3 comments | terça-feira, agosto 30, 2005

Sinceramente, não sei se a culpa está em cada um ou na imbecilidade competitiva instalada. Não quero atacar, pessoalmente, companheiros de profissão, mas acho triste, vergonhoso e grosseiro que tenham posto microfones em torno de Manuel Alegre enquanto ele falava com alguém ao telefone. Põem-se em causa, em nome da porcaria de um directo, os mais sagrados valores da dignidade humana, o respeito pela privacidade dos cidadãos, a boa educação. O ritmo da vida faz com que as pessoas nem se respeitem a elas mesmas.

Nota: calculadamente ambíguo, o discurso de Manuel Alegre de Melo Duarte apenas pode ser explicado com os acontecimentos que o futuro trouxer, ou seja, "prognósticos só no fim do jogo"; mas é certo que não causou boa disposição a Mário Soares nem à frágil unanimidade por trás de um terceiro MASP.

3 comments

Quando se fala em 40 mil professores que não foram colocados, não está a falar-se de professores, apenas de gente desnorteada num país desnorteado. Fala-se apenas de gente que precisa de trabalhar e foi encaminhada, pela massificação impensada do ensino, para uma vida com pouca esperança.

2 comments | segunda-feira, agosto 29, 2005

Há um fantasma que caminha por aí, ao longo dos tempos. Não arrasta correntes, não voa sob um lençol branco com buracos para os olhos, não habita as passagens secretas de um qualquer castelo assombrado. Chama-se “união ibérica” e vive nas cabeças e corações desta gente a que o fado deu nome de portugueses. Vive dentro de nós, não dos espanhóis, simplesmente porque somos a parte fraca, e as assombrações, como qualquer outro agente patológico, aproveitam-se dos fracos.

O fantasma anda por aí, não apenas por causa das idiossincrasias de Alberto João, senhor de uma capitania postada no Atlântico, mas porque nunca deixou de andar. Quando o reputado “El País” faz destaques sobre Portugal, deitando abaixo o que somos, sem dó nem piedade, assume-se, talvez sem qualquer intencionalidade assumida, como agente perturbador de um equilíbrio que nunca será tão garantido como o nosso pátrio orgulho possa fazer pensar. Devemos lembrar-nos, por um lado, que os espanhóis (entenda-se a mentalidade castelhana dominante) têm por hábito falar dos outros quando é para dizer mal, potenciando assim aquela altivez que de nós tanto difere. Porém, teremos também de admitir que vêem cá o mesmo que nós, mas sem a dose de paixão que nos faz menorizar os problemas, por mais que os discutamos.

Lucraríamos em ser espanhóis? Lucrariam eles em ter Portugal? A união será inevitável? Este tipo de perguntas equivale às que se fazem quando se discute a natureza pudibunda dos anjos. E se?... Não adianta discutir muito o que poderia ter sido. Aliás, isto da união ibérica não era uma tentação exclusivamente castelhana. Se recuarmos ao século XV, encontramos as manobras que o nosso D. Afonso V fez para tentar deitar a unha a Castela, tentando legitimar a pretensão ao casar com a sobrinha Joana, para nós a “excelente senhora”, para os outros a “beltraneja”. A disputa foi perdida para os Reis Católicos, costuma dizer-se que após a batalha de Toro, onde, militarmente, não houve vencedores nem vencidos. Mas dizem alguns entendidos que o nosso rei poderia ter ido mais longe, se, ao invés de procurar apenas a legitimação por intermédio de um casamento, tivesse apresentado à aristocracia castelhana um plano de governação que a seduzisse. Não o fez, fizeram-no Isabel e Fernando. Portugal ficou Portugal, Castela juntou-se a Aragão, Espanha foi inventada. Ontem, como sempre, saímos a perder porque não tínhamos um plano.

