| quinta-feira, abril 29, 2004

Este textinho chama a atenção para um novo blogue, de sua graça Avenida dos Aliados. Soube dele pelos próprios, que me enviaram um simpático mail. E eu, que até resisto a estas coisas da partilha de links só porque sim, não posso esquivar-me. É que é mesmo muito bom. Um blogue de qualidade, pleno de uma digna altivez portuense que os das baixas latitudes têm dificuldade em compreender. A forte noção de identidade dos do Porto, esta coisa de a cidade nunca ser uma maria-vai-com-as-outras, não é novidade nenhuma. É de sempre, e poderei falar um pouco mais dela quando, numa das minhas evocações de lugares, escrever sobre o Colégio de S. Lourenço dos Jesuítas.

O Jaquinzinhos, liberal recalcitrante, anda num sino a ler o Diário da Assembleia Constituinte. Gostaria ele, porventura, que não houvesse tempos pós-revolucionários, com tudo o que têm de abandalhado, caricato e hesitante. Gostaria ele, porventura, que não houvesse revolução. Que o país tivesse seguido uma evolução na continuidade, que, quiçá, lhe permitiria agora arranjar assento na Câmara Corporativa. É um pândego.

| quarta-feira, abril 28, 2004

Os links ali à direita já estão mais actuais. Mas ainda há falhas...

A ideia não antecedeu o surgimento deste blogue, foi-se formando depois e só agora começa a ganhar corpo. Uma vez por outra – gostaria que fosse semanalmente, mas não poderei garanti-lo –, haverá aqui apontamentos sobre lugares da cidade do Porto. Lugares com história, histórias de lugares do Porto, a começar pela Fonte das Virtudes, que a isto dá título. Excepcionalmente, gostava de associar a estes textos fotografias dos locais, mas não sei como se faz. Paciência.
2004.04.29 - Entretanto, como já terão reparado, aprendi. Aqui fica o agradecimento a todos os que ajudaram a reduzir o meu grau de ignorância.

FONTE DAS VIRTUDES

A mancha verde, a rasgar o casario, tem o seu quê de oásis. Um vale desenhado em socalcos, onde sem esforço podemos imaginar vinhedos durienses, de tal forma que até o Douro ali está, pouco adiante, reflectindo as luzes da tardinha. Estamos num sítio a que a toponímia pôs título de Passeio das Virtudes, em tempos lugar de chiques deambulações, hoje miradouro partilhado por velhos com baralhos de cartas e garotos com sprays de tinta. Estamos naquilo a que se chamava morro do Olival, em locais por onde passava a muralha fernandina, na encosta que se vira para Poente. Os portuenses estarão, em princípio, familiarizados com o sítio, mesmo ao lado da casa que alberga a emblemática Cooperativa Árvore. Esse passeio é escorado por impressionante paredão – não o imaginamos lá de cima –, erguido, tal como a fonte, no século XVII, e sujeito ao longo dos tempos a diversas obras de consolidação. Estando nós no jardinzito a que já chamámos Passeio das Virtudes, teremos de nos aproximar do parapeito e olhar para baixo para ver o chafariz, ao fundo de larga rua asfaltada que torna o acesso fácil. É melhor, portanto, que nos aproximemos. Da fonte, digamo-lo já, não cai uma gota, mas, se nos aproximarmos, ouvimos facilmente o murmulhar da torrente em canalizações subterrâneas, água que, antes, brotava em abundância de várias minas escavadas na rocha. Havia, nas cercanias, umas relíquias do mártir Santo Estêvão, certamente milagrosas, e terá sido por essa circunstância que a crença popular atribuiu às águas idênticas propriedades, ou seja, virtudes, fossem elas terapêuticas ou profilácticas. No século XVII, a fonte que ali se ergueu era conhecida em todo o reino, pela monumentalidade. Claro que, nesses finais da centúria de seiscentos, Portugal era já o que hoje é, país periférico sem grandes riquezas, e todos sabemos que basta entrar em Espanha para que o nosso património arquitectónico assuma, pelo processo de comparação, a dimensão que realmente tem. É uma interessante fonte barroca, onde, quase ao nível do chão, a água saía das bocas de duas carrancas. Ao centro da decoração, perfeitamente simétrica, há uma lápide, mal conservada (agora ilegível), abaixo de um nicho vazio, este ladeado por duas torres. No nicho esteve uma imagem de Nossa Senhora (das Virtudes, naturalmente), que, em conjunto com os castelos, formava as armas do Porto. Terá uns dez metros de altura, a fonte, e, se lhe virarmos as costas, deslumbramo-nos com a paisagem. O dito vale, a tal mancha verde no casario, desemboca em Miragaia, frente ao conhecido edifício da Alfândega Nova, onde fizeram uma coisa chamada Museu dos Transportes, quando teria tido toda a lógica se o tivessem reconvertido num digno museu da cidade, algo que teima em não existir, por inépcia dos políticos, resumindo-se a núcleos dispersos, como o recentemente inaugurado Museu do Vinho do Porto. Mas isso são contas de outro rosário. Em 1789, o padre Agostinho Rebelo da Costa, um dos primeiros historiadores do Porto, elegia o local como um dos mais aprazíveis da cidade, de onde se podeia avistar, “de hum só golpe, vista de Cidade, de Mar, de Rio, Navios, Montes, Campinas, Quintas e Palácios”. E, de certo modo, continua a ser. Só é pena que da fonte já não corram as águas milagrosas, em cujas virtudes poderíamos, ainda hoje, mergulhar as nossas misérias.

