O meu vizinho da frente chora. Sempre. Não se ouvem dele queixumes, não perde a postura altiva, apesar daquela inesgotável torrente lacrimosa. Há no choro dele uma contínua renovação, não sei se do sofrimento, se da nostalgia. Não sei se é o lamento de uma existência inalterável. Tem, por certo, mais de vinte metros de altura. É um cedro, creio, e besunta-me o carro com lágrimas resinosas quando paro à sombra dele. Domina a rua, dança com o vento, resiste à chuva. Aguenta o frio, não se esconde à sombra quando o sol o esmaga, antes prefere dar sombra aos que passam e não têm raízes. Não sei o que o faz chorar, se as raízes que o prendem, se alguma afinidade com aquele que o olha, arrancado à terra e sedento desse húmus que dá vida tanto ao choro como ao riso.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home