Provavelmente, o planeamento estratégico é algo que escapa à nossa natureza, qualquer desvio no nosso código genético, algum inibidor gasoso que emana dos nossos solos e condiciona as nossas vontades. É por isso que vemos curto. É por isso que ficamos assustados.

A união ibérica já foi ultrapassada por outra, a que chamamos europeia. Os desafios e os perigos vêm de todo o lado, dos quatros cantos do mundo, à custa dessa bomba-relógio que entendemos por globalização. Quando vemos a nossa economia invadida pelos espanhóis, somos assombrados pelo tal fantasma. Mas eles, mais do que para Portugal, avançam para todo o mundo, sendo nós apenas o primeiro ponto de passagem. Contrariamente ao que os gloriosos tempos da expansão portuguesa possam fazer sugerir, nós nunca avançámos para o mundo, apenas avançámos pelo mundo. Na prática, não fizemos tão grandes coisas, na essência não nos moviam objectivos propriamente nobres. Mas a nossa incapacidade de colonizar eficazmente, embora tenhamos feito derramar sangue por todos os mares, acabou por nos tornar mais mansos, isto é, menos capazes de nos enquadrarmos na voracidade que tomou conta do planeta. Continuaremos a levar nas orelhas, mas acabaremos sempre por ser bons rapazes, e é isso que significa ser português.

2 comments

...mas não sei o que dizer, para já.

3 comments | quinta-feira, agosto 18, 2005

AP Photo/Eckehard Schulz
Bento XVI à chegada a Colónia

Não se afirmará aqui que foi a mão de Deus a descobrir as papais cãs, mas terá sido a própria Providência a dotar Joseph Ratzinger de uma cabeleira que não destoa, em caso de emergência. Com o branco solidéu a elevar-se nos ares, de pronto alvejado por câmaras televisivas e máquinas fotográficas, o branco pontífice nada teve a temer, descendo a escada do avião com segurança, ao som de jovens que gritavam "Benedetto" com o mesmo fervor de quem aplaude o Mantorras, antes de este jogar os dez minutos da praxe. Porém, apesar de as coisas terem corrido serenamente, há já medidas em curso para que o acidente não se repita. A casa Annibale Gammarelli, de Roma, detentora exclusiva da produção das vestes do Papa (abastece também eclesiásticos de todas as cores) está a preparar uma joint-venture com uma dessas casas que anunciam implantes capilares na imprensa portuguesa, com as incontornáveis fotos do "antes" e do "depois". O novo solidéu será fixado ao couro cabeludo sem inconvenientes de maior, além de a cabeça ter de passar a ser lavada a seco.

2 comments

Foto de POS
Caldeira Velha, S. Miguel

Só num país onde a "silly season" dura todo o ano é que um tal de Zezé Camarinha faz publicidade na TV. Só num desses países é que quase toda a gente sabe quem é esse tal de Zezé Camarinha. O país inteiro deveria ir a banhos, em águas quentes e sulfurosas, para arrancar a crosta de vulgaridade que o encobre e asfixia.

9 comments | quarta-feira, agosto 17, 2005

Foto de POS
Casa do Cabido, Porto

Por vezes, as pessoas agarram-se a causas e por elas ficam agarradas. Caem em exageros, têm atitudes apenas panfletárias e pouco reflexivas, desdenham quem não está com elas. É mau que assim façam, pois transformam causas nobres em meras obsessões. Continuo a ter dificuldade em formar opinião acerca do que está a ser feito na Avenida dos Aliados. Sou tentado a subscrever o ponto de vista dos que estão contra, mas incomoda-me muito a forma como o fazem, pois chegam a ser tão demagógicos como os políticos que contestam.

