, janeiro 17, 2006

Aquela coisa é um ecrã gigante, deve ter um nome específico, ignoro qual. Quem sai da VCI para o Campo Alegre, enquanto pena no trânsito, é obrigado a olhar para lá, as cores são vivas e a luz intensa. Como lá passo muitas vezes, fico aborrecido outras tantas. Trata-se de um alegado espaço de divulgação da Câmara do Porto, estrategicamente colocado à entrada da cidade, supostamente útil para os forasteiros que chegam. Nada disso. É apenas mais um veículo de propaganda da parolice instalada nos Paços do Concelho. Outro dia, estava lá, em letras gordas, a notícia de que a Câmara suspendeu um funcionário que fazia telefonemas particulares de um telefone do município, em excesso e fora das horas de serviço. Hoje, lia-se que Rui Rio está empenhado em combater a corrupção. Há tempos, era a gravíssima história do jardineiro que usou um carro da Câmara para fazer um transporte de tralhas lá de casa, ou coisa parecida. Hoje, lê-se que Rui Rio está empenhado em combater a corrupção. Outra informação utilíssima era a de que o site da CMP, também transformado num panfleto de mau gosto, bateu os recordes de visitantes. Qualquer dia, seremos informados da cor das cuecas do presidente. Legitimamente eleito, pela legítima inocência (eufemismo) de quem nele votou.

1 comments | segunda-feira, janeiro 16, 2006

Das utilidades da cabeça, é do coração que vem a mais importante. Sorrir. Se sorrires ao ler este nada que aqui deixo, aliviando a avalancha de leituras que te apoquenta, este blogue ganhou o dia.

* coiso = blogue, com a licença de Vossas Excelências.

1 comments | sábado, janeiro 14, 2006

Nestes dias, não me sai nada para escrever aqui. Se juntar à desculpa da falta de tempo a indisponibilidade mental, talvez chegue à definição de "tempo psicológico": não me apetece ter tempo para escrever na Fonte.

PS - isto passa já.

0 comments | segunda-feira, janeiro 09, 2006

Foto de POS
Sé do Porto, pormenor

Caro Tito,

Mea culpa, mea culpa... já há tempos tinha reparado no teu novíssimo Blog das Ignorãças, mas a preguiça de blogueiro impediu-me de assinalar a mudança de casa, já para não falar do marasmo que regularmente se apossa da coluna de links, ali ao lado. Mas um poema do Jorge de Sousa Braga dedicado à Fonte das Virtudes é, claro, algo que me enche as medidas.

Como convirá, respondo com a minha terra. A foto que abre este post é um pormenor da fachada da Sé do Porto e, naturalmente, é o barco ali esculpido que interessa. Trata-se da representação de uma coca, embarcação típica do Báltico que chegava às águas do Douro, nos primórdios do trato medieval. Várias das características técnicas deste tipo de navio, apto a navegar em águas atlânticas, ao contrário das galés mediterrânicas, estiveram na base das caravelas com que os portugueses abraçaram o mundo.

Também as cocas têm a sua "petite histoire". Numa disciplina sobre economia medieval, no currículo da licenciatura em História pela FLUP, é comum a professora incluir nos exames uma série de perguntas requerendo respostas sintéticas, algumas delas a pedir meras definições. Assim foi o caso, há uns anos, quando se pedia, simplesmente, "defina coca". Ora, houve um bacano qualquer que, desconhecedor da matéria, aproveitou para mostrar algum sentido de humor (imagino eu que não tenha sido mera ignorãça), respondendo: "Substância ilícita que se consome em momentos de lazer".

Nota: este post vai, também, com um abraço ao Domingos, cliente ocasional desta casa, que, mal tem oportunidade, aproveita para dizer que as pedras usadas para construir a catedral portucalense foram extraídas das pedreiras de Mosteirô, Santa Maria da Feira. A terra dele, pois...

2 comments | sexta-feira, janeiro 06, 2006

Devia estar stressado, entre tantas coisas porque hoje comecei a regrar o consumo de tabaco, pelo menos no local de trabalho. Um cigarrito a cada hora que passa, e a verdade é que não me custou nada por aí além, atendendo a que o normal seria deitar um maço abaixo, só neste período, sem dar por isso. Mas começo este post com o mais simpático de todos os smileys e, sem nada que queira agora por cá dizer, opto por tornar o ambiente mais sereno e mudar a música disponível no cantante. Agora, ouçam o tema Hoppípolla, dos islandeses Sigur Rós.

Nota: Era suposto ver-se o video-clip, mas a minha inabilidade apenas faz aparecer uma tirinha de imagens. Sei que compreendem.

Nota # 2 - Sim, sim, é verdade que percebo pouco disto... Mas reparei agora que, depois de pôr o cantante a tocar, se se fizer uma clicadela dupla com o rato sobre a imagem, obtém-se, gostaria de dizer que por artes mágicas, uma visão "full screen" do video-clip. Experimentem, que vale a pena! Digo eu de que.

