1 comments | domingo, dezembro 31, 2006

Foto de POS

Hoje é domingo (oiço aos berros "Domingo à tarde", de Nelson Ned, para azucrinar os que ainda resistem na Redacção), amanhã é segunda-feira. Hoje é 2006, amanhã é 2007. OK. Embora tal nunca aconteça, que todos consigamos fazer de 2007 um marco no trilho da felicidade, que 2007 não consiga fazer gato-sapato de nós. Seja como for, "Boas Pingas" para os leitores da FdV. Sem moderação, desde que sem condução, evidentemente.

2 comments | sábado, dezembro 30, 2006

A repetição à saciedade das imagens de encapuzados a pôr uma corda à volta do pescoço de Saddam Hussein, intercalada com os humilhantes planos que se seguiram à captura do ditador, com um americano qualquer a inspeccionar-lhe a dentição, põem as grandes cadeias noticiosas ocidentais (v.g. CNN, Sky News) ao nível da Al-Jazeera, quando transmitia os repugnantes vídeos de execuções sumárias. Toda a gangada irá atrás, naturalmente, ninguém anda aqui para aprender o que quer que seja.

De resto, apenas o que se esperava e o que a reacção de George W. Bush, ele próprio responsável directo por múltiplas execuções no Texas, dá a entender. A invasão ilegítima de um país, baseada em mentiras, o descontrolo total resultante da destruição desse país, um caminho para a "democracia" em que a lei de Talião é aceitável (pouco importa a condenação por princípio da Europa, pouco parece importar a Europa)...

A Guerra Fria também não ensinou nada. Sempre a intervenção das potências em conflitos regionais, válvula de escape para o grande medo do holocausto nuclear, foi saldada por fracassos. O Iraque é mais um falhanço, apenas difere por o comunismo e co capitalismo, enquanto pretextos, terem dado lugar ao terrorismo.

Não houve nem há, no Iraque, falência dos valores ocidentais, porque os valores ocidentais são algo difuso, quando liderados por um país que se furta à jurisdição de tribunais internacionais e continua, em vários estados, a executar pessoas, com base na interpretação primitiva da Bíblia que corre nas veias puritanas.

1 comments | quinta-feira, dezembro 28, 2006

Soube há pouco que morreu o José Gomes Bandeira. Não era propriamente pessoa das minhas relações, apenas alguém de quem guardo a cordialidade do trato, uma aparente timidez na forma de manifestar simpatia. Um camarada de outro tempo do JN, que por cá continuava a passar para dar corpo escrito à paixão que desenvolvera pelos vinhos. Se der uma volta pela Redacção, vejo que muita gente não o conhecia de lado nenhum, talvez alguns tenham a ideia de um sujeito algo excêntrico que escrevia umas coisas sobre vinhos. Visão redutora, claro, numa vida em que a memória escasseia. Ainda há dias cá esteve, formulámos os mútuos votos de boas festas. Agora está morto. Vejo-o há uns anos, quando fomos, uns quantos, convidados para uma recepção no Palácio de Belém, dada pelo presidente Jorge Sampaio a todos os jornalistas que escreveram sobre os 25 anos do 25 de Abril. Depois dos uísques e dos discursos, o pessoal do JN foi jantar ao "Espalha brasas", nas Docas. O director tinha um compromisso qualquer, mas passaria por lá no fim, para pagar a conta. Na hora de pedir o vinho - seríamos uns doze -, alguém sugeriu que teria de ser o José Gomes Bandeira a escolher. Vejo-o agora, rosto mergulhado na carta de vinhos, erguendo-se num sorriso matreiro, olhos perscrutadores circulando entre os comensais: "Há aqui um monocasta alentejano que está com uma excelente relação qualidade-preço". Nem mais. "Venha então esse", teremos bradado todos. Não sei quantas garrafas chegaram à mesa nessa noite, apenas que não foram poucas e que cada uma ultrapassava a dezena de contos, se a memória não me engana. Mas não me esqueço da cara do Frederico, o director de então, enquanto sacava o cartão dourado que nos pagou o conforto do corpo e da alma. Claro que o dinheiro não era dele...

0 comments | terça-feira, dezembro 26, 2006



Isto anda tudo ligado. Recebi um DVD que já tinha ("Pompeii", dos Pink Floyd, filme concebido e realizado por Adrian Maben), pelo que me lembrei de rever algumas partes. Ao ver este "Mademoiselle Nobs", versão alterada de "Seamus" (do álbum "Meddle"), recordei ter ouvido, há dias, uma conversa em que um dos interlocutores sentenciava aquele lugar-comum de que os Pink Floyd eram apenas uns gajos que ensaiavam tecnologia (quase que dizia que a música era o equipamento, nada mais). Enfim, haja direito ao disparate. Mas este filme, um "blues" pequenino, vem mesmo a propósito. Só aparecem três membros da banda: David Gilmour toca harmónica, Roger Waters toca guitarra, Richard Wright toca... Nobs, a simpática cadela de galgo afegão que uivou para a posteridade.