Até me dói dizer isto, porque sou tudo menos apoiante de Rui Rio, embora as alternativas sejam pouco sedutoras. Fala-se em história, quando a Avenida dos Aliados não tem mais história do que algumas manifs do pós-25 de Abril. Estão, claro, a reportar-se à enorme importância histórica da Praça da Liberdade (a velha Praça Nova de tantas outras designações e figurinos), que perdeu individualidade a partir do momento em que a avenida foi rasgada (quanto ao valor patrimonial de alguns edifícios, como a antigas sedes do “Jornal de Notícias” e d’ “O Comércio do Porto, agora bancos, não me parece posto em causa). Ou seja, qualquer intervenção que se faça não vai alterar um espaço histórico, pois essa alteração já foi há muito feita.

A verdade é que a Avenida dos Aliados, com ou sem canteiros, há muito que nada tem de centro cívico. Claro que prefiro a relva, as árvores e as flores, mas, como já aqui disse, gostaria ainda mais de ver gente diferente da gente que passa. Gostaria de ver cafés, cinemas, animação nocturna, vida. É complicado, pois a gente do Porto não é muito dada à convivência urbana.

Até me dói dizer estas coisas, pois sempre achei que a cidade não devia ser tubo de ensaio de arquitectos circunstancialmente contratados. Sempre torci o nariz às obras da Porto 2001, por exemplo, mas quando criticam o espaço junto à Cadeia da Relação, vão sempre pelo caminho mais fácil, contestando o que se fez e não o que não se faz: exposições de rua com qualidade, teatro, música, vida... Depois, concordo que o belo jardim da Cordoaria foi alvo de uma intervenção assassina, mas fica sempre por dizer que atravessá-lo era tarefa perigosa, de tão propício que se revelou a práticas criminosas. Acho muito bem que os cidadãos se agitem. Que lutem, abracem causas. Espero que seja o ponto de partida para outro tipo de atitudes que têm faltado à cidade. Porém, pensar que as coisas estavam bem como estavam, isto é, como têm estado, é mau. Pensar que bastam relva, flores e árvores para as pessoas descansarem a alma, enquanto esperam pelo autocarro que as devolverá aos subúrbios, é muito pouco. Questionar isso sem questionar o que é preciso para mudar, o que é preciso para que os comerciantes sejam minimamente arrojados, o que é preciso para recuperar e ocupar o sem-fim de casas devolutas, é mero folclore.

O grave nisto tudo é que a Avenida, desfeita ou requalificada (serão sinónimos?), vai, muito provavelmente, continuar a ser o deserto que tem sido. Discute-se pouco por que se esvaziam as cidades. Discute-se pouco o financiamento dos municípios, que potencia a construção maciça nos concelhos limítrofes. Discute-se pouco a mentalidade “nine to five” das pessoas que saem do trabalho para o ecrã dezasseis por nove, pantufas incluídas. Discutem-se pouco as razões e atacam-se apenas as consequências. Se a Baixa continua a ser o que é _ serviços e comércio agonizante, de dia, outros serviços e outros comércios, de noite _, tanto faz que seja com ou sem relva, porque a batalha está perdida.

3 comments | sábado, agosto 13, 2005

Portugal é o único país do mundo onde o hóquei em patins tem notoriedade nacional. Sem desmerecimento dos atletas e sem querer ofender os apreciadores da modalidade (eu próprio vi muitos jogos nas Antas, já lá vão vinte anos), importa ter em conta que este foi um instrumento propagandístico do Estado Novo, como tantos outros, e assim ganhou raízes na tabela colectiva de valores. Mesmo assim, sendo este o único país onde se dá grande destaque ao dito campeonato do mundo da coisa, com transmissões televisivas em directo de Silicon Valley, páginas inteiras de jornais a enaltecer a lusa glória e conversas de café a debater a sticada que foi ao poste, não vamos lá. O dito campeonato foi feito para agradar a uma importante comunidade de emigrantes portugueses. Quando os nossos jogam, parece que estão numa ilha açoriana, atendendo à raiz dominante das comunidades californianas, que remontam ao século XIX. Porém, perderam com os espanhóis, sem apelo nem agravo. Ou seja, continuamos a fingir que somos grandes numa coisa que, já de si, é um fingimento, mas, afinal de contas, até nisso somos pequenos.

