O que mais me choca, nesta questão de os media poderem favorecer um ou outro candidato, são as pessoas que percebem do assunto e, mesmo assim, debitam sentenças moralistas aos pacotes, dizendo que não é nada disso ou que, afinal de contas, é tudo ao contrário.
Nisto da informação há uma salutar inevitabilidade: uma notícia é, sempre, aquilo que um jornalista vê. Não há duas pessoas que vejam exactamente a mesma coisa quando olham para o mesmo focinho do mesmo porco. O jornalismo asséptico é mau jornalismo, e a segurança da opinião pública reside na diversidade dos olhares. Claro que isso, que aqui defendo, nada tem a ver com a manipulação da informação ou a informação como forma de promover interesses de quem a veicula. Falo de sensibilidade, de estilo, de disposição, que diabo!, do carácter humano que objecta à normalização do pensamento.
Porém, o que hoje vi num canal televisivo, em que assisti à sucessão de peças sobre a azáfama dos candidatos, não foi nada disso. De todos, só um apareceu em planos contrapicados, só na peça sobre esse havia planos de corte mostrando belas paisagens e obras grandiosas, só no discurso desse não andaram à cata daqueles momentos grotescos que, disfarçados de folclore de campanha, furam fundo na pele dos candidatos. Só aí a voz off do repórter não introduzia as declarações do candidato de forma excessivamente opinativa, só aí o repórter aparecia, ele mesmo, em pose de estado, calcorreando os campos dentro da sua melhor fatiota...
Perceber como as coisas se fazem é fácil. Por isso é que causa algumas náuseas ver gente que, farta de saber como se faz e vendo o que se vai fazendo, levanta alto o branco estandarte da pureza patriótica. Favorecidos por um sistema que, eventualmente, ajudaram a construir, eram bem mais espertos se ficassem calados.
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