
... é aqui que se vomita?
... é aqui que se vomita?
Já que se gaba de ser um fenómeno de audiências, o absurdo site da Câmara Municipal do Porto passou a ser, também, tribuna para as causas da empresa Metro do Porto, no estilo "lone ranger" que caracteriza, em geral, os textículos ali publicados. Claro que isto anda tudo ligado, os municípios e o metro, pelo bem e pelo mal, mas compete à inteligência fazer a separação nos momentos em que esta é exigível. Sendo que a Câmara não está listada no regime comercial como agência noticiosa, talvez ali haja matéria passível de ser inspeccionada...
Percursos de vidas cheias, reflexões importantes sobre o que somos e para onde vamos, gente que fala com entusiasmo e pertinência... Ritmo, inteligência, saber, humildade... Vi apenas os programas com José da Silva Lopes e com Jorge Silva Melo, também me disseram que o de Adriano Moreira foi excelente. "O Portugal de..." (RTP) é do melhor que se tem feito em televisão, neste país. A atestá-lo, a circunstância de ir para o ar entre a uma e as duas da manhã...
Há um gajo que se chama Papa e está na Turquia. Estive a aturá-lo até agora (salvo seja!), pelo que não me apetece blogar. Vou mas é comer.
Pela noite dentro, e porque a vida está difícil, as televisões fazem saldos, o que torna o espaço publicitário acessível a uma colorida variedade de cromos. Retive um, o "vidente António Monteiro, especialista em produtos naturais". Filmado à beira-mar, olhos no infinito e colarinhos espraiados à largura dos ombros, o homem era, em si, um tratado. Mas fixei-me mais no conteúdo: "vidente especialista em produtos naturais" representa eclectismo, ou o homem é apenas um comerciante de cogumelos silvestres?
"O referendo ao aborto é, provavelmente, uma das mais insidiosas manifestações do despotismo da multidão sobre a individualidade humana que Portugal conheceu desde que vive em democracia."
Etiquetas: Aborto
Ao mesmo tempo, Aníbal Silva e Pedro Lopes estão a ser entrevistados, mas em estações televisivas separadas, como convém. À pergunta essencial, a única que interessa, nenhum deles responderá, mas seremos em breve esclarecidos: qual dos dois tem mais share?
Já foi aprovada, pelo Tribunal Constitucional, a pergunta. É a mesma de 1998: "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?".
Etiquetas: Aborto
Os dois cromos que hoje estiveram a trabalhar comigo, este e este, andam empenhados na discussão do sexo dos anjos. Mais lhes valeria debater as de pretos e brancos, de dimensões falo (olha, falo... e sem querer), conversa que seria mais adequada à liça onde se movem. É tudo pacífico, entenda-se, mas deu-lhes para andar aqui a teimar se as questões raciais são ou não adequadas para enquadrar determinadas problemáticas, deles mais próximas, de origem angolana ambos são. Eu é que não tenho pachorra para os ouvir, como não tenho pachorra para a evocação universal do racismo, pois como o Paulo diz, mais coisa, menos coisa, é mundo onde não caibo. Um assume-se angolano, o outro também mas não tanto... Já os mandei para lá, para Angola, só para não me azucrinarem o juízo com essa conversa da treta. Esta portugalidade espalhada pelo mundo é complicada, mais nuns sítios do que noutros. Em Caracas, por exemplo, o galo de Barcelos brilha bem alto. Há uma candidata à presidência (mero folclore, claro) cujo nome fala mais alto do que qualquer tratado de cooperação: Venezuela Portuguesa da Silva. Sim, chama-se Venezuela Portuguesa da Silva, porque o pai, emigrante de Aveiro, amava a Venezuela, quis perpetuar na filha a consciência das lusas origens e, azar dos azares, tinha Silva por apelido.
Se a falência do estado liberal se traduziu em arbitrariedades da mais diversa índole, se redundou em níveis de pobreza para os quais o salário mínimo foi uma possível panaceia, por que insistem os liberais no país das maravilhas onde o salário mínimo, porquanto "interferência" do Estado, é entrave ao livre funcionamento do mercado, do qual resultará a humana felicidade?... Acreditam eles que, realmente, os mais humildes trabalhadores (se falo em "explorados" ainda me chamam nomes) conseguirão todos vencer pela via do mérito? Ou acreditarão eles nessa ideia malthusiana de que os pobres o são por culpa própria? Ou serão eles privilegiados que se estão nas tintas para o destino dos outros, no pressuposto de que trilham eles mesmos o caminho do mérito individual e, claro, estão nas boas graças dos que os avaliam?...
"Li o discurso em espanhol, como previsto, com razoável pronúncia - e acho que o texto era bom. Não era um mero discurso de circunstância - continha uma ideia."
Se há um livro sagrado da bimbalhada, é, sem concorrência, o "Guinness Book of Records". Vai daí, esta jogada do benfica, que conquistou o direito de ser listado como o clube do mundo com mais associados, é perfeitamente adequada. O filme que se segue demonstra o que quero dizer.