Mais tecnológico e electrónico seria difícil...

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Dezembro, vinte e cinco, pego no volante e levo o carro que me leva, em círculos, pelas ruas desertas. Pelo deserto do amor que se fecha nas casas e foge do frio, da vergonha, da pobreza, da fome. Dia de Natal, nada menos do que um entre todos os ciclos de vinte e quatro horas, mais coisa menos coisa, em que a rotação do globo nos dá noites e dias, claridade e escuridão, sol e sombra. Brilho e penumbra, não necessariamente em função de o sol ir alto ou estar adormecido.

Vou pela cidade perdida em busca de fotografias, mas decido não pegar na máquina. Registo com os olhos, envergonhado, porque o deserto das ruas, em dia de Natal, está onde vemos gente. Está no arrumador que persiste na busca da moeda, mesmo quando ninguém pára. Está nos miseráveis que se juntam em bancos de jardim, repartindo vinho de pacotes e comida recolhida na caridade, acenando aos tais condutores que não param. A mim, também. Está em cobertores moldados aos corpos que neles se enroscam: na escada do velho hospital; na entrada deste, daquele e daqueloutro prédio; no aconchego de agências bancárias que os clientes não se atrevem a usar. Não é nas pedras que há deserto. Nem no trânsito ausente.

O Natal não se transformou agora nisto, já assim é há muito tempo. Ao ser transformado em “festa da família” tornou-se mais isolamento do que partilha. Isto pode parecer horrível, mas o momento serve para que os laços de proximidade se apertem, para que haja uma consciência de clã inviolável, para que o sangue se imponha a todas as outras formas de partilha, mesmo que apenas naquele momento em que o bacalhau é comido e o amor é mascarado com embrulhos reluzentes. Na rua e em todas as outras formas de solidão, os resíduos. Aqueles em quem há organizações que pensam, porque a sociedade vai sempre criando organizações para poupar embaraços à maioria que se desobriga.

Há tanta beleza no Natal! Nas crianças, cuja alegria nos alimenta a alma, no sentimento de renascer no abraço aos que nos são mais próximos... até na comida que nunca mais acaba. Mas não é um tempo fraterno. A miséria embaraça-nos mais, dói-nos mais, porque interfere no egoísmo congénito que em todos existe. Mas é aos miseráveis, massacrados pelo simbolismo de rituais de que foram excluídos, que o Natal mais dói.

0 comments | segunda-feira, dezembro 25, 2006

Larry Boyd, Troy Sullivan, Johnny Thompson, Bonita Brady, Bradley, Wendie, Harry Gibson, Nanette Culver, Tom Gomez, Robbie Diamon, Nicholas Jordan, Vanessa Houser, Winifred Starnes, Russell Russell e Marguerite Dobson,

Um grande bem-haja por se terem lembrado de mim neste Natal!

(não percebo grande coisa de estrangeiro, mas "Viagra - best quality", "Angelina, albasalma, hayekparis, hiltontara reidhilary amp kate careykatie", "the best replica watches offer" e "season's greetings" deve ir dar tudo ao mesmo...)

2 comments | sábado, dezembro 23, 2006



É tempo de desejar um feliz Natal a todos os leitores da Fonte das Virtudes, com este famoso (e inesperado, nesse ano de 1977) dueto de Bing Crosby e David Bowie - Peace on Earth/Little Drummer Boy. A gravação foi feita em Setembro, para a última edição do programa natalício anual de Crosby, que morreu um mês depois. Não é bom nem mau presságio, apenas uma curiosidade em torno do momento. Mais do que um Natal feliz, desejo a todos vidas serenas, honradas e com bons momentos de felicidade. Para os instantes depressivos, deixo a receita que ontem me deu o Alfredo Cunha: "Lembra-te que um dia foste o espermatozóide mais rápido entre milhões".

Um forte abraço a todos.

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Foto de POS
A cadeira do Pai Natal, num centro comercial perto de si. Ou o fascínio das figuras públicas.

0 comments | sexta-feira, dezembro 22, 2006

Foto de POS

Que me desculpe a senhora, que não conheço, mas o cão, apesar de parecer um bibelot para a chapeleira do carro (não do meu, não do meu...), é bem mais fotogénico.