| segunda-feira, abril 26, 2004

Há um link que ando para fazer há muito tempo e que, por um ou outro motivo, isto é, devido a diferentes estados de preguiça, tem sido adiado. Justifica-se, agora, após a conquista de mais um título pelo F. C. Porto. É O Portal dos Dragões, site mantido por José Carvalho, um portista como poucos, que, sem fins lucrativos, mantém o melhor lugar da net com informação sobre o clube, já que o site oficial é limitadíssimo para quem não paga...

| domingo, abril 25, 2004

A um cego, dos que não querem ver, escapará a evidência de que a grandeza competitiva do F. C. Porto é uma das consequências do 25 de Abril. Antes, a utilização do futebol como forma de alienação de um país embrutecido e amordaçado, a exaltação do pontapé na bola como um dos três éfes estruturantes do nosso atraso, era consolidada pelo proteccionismo de Estado a dois clubes lisboetas, um por reunir a simpatia das elites que gravitavam em torno de Salazar (Sporting), o outro (Benfica) porque, sendo muito popular, contribuía para a manutenção de um bem-estar condicionado das massas. O paradigma desse proteccionismo foi o impedimento, pelo Estado, da ida de Eusébio para Itália, mas a máquina era muito mais poderosa do que isso. Até “A Bola”, órgão oficioso do benfiquismo, comentava com frequência os roubos de que eram vítimas os portistas, que, por regra, já tinham meio jogo perdido no momento em que atravessavam o Douro. No Portugal democrático, essa viciação do jogo terminou. E, se os que ainda vivem das reminiscências de glória têm dificuldades em engolir isso, atribuindo todos os desaires a uma entidade abstracta a que agora chamam sistema, as gerações mais novas começam a ter dificuldades em admiti-lo. Para elas, a realidade de o povo ser empurrado para ser do Benfica soará tão estranha, por exemplo, como a circunstância de, na década de 1960, quando tudo acontecia por esse mundo fora, a maioria da juventude portuguesa ter em António Calvário o mais cintilante de todos os ídolos. O poder do F.C. Porto, resultante de uma estrutura altamente profissionalizada e organizada, por contraste com a bandalheira em que outros clubes vivem permanentemente, é consequência do 25 de Abril. Claro que não é a mais importante, nem perto disso. Mas é. O F.C. Porto é estandarte do sistema democrático, pelo que faz todo o sentido festejar mais um título quando se comemora o trigésimo aniversário da queda do Estado Novo.

Mas que é que eu estou para aqui a fazer?... Somos campeões e pronto. Campeões, campeões, nós somos campeões! Para assinalar mais um título, que devia ser conquistado hoje mas foi abreviado pela inépcia dos lagartos, aqui deixo um Poema, com P grande (o fanatismo explica tudo...), alusivo à coisa.