0 comments | quarta-feira, janeiro 04, 2006

O que mais me choca, nesta questão de os media poderem favorecer um ou outro candidato, são as pessoas que percebem do assunto e, mesmo assim, debitam sentenças moralistas aos pacotes, dizendo que não é nada disso ou que, afinal de contas, é tudo ao contrário.

Nisto da informação há uma salutar inevitabilidade: uma notícia é, sempre, aquilo que um jornalista vê. Não há duas pessoas que vejam exactamente a mesma coisa quando olham para o mesmo focinho do mesmo porco. O jornalismo asséptico é mau jornalismo, e a segurança da opinião pública reside na diversidade dos olhares. Claro que isso, que aqui defendo, nada tem a ver com a manipulação da informação ou a informação como forma de promover interesses de quem a veicula. Falo de sensibilidade, de estilo, de disposição, que diabo!, do carácter humano que objecta à normalização do pensamento.

Porém, o que hoje vi num canal televisivo, em que assisti à sucessão de peças sobre a azáfama dos candidatos, não foi nada disso. De todos, só um apareceu em planos contrapicados, só na peça sobre esse havia planos de corte mostrando belas paisagens e obras grandiosas, só no discurso desse não andaram à cata daqueles momentos grotescos que, disfarçados de folclore de campanha, furam fundo na pele dos candidatos. Só aí a voz off do repórter não introduzia as declarações do candidato de forma excessivamente opinativa, só aí o repórter aparecia, ele mesmo, em pose de estado, calcorreando os campos dentro da sua melhor fatiota...

Perceber como as coisas se fazem é fácil. Por isso é que causa algumas náuseas ver gente que, farta de saber como se faz e vendo o que se vai fazendo, levanta alto o branco estandarte da pureza patriótica. Favorecidos por um sistema que, eventualmente, ajudaram a construir, eram bem mais espertos se ficassem calados.

2 comments | terça-feira, janeiro 03, 2006

Hoje são 3 de Janeiro, todos o saberão, e é só fazer as contas para se saber que anteontem foi o primeiro dia de 2006. A imagem que aqui mostro é a capa do duplo CD do Concerto de Ano Novo da Wiener Philharmoniker, que decorreu há dois dias, justamente, no Großer Musikvereinssaal da capital austríaca, sob a direcção de Mariss Jansons. Claro que o disco ainda não saiu, mas será o habitual sucesso de vendas e poderão aqui saber o que há a saber sobre o assunto. O Concerto de Ano Novo poderá parecer, para os eruditos mais empedernidos e patéticos, uma espécie de "pop" da música dita clássica. Não penso assim, evidentemente, O que ali se passa é a grande festa da música, que, ano após ano, tem contribuído para alargar os horizontes musicais de muita gente. É praticamente impossível não sorrir enquanto se escutam valsas, polkas e afins, é muito difícil não sonhar como será ter o privilégio de assistir ao vivo a um dos menos acessíveis espectáculos deste planeta. Ora a televisão pública portuguesa, que cumpria a boa tradição de transmitir o concerto na tarde de 1 de Janeiro (em diferido, pois a festa decorre na manhã vienense, mas com curto intervalo), teve por bem mandá-lo para o ar hoje de madrugada, isto é, até perto das três da manhã. Ou seja, só depois de um debate em directo, pautado pelos despautérios de Maria Filomena Mónica, é que houve música, situação que, desde logo, afastou (e desiludiu) muitos potenciais telespectadores. Em suma, a RTP ignora, sistematicamente, qual o significado de "serviço público", embora insista em promover essa prerrogativa em cantilenas que povoam os programas popularuchos da manhã e da tarde.

Irritado com eles, fico em paz com os leitores da Fonte das Virtudes, deixando a tocar, no "cantante" ali do lado, a Marcha Radetzky, de Johann Stauss I (o pai do outro Johann, o mais famoso), um dos momentos emblemáticos dos concertos vienenses.

1 comments | segunda-feira, janeiro 02, 2006

A não perder a melhor anedota de loiras dos últimos tempos (que me perdoem as ditas).

0 comments | domingo, janeiro 01, 2006

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Aí continuam eles, já depois da tarefa cumprida, insistindo em escalar fachadas, cansados que estarão de descer pelas chaminés. Fotografados em casas do Porto, no primeiro dia do ano, fazem recordar uma outra febre que por aí andou em 2004. Ainda se vêem, aqui e ali, bandeiras esfiapadas que persistem desde a euforia futebolística de então, mas não estarei enganado ao dizer que 2006 é tempo de renovação. É ano de Mundial, na Alemanha, e de Europeu de sub-21, cá. Cidadãos e mercadores de estandartes aguardam, apenas, pelo apelo patriótico de um qualquer Marcelo ou Scolari. E as misérias voltarão a vestir-se, festivamente, de vermelho e verde.