Portugal é o único país do mundo onde o hóquei em patins tem notoriedade nacional. Sem desmerecimento dos atletas e sem querer ofender os apreciadores da modalidade (eu próprio vi muitos jogos nas Antas, já lá vão vinte anos), importa ter em conta que este foi um instrumento propagandístico do Estado Novo, como tantos outros, e assim ganhou raízes na tabela colectiva de valores. Mesmo assim, sendo este o único país onde se dá grande destaque ao dito campeonato do mundo da coisa, com transmissões televisivas em directo de Silicon Valley, páginas inteiras de jornais a enaltecer a lusa glória e conversas de café a debater a sticada que foi ao poste, não vamos lá. O dito campeonato foi feito para agradar a uma importante comunidade de emigrantes portugueses. Quando os nossos jogam, parece que estão numa ilha açoriana, atendendo à raiz dominante das comunidades californianas, que remontam ao século XIX. Porém, perderam com os espanhóis, sem apelo nem agravo. Ou seja, continuamos a fingir que somos grandes numa coisa que, já de si, é um fingimento, mas, afinal de contas, até nisso somos pequenos.
3 Comments:
No tempo do Estado Novo, fomentava-se o hóquei em patins e existiam diversos clubes apoiantes da modalidade, bem como a defunta MP (Mocidade Portuguesa) que investia em equipamentos e ringues para o efeito, saindo dessas mini-escolas alguns dos nomes que levavam Portugal ao Mundo.
Mas surgiu a revolução, e meia-dúzia de peralvilhos decidiu que tudo o que cheirava a Estado Novo era mau e deveria ser deitado ao ostracismo.
Foram fechando os clubes, pois sempre era mais barato oferecer umas bolas velhas de futebol do que equipamentos de hóquei, e era mais rentável, pois bastava encontrar um mais habilidoso de pés, sem medo nem vergonha de partir as canelas ao adversário, e logo ali estava um poço que renderia bom dinheiro no mercado futebolístico.
O Zé Pagode e pagante aplaudia!
Hoje, não somos bons em nada que não cheire a futebol, seja ele de onze, de salão ou de praia, mas entretanto deixamos práticamente de ter outras modalidades que com menos espaço e dinheiro fariam muito mais pela nossa juventude.
Claro que os espanhóis, nem aí querem perder, mas essa é outra história...
Cumprimentos
Teófilo M.
15:39
Caro Teófilo,
Obrigado pelo comentário enriquecedor. Pôs o dedo numa ferida, é certo, mas não invalida o que eu quis dizer. Mantenho que Portugal é o único país onde o hóquei em patins tem dimensão nacional e a consequente atenção mediática. De resto, há pequenos núcleos onde se pratica a modalidade.
Em Espanha, por exemplo, esses núcleos localizam-se na Catalunha e na Galiza. Presidente durante largos anos do Comité Olímpico Internacional, o catalão Juan Antonio Samaranch conseguiu fazer com que o hóquei em patins fosse modalidade de demonstração nos Jogos de Barcelona (1992). As partidas tinham lugar a largas dezenas de quilómetros do cerne da actividade olímpica. O torneio foi quase ignorado e foi a última vez que esta modalidade apareceu no calendário olímpico.
Em Itália, a popularidade do hóquei em patins existe, fundamentalmente, em redor de Milão. Lembro-me de há um bom par de anos, não sei precisar quantos, o "Mundial" da modalidade ter sido aí realizado. Na ocasião, a "Gazzetta dello Sport", um dos maiores jornais desportivos italianos, curiosamente sedeado em Milão, praticamente ignorou o evento. Em muitas edições, não dava qualquer notícia, quando o fazia resolvia o assunto com um textinho de dez linhas, na zona menos nobre do jornal...
Ou seja, não quero aqui colocar em causa o quão salutar é a prática do hóquei em patins ou a circunstância de todo o desporto dito amador ser asfixiado pelos milhões que gravitam em torno do futebol. Só quero dizer que somos bons numa coisa que não tem qualquer relevância internacional e, mesmo assim, somos muito pouco bons.
Saudações
22:18
SÓ MAIS UMA ACHEGA: o Hoquei em Patins é tal qual o POS diz...
em Itália (onde vivi uns tempos) niguém conhecia o Hockey "su rotelle" apenas na região de Novara, Vercelli no seio do triangulo industrial (Torino, Milano, Genova)...
isto sem desmerecer os moços dos patins que já me fizeram vibrar... como o Livramento, Cristiano, Rendeiro...
pena é, no entanto, que o desporto na nossa terra se resuma a "ver" os Gajos a chutar o esférico nas 4 linhas pra depois discutir no café os erros dos treinadores e dos árbitros...
mas claro, a educação física tal como a educação visual, no ensino são tidas como uma espécie de aulas de descontração e de nivel inferior, talvex ainda menos importantes que as aulas de educação moral da religião católica....
sendo assim!...
06:28
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