(já me chega ter de escrever dossiê, ateliê ou bibelô noutro sítio... aqui não há disso)

0 comments | quarta-feira, dezembro 20, 2006

Foto de POS
Parque da Cidade, Porto

...renasce o patinho feio que há em cada cisne.

1 comments | segunda-feira, dezembro 18, 2006

Foto de POS

Bife do vazio grelhado, com arroz basmati, redução de vinho tinto com mirtilos e mini-espigas de milho salteadas em manteiga. Uma garrafa de Castelo d’Alba – Reserva (Douro, um vinho corrente mas com boa relação qualidade-preço), o aquecedor ligado, as paredes a olhar para mim e eu para elas, a televisão a dar uma coisa qualquer. O meu jantar.

1 comments | domingo, dezembro 17, 2006

O que há de novo quando a arte na arte se projecta? Agostinho Santos mostra-nos, em cento e oitenta diferentes apontamentos, entre telas e desenhos, a consabida verdade de um livro ser reinventado por cada leitor, ou, até, por cada instante da leitura. O que ele lê é, claro, diferente do que lemos, porque sempre distinto é, de uns para outros, o efeito das palavras escritas, tantas vezes longe da intencionalidade do autor, se quem escreve pode atrever-se a ter firmes intenções. Nada de original há em dizer que cada livro, quando rompe o cordão umbilical por onde a imaginação do escritor fluiu, renasce na originalidade de todo e qualquer leitor. Embora evidentemente condicionado, este processo de reinvenção, esta apropriação do que deixou de ser alheio, este gesto de pôr as mãos no barro moldado e conferir-lhe novas formas é, enquanto a palavra continuar a ser expressão, o alimento verdadeiro da literatura. O que o Agostinho fez, agora, foi - como dizê-lo? - reinventar a reinvenção. Libertas pela leitura do pintor, as palavras de José Saramago são aprisionadas no plano suporte da imagem, para que possamos, leitores da pintura que somos, libertá-las e conjugá-las com a impressão em nós mesmos causada, a seu tempo, pelas palavras e histórias que igualmente reinventámos, página após página, imagem após imagem, personagem após personagem. "José Saramago segundo Agostinho Santos" é, portanto, algo como o que há de único e diferente entre os evangelistas. Algo que nós, espectadores e exegetas, somos livres de interpretar. Mas sem que alguma vez possamos ambicionar estar absolutamente certos. A exposição é, também, o ritmo frenético do artista. E é, de certo modo, um sinal claro da emancipação que conquista enquanto tal. No Museu Nacional da Imprensa, Porto, todos os dias, das 15 às 20 horas.

1 comments | sábado, dezembro 16, 2006

0 comments | sexta-feira, dezembro 15, 2006

Devo admitir que há, nesta profissão, coisas que me incomodam muito. Mesmo as mais corriqueiras. Hoje, fizeram uma espera à porta de casa de Maria José Morgado, o que, já de si, levanta muitas questões. A senhora não quis falar daquilo a que iam - pelo momento, pelo tempo, pelo lugar... - e, num claro esforço de contenção, pediu educadamente que a deixassem sair. Mesmo assim, tiveram o descaramento de pôr as imagens no ar.

2 comments | quarta-feira, dezembro 13, 2006



Era pequenote, quando vi isto numa sala de cinema do Porto, já não sei qual, apenas que deixou de existir, como a maioria das restantes. Já foi há muito tempo, mas, haja rigor, bem depois de 1940, quando Walt Disney lançou “Fantasia”, a mais espantosa das suas produções. Na altura, fiquei maravilhado, mas penso que ainda o fico mais hoje. Isso é bom. Com o habitual recurso aos viciados do “YouTube”, deixo aqui o início do longo segmento baseado na sexta sinfonia de Beethoven, a “Pastoral”. Como em todo o filme, a interpretação é da Orquestra de Filadélfia, regida por Leopold Stokowski. Quanto à realização, é partilhada por 11 cineastas, sendo, neste caso, da responsabilidade de Ford Beebe.


P.S. – Hesitei entre este segmento e o memorável bailado em torno da Dança das Horas, da ópera “La Gioconda”, de Amilcare Ponchielli. Avestruzes e hipopótamas em pontas ficariam bem na FdV, mas o filmito era longo e está fragmentado em quatro partes. Procurem, se quiserem.

