1 comments | quinta-feira, dezembro 28, 2006

Soube há pouco que morreu o José Gomes Bandeira. Não era propriamente pessoa das minhas relações, apenas alguém de quem guardo a cordialidade do trato, uma aparente timidez na forma de manifestar simpatia. Um camarada de outro tempo do JN, que por cá continuava a passar para dar corpo escrito à paixão que desenvolvera pelos vinhos. Se der uma volta pela Redacção, vejo que muita gente não o conhecia de lado nenhum, talvez alguns tenham a ideia de um sujeito algo excêntrico que escrevia umas coisas sobre vinhos. Visão redutora, claro, numa vida em que a memória escasseia. Ainda há dias cá esteve, formulámos os mútuos votos de boas festas. Agora está morto. Vejo-o há uns anos, quando fomos, uns quantos, convidados para uma recepção no Palácio de Belém, dada pelo presidente Jorge Sampaio a todos os jornalistas que escreveram sobre os 25 anos do 25 de Abril. Depois dos uísques e dos discursos, o pessoal do JN foi jantar ao "Espalha brasas", nas Docas. O director tinha um compromisso qualquer, mas passaria por lá no fim, para pagar a conta. Na hora de pedir o vinho - seríamos uns doze -, alguém sugeriu que teria de ser o José Gomes Bandeira a escolher. Vejo-o agora, rosto mergulhado na carta de vinhos, erguendo-se num sorriso matreiro, olhos perscrutadores circulando entre os comensais: "Há aqui um monocasta alentejano que está com uma excelente relação qualidade-preço". Nem mais. "Venha então esse", teremos bradado todos. Não sei quantas garrafas chegaram à mesa nessa noite, apenas que não foram poucas e que cada uma ultrapassava a dezena de contos, se a memória não me engana. Mas não me esqueço da cara do Frederico, o director de então, enquanto sacava o cartão dourado que nos pagou o conforto do corpo e da alma. Claro que o dinheiro não era dele...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como afirma o POS, nem todos, principalmente, aqueles que pertencem à geração mais nova do JN conheceram, por certo, José Gomes Bandeira.
Na minha humilde condição de colaborador da secção desportiva, tive o privilégio de o conhecer e de partilhar alguns momentos de amena cavaqueira, sobretudo quando nos encontrávamos, à hora das refeições, na cantina do Jornal. Era sempre muito agradável o que tinha para nos dizer e conversar.
Homem tímido, carregando um ar tristonho, José Gomes Bandeira não era de facto triste. Estou mesmo certo que amava a vida. Era um homem culto, esmeradamente educado, não sendo difícil perceber a sua grande discrição e a sua indisfarçável afabilidade de trato que lhe permitiam facilmente cultivar amizades sobretudo com quem melhor o compreendia.
Foi por isso com muita mágoa que recebi a notícia da sua partida para uma viagem que não tem regresso. Soube-o, ao abrir este blogue, que visito com alguma frequência. Faço questão de deixar aqui o meu voto de pesar e a minha homenagem ao amigo José Gomes Bandeira, ao Homem de Letras, com quem, provavelmente, nos encontraremos um dia, onde quer que ele esteja.
Repouse em paz, José Gomes Bandeira.

01:03

 

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