A um cego, dos que não querem ver, escapará a evidência de que a grandeza competitiva do F. C. Porto é uma das consequências do 25 de Abril. Antes, a utilização do futebol como forma de alienação de um país embrutecido e amordaçado, a exaltação do pontapé na bola como um dos três éfes estruturantes do nosso atraso, era consolidada pelo proteccionismo de Estado a dois clubes lisboetas, um por reunir a simpatia das elites que gravitavam em torno de Salazar (Sporting), o outro (Benfica) porque, sendo muito popular, contribuía para a manutenção de um bem-estar condicionado das massas. O paradigma desse proteccionismo foi o impedimento, pelo Estado, da ida de Eusébio para Itália, mas a máquina era muito mais poderosa do que isso. Até “A Bola”, órgão oficioso do benfiquismo, comentava com frequência os roubos de que eram vítimas os portistas, que, por regra, já tinham meio jogo perdido no momento em que atravessavam o Douro. No Portugal democrático, essa viciação do jogo terminou. E, se os que ainda vivem das reminiscências de glória têm dificuldades em engolir isso, atribuindo todos os desaires a uma entidade abstracta a que agora chamam sistema, as gerações mais novas começam a ter dificuldades em admiti-lo. Para elas, a realidade de o povo ser empurrado para ser do Benfica soará tão estranha, por exemplo, como a circunstância de, na década de 1960, quando tudo acontecia por esse mundo fora, a maioria da juventude portuguesa ter em António Calvário o mais cintilante de todos os ídolos. O poder do F.C. Porto, resultante de uma estrutura altamente profissionalizada e organizada, por contraste com a bandalheira em que outros clubes vivem permanentemente, é consequência do 25 de Abril. Claro que não é a mais importante, nem perto disso. Mas é. O F.C. Porto é estandarte do sistema democrático, pelo que faz todo o sentido festejar mais um título quando se comemora o trigésimo aniversário da queda do Estado Novo.
Mas que é que eu estou para aqui a fazer?... Somos campeões e pronto. Campeões, campeões, nós somos campeões! Para assinalar mais um título, que devia ser conquistado hoje mas foi abreviado pela inépcia dos lagartos, aqui deixo um Poema, com P grande (o fanatismo explica tudo...), alusivo à coisa.
Allez, Porto, allez
Nós somos a tua voz
Queremos essa vitória
Conquista-a por nós
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