1 comments | segunda-feira, agosto 08, 2005

Foto de POS
Douro com ponte e barco, visto da muralha medieval, Porto

Por isso não surpreende que a televisão, epicentro da difusão de massas, sediada em Lisboa, emitida de Lisboa, e sobretudo para Lisboa (excepto uns incêndios e umas desgraças lá na terra para entreter a malta na silly season), seja o veículo por excelência da pronúncia entre o posh e o kitsch com que seremos, slowly but surely, colonizados.

A frase com que abri foi retirada do blogue Causa Nossa. É atribuída a um leitor, identificado como Vasco P., que comenta a série de textos sobre “Lisboetês” escritos por Vital Moreira. Servirá, aqui, de pretexto para discorrer sobre questões que vêm sempre a propósito.

Como já disse noutras ocasiões, talvez com palavras parecidas, não temos (nós, os outros) de nos preocupar muito com os lisboetas, pois eles não vivem os problemas que sentimos (nós, os outros). É connosco (nós, os outros) que temos de nos preocupar, pois somos (nós, os outros) os maiores fornecedores de matéria-prima para a produção de lisboetas, desde que o tempo é tempo.

Peço que compreendam, desde já, que não quero acicatar guerras Porto-Lisboa, embora admita que me possam imaginar nesse caminho. Vou dar exemplos do Porto, porque daqui sou e aqui vivo, mas o que quero é falar de uma deficiência estrutural que destrói todo o país, desde sempre. Há um par de anos, um colega, que trabalha na delegação de um jornal sedeado em Lisboa, contou-me que os chefes lá de baixo pensavam que ir do Porto a Bragança, de automóvel, era coisa para meia hora. Estamos a falar de pessoas supostamente esclarecidas, que, pelos vistos, nem são capazes de localizar as capitais de distrito num mapa em branco, porque, provavelmente, nunca tiveram nem terão qualquer desejo de conhecê-las. Este tipo de lisboetas (estive quase a escrever, com farta dose de injustiça, “o lisboeta-tipo”) come e respira a mesma mentalidade que, em tempos, pôs nomes às províncias reflectindo o próprio ponto de vista (Trás-os-Montes, Alentejo...) ou é incapaz de descrever uma viagem de 300 quilómetros sem recorrer à rosa-dos-ventos (“fui ao Norte”). Vivem em circuito fechado, o resto do país é uma maçada com que têm de lidar de vez em quando, quanto menos melhor. O problema, como nota o referido Vasco P., está na circunstância de essa suposta auto-suficiência ser imposta a todo o país pela televisão, molde privilegiado da mentalidade unificada (lá ia eu escrever “mediocridade unificada”).

Duas situações vividas pela minha cidade, nos últimos tempos, complementam-se para explicar como este mal funciona: o fecho (espero que suspensão temporária) de “O Comércio do Porto” e a nova polémica em relação ao alargamento da rede do Metro do Porto.

Comecemos com a segunda. O Governo entendeu definir dois grandes investimentos estratégicos para o país, sem o pudor de disfarçar que está a definir dois grandes investimentos para Lisboa, cujo valor estratégico não é isento de dúvidas. Se o aeroporto é uma questão obviamente lisboeta, pois destina-se a servir a cidade, contribuindo para acentuar a circunstância de Lisboa ser um eucalipto gigante que seca tudo em redor, atraindo pessoas, empresas e investimentos, já o TGV poderia levantar mais dúvidas, não fosse os governantes defenderem que é um imperativo estratégico ligar a capital portuguesa ao resto da Europa através da rede de alta velocidade. Enquanto isso, o Executivo decide travar o alargamento programado do Metro do Porto, vital para a área metropolitana, por promover a mobilidade das pessoas, e para os cidadãos, para poderem usufruir de um transporte público fiável e de qualidade. Para o Porto e concelhos limítrofes, este projecto é verdadeiramente estratégico. Abstenho-me de comentar a gestão, porque não tenho o conhecimento que me permita fazê-lo, embora tenha de pôr umas reticências por causa do protagonismo dos autarcas. Porém, a urgência de pôr a rede a funcionar, por ser um imperativo estratégico, deveria impor empenho e rapidez na resolução dos problemas.