Allez, Porto, allez
Nós somos a tua voz
Queremos essa vitória
Conquista-a por nós

| sexta-feira, abril 23, 2004

Há uma inefável força que me leva às coisas onde aparece o nome do esplendoroso F. C. Porto. Vá lá saber-se o quê, também não vem ao caso. Mas não estou aqui para falar de futebol. Sucede que, ao ler este apontamento de Maria Manuel Leitão Marques, fui reencaminhado para aqui. Emocionado, fiquei a perceber que a blogosfera é, realmente, uma força viva e útil.

| quinta-feira, abril 22, 2004

A violenta, sob máscara humorística, objurgatória de Ricardo de Araújo Pereira a Miguel Sousa Tavares, por causa da adopção de crianças por casais homossexuais, é um pouco fedorenta. Não por causa da adopção propriamente dita, que não me assusta, desde que surja como gesto solidário e não como forma de compensação semelhante às que levam à existência de grande comunidade gay no submundo da canicultura. Não me oponho, mas também não levanto o estandarte do politicamente correcto. O que me incomoda é a sublimação da espécie humana, com raizes firmadas numa distinção entre animais irracionais e racionais, típica do cientismo oitocentista e absolutamente desadequada nos tempos que correm. O homem lê livros e come à mesa? Grande merda!... Os “cães comem o seu próprio vomitado” e “há animais que comem as suas próprias crias”? Espantoso!... Mas não há animais, além da espécie que lê e usa talheres, que matem semelhantes para lhes roubar uns vinténs, que promovam guerras para sacar petróleo e continuar a dominar o mundo, que não forneçam medicamentos gratuitos a África para que a indústria farmacêutica continue a engordar, que façam explodir inocentes a torto e a direito, que prendam semelhantes por delitos de consciência, que matem semelhantes ao abrigo de uma forma de impunidade mascarada de justiça...
Ler livros é bom, comer à mesa é bom. Mas o maior erro do homem é a presunção de ocupar um lugar à parte na Natureza.

JPP aprende com Saramago: votar é uma canseira.

FCP

Nem Arsène Lupin, o gentleman cabrioleur, conseguiria roubar com tanto refinamento como o senhor Merk, dentista de profissão, ou seja, rotinado em métodos de tortura. Fora isso, o povo é sereno.

| quarta-feira, abril 21, 2004

Em casos como esta história do apito dourado, um dos insanáveis males, porque inevitável, é a febre na recolha de comentários. Numa fase em que ninguém sabe nada de mais, há, normalmente, o comentário boçal e o comentário banal. O boçal é o que aplaude o que ainda não é para aplaudir, do estilo “eu bem dizia que o sistema anda para aí” ou “o mal mora para cima do Mondego”, o banal é o que se congratula com as acções da polícia, como se agir não fosse a obrigação deles. A seu tempo, resguardados da febre mediático-imediatista, surgirão factos merecedores de comentários minimamente construtivos. Para já, vão-se ouvindo as atoardas do costume, como o discurso que clama pela limitação de mandatos dos dirigentes desportivos, como se de instituições públicas se tratasse (safa, que até pareço liberal!...). Claro que não pensariam assim se não houvesse um clube dominador, no futebol português, e se esse domínio não se confundisse com o (longo, é certo) consulado de determinado dirigente.

P.S. – Defendo há muito, isso sim, a limitação de mandatos no poder local, mas isso é outra história.

