Nunca tinha comprado um livro desses que integram as promoções de jornais. Por motivo nenhum em especial, talvez por algum fenómeno semelhante ao que me leva a torcer o nariz aos CDs piratas, porque anulam o prazer do objecto verdadeiro, da real thing. Claro que as tais edições são absolutamente legais, mas falta-lhes qualquer coisa. Não quer isso dizer que eu seja um bibliófilo radical, pois o que me interessa nos livros, em primeiro lugar, é o que neles está escrito. Foi por isso que, outro dia, ao ver no café muita gente com uns calhamaços de capa alaranjada, fiquei curioso e, ao ver que era o "Moby Dick", de Herman Melville, decidi comprar (nunca tinha lido além de extractos, e é uma daquelas aventuras eternas que fazem soar sininhos nas nossas cabeças). Em má hora o fiz. A tradução é do mais bera que há. Um lixo. Reles. A dita promoção era do "Público", mas podia muito bem ser de outro jornal qualquer. Não são os jornais que estão em causa, porque as redacções nada têm a ver com iniciativas de marketing. O problema é que as iniciativas de marketing, tão importantes, actualmente, no negócio da Imprensa, estão a cargo de pessoas que nada têm a ver com jornais.
Neste caso, a tradução foi feita por alguém que não sabe Português, por alguém que traduzia e cozinhava ao mesmo tempo ou por um programa informático. Esta última possibilidade ocorreu-me há pouco, ao verificar que o Mar Salgado tem um dispositivo de tradução e ao experimentá-lo. Eis uma amostra do resultado:
"Não consigo deixar de pensar que ontem fui presenteado com uma tragédia grega."
passa a
"I do not obtain to leave to think that yesterday I was presenteado with a tragedy Greek."
Este "Moby Dick" é parecido.
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