Quem decide? Lisboa. O que é “Lisboa”? Para o que aqui interessa, é uma mentalidade emanada de centros de decisão fechados neles mesmos, sejam políticos ou empresariais, bem como do monopólio de fazedores de opinião de Portugal. Mantenho o que escrevi, a 4 de Julho de 2003, nos primórdios do blogue Cerco do Porto: Mais do que política ou economicamente, a tentação centralizadora da capital reflecte-se no proteccionismo endógeno dos lisboetas, sejam eles de nascimento ou adoptivos. E o paradigma é a televisão, matriz do pensamento colectivo destes tempos, feita essencialmente a partir de Lisboa e em função da vidinha lisboeta: os actores de Lisboa dão a conhecer os actores de Lisboa, os jornalistas de Lisboa dão a conhecer os jornalistas de Lisboa, os parasitas de Lisboa dão a conhecer os parasitas de Lisboa. Portugal assiste.

Está o problema em Lisboa? Talvez não. O fecho de “O Comércio do Porto” é sintomático da forma como nos desobrigamos (nós, os outros) de lutar por valores nossos, por direitos nossos ou, até, por manias nossas. É perfeitamente legítimo que haja jornais de expressão nacional feitos a partir do Porto (ou de Bragança, ou de Faro, ou do Pulo do Lobo, mas isso tudo é mais improvável), veiculando ideias do Porto e assentando em modos de ver do Porto, algo que transcende largamente o mercado do Bolhão ou o Estádio do Dragão. É legítimo, benéfico e exigível. Porém, como demonstra o período negro vivido no “Comércio”, trata-se de algo muito difícil, porque as pessoas de todo o país são, num processo contínuo e quase inexorável, mergulhadas na dormência que lhes é injectada pelo predomínio lisboeta nos media: somos um país muito pequeno, as rivalidades não fazem sentido, corremos todos para o mesmo lado, pensamos todos da mesma maneira, somos todos do Benfica (abrenúncio!...), comemos todos caracóis, temos todos as mesmas necessidades, gostamos todos de fado, queríamos todos que o cardeal Policarpo fosse Papa...

É certo que há muitas rivalidades que não fazem qualquer sentido, como certo é que não somos todos do Benfica. Mas o processo de que atrás falei leva a que sejamos um país mais pobre. E a culpa está em nós (nós, os outros). Está nos que, em busca de progresso profissional, cedem à tentação de ir para Lisboa e entram no esquema. Está nas empresas que têm de ir para Lisboa para se aproximarem dos centros de decisão. Está na vergonha que nos fizeram ter (não a todos, não a todos...) da nossa identidade. Porque está na desistência dos leitores de jornais que lhes falem de problemas próximos, preocupando-se mais com as pseudo-notícias de trica política orientadas pelo “mainstream” lisboeta. Porque está na falta de coragem para que nos imponhamos (nós, os outros), não como alternativa mas como gente que tem alma e dela não quer prescindir.

Quando o citado Vasco P. fala na “pronúncia entre o posh e o kitsch com que seremos, slowly but surely, colonizados”, é uma voz de desistência. Se assumirmos essa colonização como lenta e certa, estamos a admitir que, um dia, só haverá lisboetas em Portugal. Nem os lisboetas quererão isso, pois deixarão de ter de quem diferir, mas nós, os outros, temos a obrigação moral de o impedir.

0 comments

A Rosa do Aleixo não arranjou assinaturas suficientes para se candidatar à Câmara do Porto. Eis o debate político empobrecido.