| domingo, abril 18, 2004

Há dias, quando trepava ao Morro da Sé para dar uma volta pelo locais onde nasceu o Porto, subiu-me à cabeça a primeira memória que tenho de um historiador da Invicta. Não dos mais importantes, é certo, mas, sem dúvida, dos mais apaixonados. Como ultra-apaixonado que era, o já desaparecido Xavier Coutinho, padre e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, não seria, provavelmente, um estandarte do rigor. Mas do que me lembro é de vê-lo na televisão, quase exaltado, a dizer que “o Porto é a cidade mais linda do Mundo!”. Todos sabemos o quão relativas são estas afirmações, fala-se da cidade como das mães e, quando vemos outros a fazê-lo, compreendemos, com ternura, a dimensão do desconto que deve ser dado. Mas quando vamos ao Terreiro da Sé, largo criado, na década de 1940, à custa do sacrifício de muito casario e ruelas que faziam o labiríntico embrião da cidade, sentimos um enorme desejo de que assim seja: a mais bonita. E acreditamos nessa ilusão quando nos aventuramos pelas ruelas. Quando espreitamos a antiquíssima e estreitérrima Rua dos Redemoinhos, mesmo por trás da catedral, que um portão fecha ao usufruto por toxicodependentes. Quando descemos as escadas até à igreja dos Grilos (primeiramente de S. Lourenço dos Jesuítas) e, daí, descemos pela Rua de Sant’Ana, passamos pelos restos do arco e pensamos em Garrett, imaginamos o furor dos artífices na Bainharia, julgamos estar a reviver o bulício na Cruz do Souto. E por aí fora, num casario que parece não ter fim, num emaranhado de ruas, estreitas e íngremes, que nos fazem viajar no tempo. Porém, para que façamos essa viagem, não podemos abrir demasiado os olhos. É que, apesar da propagandística elevação do centro histórico a património da Humanidade, continuamos a ver um mar de edifícios degradados, continuamos a dar de caras com os meandros do pequeno tráfico, sentimos receio de por ali andar se formos sozinhos. É claro que uma cidade, para resistir, tem de ter gente dentro. É claro. Mas o centro histórico do Porto começou a degradar-se quando os endinheirados foram partindo, ao longo de remotos tempos, para outras paragens mais arejadas, quando os prédios começaram a ser divididos – para fácil rentabilização – em pequenos tugúrios, quando a gente que aí passou a viver começou a ser esquecida. Revitalizar implicará, sem atropelos aos direitos de cidadania de quem lá está, repovoar, revitalizar, reconstruir, restaurar. Aqui tão perto, o centro histórico de Santiago de Compostela (bem mais antigo) é um exemplo, tal a forma como está preservado, habitado, dinâmico e visitável. O que dói é que, aos olhos de sucessivas gerações de politiqueiros, o salvamento daquilo que é realmente único não constitui prioridade. Recuperam-se umas casas, aqui e ali, mas é sempre infinitamente mais o que fica por fazer. E deita-se dinheiro fora, por toda a parte, em falsas benfeitorias que apenas resultam da perspectiva de votos que acarretam. Enquanto a memória, o nosso principal alicerce enquanto comunidade, povo, pátria ou nação, vai sendo desbaratada. No Porto, e apenas no que ao património edificado diz respeito, estas preocupações vão muito além da Sé. Estendem-se aos morros da Cividade e do Olival, descem à Ribeira e a Miragaia. Ao cidadão comum, mais preocupado com as mensalidades do carro, da casa e do crédito ao consumo com que pagou quinze dias em Benidorm, nada disto importa muito. A questão é que a política devia atrair cidadãos menos comuns, ou seja, competentes, sérios, com visão. Este problema é geral, não do Porto. Mas tal não serve de consolo.

| sábado, abril 17, 2004

Menos de um mês depois de Sharon ter mandado abater o xeque Yassin, fez hoje o mesmo ao homem que então assumiu a liderança do Hamas, Abdelaziz al-Rantissi. Outro se seguirá, e outro, e outro ainda, e por aí fora, mas o alienado governante israelita deve pensar que assim conseguirá a pacificação ou defender-se do terrorismo. Fazendo também os seus actos de terror, pois mata os "alvos" e o que quer quer esteja à volta, Sharon fabrica mártires e julga-se triunfante. Não é, evidentemente, por ser israelita. É por ser louco.

Ainda sobre o almoço na residência oficial de S. Bento, parece-me que, depois de lerem isto, muitos terão um pouco mais de tento no teclado. Porque, já o sabemos, às vezes dão-se mais ouvidos às pessoas do que às ideias. E por que não? A legitimidade constrói-se, mesmo que, amiúde, não concordemos com o que ela veicula.

