Barcelona é a primeira cidade antitaurina de Espanha. A decisão, votada pela vereação, motivou intenso debate público e constitui um sério exemplo para este país que somos. A declaração da cidade, que não proíbe as corridas de touros, algo que só poderá ser determinado pela Junta da Catalunha, é um gesto de extraordinária coragem, em que os princípios se sobrepõem ao populismo. Por cá, as polémicas sobre touradas resumem-se aos tristes episódios de Barrancos, esquecidos desde a patética actuação governamental nos tempos do PS, com a fuga para a frente que foi a criação de um regime de excepção. Outros governantes, anteriores ou posteriores, teriam, provavelmente, feito o mesmo, se ficassem com a batata quente nas mãos. Porque, à sombra do tradicionalismo, todos escondem o medo da perda de votos que certas decisões podem provocar. Em Barcelona, num país onde fazer estas coisas significa mexer num vespeiro muito mais povoado, a razão falou mais alto do que o eleitoralismo permanente. Por cá, ninguém assumiria tal postura. Ficaria bem ao Porto, onde a tradição taurina não passou, em tempos muito recuados, de umas largadas na Rua Nova, assumir uma postura semelhante, porque a identidade colectiva da cidade não se revê no sangrento espectáculo das touradas. Mas coisas assim não passam pela cabeça destes autarcas.
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