1 comments | segunda-feira, julho 26, 2004

Portugal arde, novamente. Outra coisa não era de esperar, já estamos habituados aos tristes desempenhos dos políticos, daqueles que são nomeados pelos políticos, do próprio país. Em Setembro do ano passado, pus no Cerco do Porto (não consigo fazer o link para o texto) um extenso rol de considerações sobre a matéria. Não é necessário escrever tanto, mas volto a deixar algumas pistas:
  • Não existem serviços florestais descentralizados, ao nível do município, da freguesia, da aldeola, logo, não é feito qualquer aconselhamento aos pequenos proprietários florestais, os detentores da maior parte da floresta nacional;
  • Não há técnicos florestais nas cadeias de comando do combate a um incêndio;
  • Na altura em que se deve trabalhar na prevenção, fazem-se livros brancos, azuis ou cor-de-rosa, no resto do tempo reflecte-se sobre os ditos livros;
  • As matas que ardem não são as das grandes empresas de celulose, talvez seja coincidência o facto de eles serem mantidas em permanência por técnicos competentes;
  • Um grande incêndio começa sempre por ser um pequeno incêndio, mas não há maneira de superar a total inoperância dos mecanismos de acção rápida (onde estão os sapadores? quem foi o idiota que distribuiu carros como Toyota Yaris ou Renault Clio a vigilantes?...);
  • Os bombeiros são uns heróis, não haja dúvida, mas são realmente conhecedores dos terrenos onde operam?
  • Todos os anos há um responsável iluminado que lamenta a enorme quantidade de fogos simultâneos, que levam à dispersão de meios; por que é que não se apercebem de que essa é a situação expectável?
  • As acções de sensibilização são praticamente zero; esperem pelo foguetório das romarias;
  • A negligência, sem dolo, é, talvez, a causa mais frequente de incêndios florestais; que meios legais existem para penalizar os prevaricadores?
  • Valerá a pena, para salvar uma casa ou duas, deixar arder uma serra inteira; não tem o Estado obrigação de ressarcir devidamente as pessoas lesadas (já sei que os liberais dizem que não, que o Estado só serve para parecer que não existe)?
  • .................................................

Até ao dia 18 do corrente, houve mais ocorrências do que em igual período do ano passado, sendo importante notar que diminuiram os fogachos (fogos que consomem menos de um hectare) e aumentaram os incêndios florestais, aqueles que realmente destroem. Contudo, há opiniões, supostamente abalizadas, que menorizam tal circunstância, referindo que o período realmente crítico de 2003 não foi esse. Pelos vistos, sabem consultar calendários.

O problema é quando se ouve o presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil a assumir um discurso de vítima, dizendo que a culpa é dos criminosos. Ou quando ele se dá ao luxo de recomendar às pessoas que não façam queimadas, quando tal procedimento é rigorosamente condicionado pela lei, uma entre muitas leis que não há maneira de fazer cumprir. O drama é sempre o mesmo. No fim, reúnem-se conselhos de sábios, elaboram-se relatórios, policopiam-se os relatórios, distribuem-se os relatórios por outros sábios ou candidatos a sábios. Os políticos terão matéria para discutir e, no ano que vem, há-de haver uma altura em que as pessoas questionarão o que está a ser feito para prevenir os incêndios. No Verão, concluir-se-á que nem tudo foi feito. No Outono os políticos discutirão o problema...

1 Comments:

Blogger Velasquez said...

É sempre um problema.. nesta altura:(



Avancei até onde o infinito
Congelava a memória desta data
E o apego nos saciava, aflitos
Reféns do nosso amor e acrobatas
Sabendo que a inveja dos delitos
É dos outros e dos beijos de prata
Que perduram na montra duma mente
Onde um sorriso sucumbe o ausente.

http://albertovelasquez.blogspot.com/

03:58

 

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