0 comments | domingo, agosto 07, 2005

Foto de POS
S. Miguel, Açores

Ainda há verde num país onde a esperança arde.

2 comments

Lisboetês (4)
Locutora da RTP 1 relatando ontem os incêndios no distrito de Aveiro: ela pronuncia "Avâiro", tal como pronunciará "fâira" (em vez de feira), "Avâiras" (em vez de Aveiras), "desfâita" (em vez de desfeita), etc. Outro desvio da norma fonética típico do lisboetês dominante nos media nacionais.
Inserido por VM 6.8.05.

1 comments | sábado, agosto 06, 2005

Direitos reservados

Este artefacto foi encontrado numa mata de Sever do Vouga. Como é simples o crime, como é engenhosa a maldade! O cigarro funciona como rastilho e o incendiário põe-se a milhas antes de de a explosão simultânea dos fósforos abrir de par em par os portões do inferno. Vinha a lembrar-me desta imagem, que ontem pusemos no jornal, a imaginar que era tempo de voltar a escrever aqui qualquer coisa sobre os incêndios florestais. Mas o quê? O problema repete-se, de ano para ano, o fogo transformou-se no quarto efe da portugalidade. É apenas parcelar o problema da criminalidade, é mais significativo o peso da negligência que resulta em chamas.

Mas serão essas as causas? Portugal era, há séculos, um país sem grandes matas, foi a mão humana, a mão visível, que as ergueu, essa mão que hoje não cuida delas, por uma variedade de razões entre as quais se destacam o fraco rendimento da floresta e a pulverização/dispersão da propriedade.

Ora, ao pensar em propriedade vieram-me logo à cabeça todos os liberais de gabinete que pululam na blogosfera. É que, ao fim e ao cabo, os incêndios são uma pedra no sapato de todos os respiram apenas em função do liberalismo económico, uma vez que só o Estado poderá, um dia que funcione, pôr ordem na floresta. É impensável estar a falar em soluções que envolvam apenas os donos das matas, como associações de proprietários, porque a propriedade da floresta é, essencialmente, marcada por pequenas parcelas, muitas vezes nas mãos de gente que as herdou de alguém que as tinha herdado de outro alguém, ou seja, nas mãos de gente que nem sabe o que tem nem quer preocupar-se com isso. Depois, associações desse tipo têm sempre fins lucrativos, nunca filantrópicos, pelo que não é de esperar que o ordenamento da floresta resulte de um imperativo de cidadania por banda dos proprietários.

O bem comum tem de resultar da administração comum, e isso é o Estado. Estado democrático, não autoritário mas eficaz. Porque o crime, a negligência e o desinteresse assim exigem. A natureza do mal está sempre em pessoas, e o Estado é a única maneira de as pessoas se salvarem delas mesmas.

0 comments

Acabei de mandar isto à RTP:

Poucas palavras chegam para repudiar a atitude repugnante da RTP, ao prescindir da transmissão em directo do jogo de futebol Tottenham-F. C. Porto, inundando o país com o folclore alienante da Volta a Portugal em bicicleta, que é, nestes tempos, uma fraude desportiva. Dificilmente, havendo pessoas capazes de tomar decisões tão irracionais, a RTP conseguirá cumprir a função de prestar um verdadeiro serviço público. Evidentemente, não me importam para nada os vossos compromissos comerciais, pois serviço público não tem nada a ver com compromissos comerciais. Para não transmitir o jogo em directo, escusavam de ter comprado os direitos de transmissão, deixando a porta aberta para outro canal que se preocupasse mais com o verdadeiro interesse dos telespectadores.

1 comments | quarta-feira, agosto 03, 2005

Foto de POS

Imagem bipolar, conflito interior. Escrevo ou calo? Mas como, se não sei o que escrever nem o que calar? Apenas me resta ânimo, hoje, para este silêncio palavroso.