Disse à TSF o maior saltimbanco do populismo erudito, a propósito de José Saramago: "Não me parece que num momento em que desenvolve uma teoria sobre o voto em branco, que é antidemocrática, seja a melhor altura para o primeiro-ministro ir almoçar com ele". Nem do romance nem do que tenho ouvido depreendo que Saramago ande para aí a apelar ao voto em branco. Dele (do voto em branco) partiu, apenas, para uma criação literária, panfletária ou o que se lhe queira chamar. Porém, apelidar as teorias desenvolvidas no "Ensaio Sobre a Lucidez" de "antidemocráticas", como que a dizer que o eleitorado precisa de rédea curta, para respeitar sem reservas o sacrossanto sistema partidário e, por arrasto, alguns parasitas que nele pululam, faz-me lembrar as atitudes de personagens do próprio romance, que talvez o ilustre eurodeputado ainda não terá lido.

| sexta-feira, abril 16, 2004

Ética bloguística oblige, começam a justificar-se os agradecimentos a quem vai reparando neste meu regresso à Babilónia das opiniões portuguesas. Do Terras do Nunca já falei, mas aqui fica falado de novo. Mas tenho de salientar, ainda, as comovedoras boas-vindas d'O Cafajeste, que foi buscar as minhas credenciais aos confins dos arquivos, saudar o Azia do Dia, que fez um link aqui para a tasca, e cumprimentar o Esmaltes e Jóias, ainda com pena de os nossos caminhos não se terem cruzado quando, em Novembro, passei por Newark. E agradecer ao Blasfémias, claro.

O que vale aos nossos blogueiros de direita é a circunstância de serem tão, tão, tão de direita que ainda consideram Durão Barroso o mais abominável e pernicioso dos maoístas, trotskistas e quejandos. Se assim não fosse, teriam sofrido a bom sofrer, ontem, quando viram que o primeiro-ministro convidou José Saramago para almoçar, na residência oficial, e que o escritor confirmou estar sanado o diferendo que, desde a censura de Sousa Lara/Santana Lopes a “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, cobria o país de vergonha. José Saramago é, queiram ou não, uma personalidade de quem o país é infinitamente mais devedor do que credor. Goste-se ou não dele. Admire-se ou não o romancista, como eu admiro, questione-se ou não o inconstante comentador. Porém, não haja dúvidas que Saramago, quando intervém, fá-lo investido da autoridade que o currículo lhe confere. Ao contrário dos opinadores de vão de escada que, na blogosfera e não só, recorrem ao fácil jogo de palavras e à piada boçal, na tentativa de o achincalhar. Esses, agora, estão a engolir em seco ou a engasgar-se com o marisco. Por mim, respiro de alívio ao ver que Durão Barroso soube, uma vez na vida, ter uma atitude de Estado (não sei muito bem o que isto quer dizer, mas acho que serve para me fazer entender pelo eventual público fachola, que usa tal expressão a torto e a direito).

Na RTP, vejo o porta-voz do CDS dizer que as tropas não devem sair do Iraque, porque quem sofreria seria o povo iraquiano. Faz sentido, não fosse tão provável que ele, como tanta gente, não tenha uma única vez acordado a pensar nisso. Integrado numa sociedade que ignora, ao virar de cada esquina, o concidadão esfomeado, apoia um governo que promove a precariedade laboral, os despedimentos colectivos, o congelamento obsceno de salários e todos os caminhos que levam à miséria. Não sei porquê, mas parece-me que se está nas tintas para o povo iraquiano.

| quarta-feira, abril 14, 2004

De todos os blogues reaças – digo isto com uma ponta de ternura, como sucede naqueles filmes em que simpatizamos com os maus –, o que sempre me agradou mais foi o extinto Mata-Mouros. Patrícios, portistas e sempre amáveis, os autores transitaram para o já conhecidíssimo Blasfémias, onde juntaram forças com novos aliados. Já os tenho picado nas caixas de comentários, mas, agora, tendo de novo uma trincheira bloguística, tenho como justo que o deverei fazer aqui. E começarei por dizer que a blasfema Sara Muller parece saída do País das Maravilhas, ou, pelo menos, fica com a visão turvada pelo seu sentimento de cruzada contra os maus (leia-se os que criticam o actual poder norte-americano, ou seja, contestam aqueles que se disfarçam de bons). Às vezes, as investidas são patéticas, como se comprova através da leitura sequencial das postas (assim dizem eles) “Paris confirma sequestro de jornalista francês no Iraque”, “RICOCHETE” e “VAMOS PROCURAR CULPADOS?”.

