Este artefacto foi encontrado numa mata de Sever do Vouga. Como é simples o crime, como é engenhosa a maldade! O cigarro funciona como rastilho e o incendiário põe-se a milhas antes de de a explosão simultânea dos fósforos abrir de par em par os portões do inferno. Vinha a lembrar-me desta imagem, que ontem pusemos no jornal, a imaginar que era tempo de voltar a escrever aqui qualquer coisa sobre os incêndios florestais. Mas o quê? O problema repete-se, de ano para ano, o fogo transformou-se no quarto efe da portugalidade. É apenas parcelar o problema da criminalidade, é mais significativo o peso da negligência que resulta em chamas.
Mas serão essas as causas? Portugal era, há séculos, um país sem grandes matas, foi a mão humana, a mão visível, que as ergueu, essa mão que hoje não cuida delas, por uma variedade de razões entre as quais se destacam o fraco rendimento da floresta e a pulverização/dispersão da propriedade.
Ora, ao pensar em propriedade vieram-me logo à cabeça todos os liberais de gabinete que pululam na blogosfera. É que, ao fim e ao cabo, os incêndios são uma pedra no sapato de todos os respiram apenas em função do liberalismo económico, uma vez que só o Estado poderá, um dia que funcione, pôr ordem na floresta. É impensável estar a falar em soluções que envolvam apenas os donos das matas, como associações de proprietários, porque a propriedade da floresta é, essencialmente, marcada por pequenas parcelas, muitas vezes nas mãos de gente que as herdou de alguém que as tinha herdado de outro alguém, ou seja, nas mãos de gente que nem sabe o que tem nem quer preocupar-se com isso. Depois, associações desse tipo têm sempre fins lucrativos, nunca filantrópicos, pelo que não é de esperar que o ordenamento da floresta resulte de um imperativo de cidadania por banda dos proprietários.
O bem comum tem de resultar da administração comum, e isso é o Estado. Estado democrático, não autoritário mas eficaz. Porque o crime, a negligência e o desinteresse assim exigem. A natureza do mal está sempre em pessoas, e o Estado é a única maneira de as pessoas se salvarem delas mesmas.
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"O bem comum tem de resultar da administração comum, e isso é o Estado. Estado democrático, não autoritário mas eficaz. Porque o crime, a negligência e o desinteresse assim exigem. A natureza do mal está sempre em pessoas, e o Estado é a única maneira de as pessoas se salvarem delas mesmas."
Muito bem dito. Inspirador q.b.
23:36
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