1 comments | segunda-feira, dezembro 11, 2006

Já agora, mesmo não tendo atempadamente tratado do assunto, aqui fica registado. Augusto Pinochet é lixo tóxico. Um torcionário, uma entre tantas amostras de como o mal tem sempre forma de gente. Os ditadores são todos miseráveis, sejam de direita ou de esquerda. Mas, não me lixem, não são todos iguais. Estou ao lado dos chilenos que lamentam a tão perfeita democracia por alguns apregoada, incapaz de pôr o homem na cadeia um dia que fosse. Incapaz de o julgar, de honrar os três mil mortos e "desaparecidos", de devolver o orgulho aos que se mantêm no exílio, por saberem que o "milagre" económico sul-americano de que se fala é, ainda, coutada de tantos dos que viveram apoiados no terror.

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Enquanto houver gente capaz de escrever barbaridades destas, conseguimos compreender a precariedade da democracia e a nossa obrigação de a defender com unhas e dentes.

(até nisto é preciso meter a comunicação social? estes gajos são todos provedores dos leitores?...)

1 comments | quinta-feira, dezembro 07, 2006

Rui Rio está a ser entrevistado por Judite de Sousa. Estiveram a mastigar a velha historinha das relações com o F. C. Porto, agora vem a mania da perseguição em relação aos jornais... O homem é isso, já todos sabemos. Para quê perguntar a uma parede por que é que não é um tecto? Nada se adianta, perde-se o tempo e perde-se a oportunidade. Deve haver gente a mudar para a Floribella...

2 comments | quarta-feira, dezembro 06, 2006

Sim, estive lá. Queiram ou não, apreciei a densidade futebolística do último quarto de hora, o empenho, diria mesmo a abnegação dos centro-campistas e defesas, de um e de outro lado, cumprindo a árdua tarefa de imaginar um campo sem balizas. Saltei duas vezes da cadeira, outras tantas em que o Quaresma rematou ao poste. Ingleses dum raio, tão bem lhes assentaria a derrota. Saltei duas vezes. Essas. Não o fiz quando o Manchester United marcou - três vezes o fez. Estava numa bancada jeitosa, com croquetes, chamuças e cerveja à descrição (coisas finas, já se vê), pelo que tais comportamentos eram de evitar. Aliás, nem sei o que é isso de benfica.

P.S. - Estou que nem posso. Fui com um gajo que estacionou no Campo 24 de Agosto, íamos atrasados e subimos aquilo tudo em marcha forçada. Aliás, o sujeito é uma estaca e, por cada passo do gajo, eu tinha de dar dois... E, convenhamos, um pouco de exercício não me faria mal...

0 comments | domingo, dezembro 03, 2006


“My name is Bond, James Bond” é a última frase do filme. O início de tudo a fechar o episódio, porque, até aí, assistimos a um processo de construção. Não entender isso é não gostar de “Casino Royale”, o que é pena, seja-se ou não fiel ao culto da personagem de Ian Fleming (ler do universo cinematográfico criado por Albert R. Broccoli). Daniel Craig é a pele perfeita – a pele esmurrada – desse 007 que germina, num presente que precede todos os anteriores passados, o que traduziria uma impossibilidade, caso houvesse lógica sequencial na série. Tem sido metralhado por todos os puristas, que sonharam juventude eterna para Sean Connery, com argumentos estranhos como o de dizer que é o primeiro Bond louro, o que pressupõe despejar em Roger Moore um balde de tinta preta. Craig é um Bond duro, duríssimo, porque ainda inseguro, porque ainda às apalpadelas para entrar no mundo em que o temos visto desde “Dr. No”. Não é imbatível nas cartas, não vê as mulheres como artigo descartável, é extremamente físico e pouco mostruário dos “gadgets” de “Q”, que nem aparece neste filme. É humano e muito convincente. Só isso.

0 comments | sexta-feira, dezembro 01, 2006

Muito relativa é essa verdade de que da discussão nasce a luz. Por vezes, quando somos tentados a debater, percepcionamos o perigo de apenas estarmos a permitir à parte antagónica que empole o que cremos serem atoardas, ou seja, contribuímos para engrandecer aquilo com que não concordamos, pois pior do que um burro só um burro com visibilidade acrescentada. Nenhuma validade é, por isto, retirada à premissa de que cada um tem o direito de expressar a respectiva opinião. Mas não é verdade que todas as opiniões sejam válidas. Não há ninguém que, numa ou noutra circunstância, nunca tenha pensado, a propósito de algo que ouviu ou leu: “Que barbaridade”, “este gajo é um imbecil”, “é do mais desonesto que tenho visto”, “que grande besta”, “falas do que não sabes”, “cantas bem mas não me encantas”, “o que tu queres sei eu”, “falas de barriga cheia”, “quem te viu e quem te vê” e por aí fora...

Sabendo, à partida, que a discussão dá em nada, perguntamos aos nossos botões: Vale a pena tentar explicar alguma coisa? Nem sempre.