Este gajo, apesar de estar, muito compreensivelmente, ocupado com "trabalhos de manutenção. Realinhamento mental, sobretudo. Distribuição de tempos, re-hierarquização de prioridades...", teve vagar para dar aqui com a nova tasca. Estava visto que ia ser ele o primeiro, até porque lhe montei, inocentemente, uma teia de publicidade indirecta. Foi só picar, ali ao lado, no link dele, meia dúzia de vezes, e esperar o ricochete. Um abraço, portanto.

| terça-feira, abril 13, 2004

Até 15 de Maio, 350 mil focas bebés serão abatidas, à paulada, por indicação do Governo do Canadá. Como saberão, este bárbaro e sangrento crime, que mais nos toca porque o ternurento olhar de uma daquelas crias não deixa ninguém indiferente, é motivado apenas pelo fútil desejo de utilização das peles, enquanto mecanismos de satisfação de vaidades. Não sou, propriamente, activista da PeTA, mas o estabelecimento, por um governo, de quotas para o abate de animais, com tal objectivo, parece-me para lá de chocante. Justificar-se-ia um boicote aos produtos canadianos. O único que me ocorre é o Canadian Club, destilado e engarrafado, mas a justeza da causa justifica o sacrifício.

| segunda-feira, abril 12, 2004

Isto, que ainda não é um blogue nem coisa que se pareça, vai andando aos apalpões. Na verdade, ainda não decidi bem o que será, como será. Não sei ainda como fazê-lo diferente do defunto predecessor, ao qual fui buscar os desactualizados links que se vêem ali ao lado. Quando decidir o que disto farei, actualizar a lista será, evidentemente, uma prioridade absoluta.

Barcelona é a primeira cidade antitaurina de Espanha. A decisão, votada pela vereação, motivou intenso debate público e constitui um sério exemplo para este país que somos. A declaração da cidade, que não proíbe as corridas de touros, algo que só poderá ser determinado pela Junta da Catalunha, é um gesto de extraordinária coragem, em que os princípios se sobrepõem ao populismo. Por cá, as polémicas sobre touradas resumem-se aos tristes episódios de Barrancos, esquecidos desde a patética actuação governamental nos tempos do PS, com a fuga para a frente que foi a criação de um regime de excepção. Outros governantes, anteriores ou posteriores, teriam, provavelmente, feito o mesmo, se ficassem com a batata quente nas mãos. Porque, à sombra do tradicionalismo, todos escondem o medo da perda de votos que certas decisões podem provocar. Em Barcelona, num país onde fazer estas coisas significa mexer num vespeiro muito mais povoado, a razão falou mais alto do que o eleitoralismo permanente. Por cá, ninguém assumiria tal postura. Ficaria bem ao Porto, onde a tradição taurina não passou, em tempos muito recuados, de umas largadas na Rua Nova, assumir uma postura semelhante, porque a identidade colectiva da cidade não se revê no sangrento espectáculo das touradas. Mas coisas assim não passam pela cabeça destes autarcas.

0 comments | domingo, abril 04, 2004

Será a tentação assim tão forte? Seguirá isto dentro de momentos? Servirá para começar de novo, pois noutro sítio se explicou que não haveria recomeços? Novamente, no título, as referências à minha terra. Talvez comece por falar da fonte das virtudes, mas não agora. Gostei do título, apenas. Não sou virtuoso nem a leitura deste blogue, se nisso a tentação resultar, possui propriedades terapêuticas ou milagrosas. Como a fonte, pois, mas isso fica para outro dia.