O que vale aos nossos blogueiros de direita é a circunstância de serem tão, tão, tão de direita que ainda consideram Durão Barroso o mais abominável e pernicioso dos maoístas, trotskistas e quejandos. Se assim não fosse, teriam sofrido a bom sofrer, ontem, quando viram que o primeiro-ministro convidou José Saramago para almoçar, na residência oficial, e que o escritor confirmou estar sanado o diferendo que, desde a censura de Sousa Lara/Santana Lopes a “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, cobria o país de vergonha. José Saramago é, queiram ou não, uma personalidade de quem o país é infinitamente mais devedor do que credor. Goste-se ou não dele. Admire-se ou não o romancista, como eu admiro, questione-se ou não o inconstante comentador. Porém, não haja dúvidas que Saramago, quando intervém, fá-lo investido da autoridade que o currículo lhe confere. Ao contrário dos opinadores de vão de escada que, na blogosfera e não só, recorrem ao fácil jogo de palavras e à piada boçal, na tentativa de o achincalhar. Esses, agora, estão a engolir em seco ou a engasgar-se com o marisco. Por mim, respiro de alívio ao ver que Durão Barroso soube, uma vez na vida, ter uma atitude de Estado (não sei muito bem o que isto quer dizer, mas acho que serve para me fazer entender pelo eventual público fachola, que usa tal expressão a torto e a direito).
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