Ou eu não me fiz entender, ou o João Miranda não quis entender. Certo é que não entendeu , pelo que vou escrever mais devagar. O momento histórico é um conceito da historiografia, pelo que, por definição, nada desculpa, uma vez que a História não existe para desculpar ou culpabilizar. Algo que não se aplica, claro, ao uso panfletário da História, de que nos deu amostra no seu post inspirado na morte de Mussolini.
Já ia desligar esta engenhoca, mas há sempre motivos, numa volta final pelos blogues, para ficar irritado. João Miranda (Blasfémias) esforçado teorizador blogosférico do Liberalismo, foi buscar a execução e exposição do corpo de Benito Mussolini, em 1945, só porque Itália apelou a que não seja cumprida a sentença de execução de Saddam Hussein. Escreve sobre "ilusão de superioridade moral" e fala em circunstâncias idênticas. A questão da superioridade moral é disparatada, não se aplica, e todos os estados da União Europeia têm obrigação de condenar a pena de morte (não apenas quando aplicada a um ex-presidente, mas todos os dias, em muitos países), sem isso significar ingerência em estados soberanos. Quando escreve "circunstâncias idênticas" fá-lo por um de dois motivos - ignorância ou esperteza saloia -, pois falamos de dois tempos históricos absolutamente distintos (antes que apelem à proximidade cronológica, noto que, hoje mesmo, há no mundo momentos históricos absolutamente distintos, apesar de sincrónicos). Mas o que mais me choca é que os mesmos que, aquando do problema com os cartoons dinamarqueses, pugnaram pela superioridade civilizacional do Ocidente, possam agora ter o desplante de criticar a pretensa "superioridade moral" dos que se manifestam contra as execuções.
Realmente, quem ganha mais do que o presidente da República tem de ser muito prolífico, para justificar o ordenado...
O blogue A Baixa do Porto tem, entre muitos outros, o mérito de constituir um bom indicador das formas de pensar a cidade, aberto que está a todas as tendências, opiniões, ideologias e por aí fora. Ao passar por lá há pouco, desejoso de ver as reacções à medida de Rui Rio aflorada no post anterior, dei de caras com alguns equívocos, entre eles um que me faz particular espécie: o conceito de sociedade civil.
Rui Fernando da Silva Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto com maioria absoluta, sentou-se e determinou. Determinou com firmeza, diria eu com determinação. Até com o alívio dos justos, como quando o ciclo da natureza determina (lá está) que as almoçaradas não são totalmente absorvidas pelo organismo, antes reconduzidas ao mágico círculo da vida, com ou sem estações de tratamento de permeio. Determinou que, a partir de 1 de Janeiro de 2007, o município nada mais subsidiará, a fundo perdido, com algumas excepções, de que destaco as "situações altamente excepcionais de caracter (sic) exclusivamente social que deverão ser alvo de análise casuística", apenas por ser uma espécie de frase-tipo dos demagogos. Rui Rio sentou-se e determinou, porque é um homem de acção, em especial quando se senta para determinar. Faça ou não coisas inteligentes, justas ou injustas, boas ou más para a cidade, tem uma imagem de marca: o presidente determinou, está determinado. O despacho de Sua Excelência está disponível no site da Câmara Municipal do Porto, para o qual, como saberão os leitores mais atentos, não faço link, por não andar aqui para promover espaços de propaganda pagos com dinheiros públicos (será adequado dizer que são subsidiados?...). É fácil encontrá-lo, não há que enganar, escrito e ilustrado que está com o habitual cunho kitch de quem ali trabalha. Sobre o dito despacho de Sua Excelência registo, apenas, que era absolutamente dispensável a introdução moralizadora com que somos brindados, porquanto o tempo consagrado à leitura é precioso de mais para ser gasto com essas coisas. Quando se sentou, Rui Rio deveria ter sido mais espartano na determinação. Não havia necessidade. Com estas e com outras prodigiosas determinações, cabe ao eleitorado encher o autoclismo de água e esperar, pacientemente, o momento de puxar a corda.
Parei cinco minutos, esta manhã, a ver um programa televisivo para adolescentes. Discutiam-se as diferenças entre "agora ou nunca" e "tudo ou nada". Serei normal?
Estamos em 2006. Daqui a cem anos, para não ir muito longe, seremos vistos como primitivos por todos aqueles - a maioria, sempre a maioria - que não souberem beber da história o maior ensinamento, isto é, entender que cada época é o que haveria de ter sido porque assim era e ponto final. Ou seja, nunca se pode julgar o passado, muito menos à luz do presente. Porém, olhando este nosso presente à luz do passado em que assentamos (e já vem do medievo Bernardo de Chartres a ideia de que "somos como anões aos ombros de gigantes"), espanta-me, pelo que tenho ouvido e lido a propósito da questão do aborto, que haja tanta gente incapaz de compreender que a moral que julgam cristã é, afinal de contas, mera doutrina de eclesiásticos sedentos de poder, construída ao longo de séculos.
Têm todas as liberdades menos uma, a espontaneidade. Isso impede-os de sentir. Quando confrontados com um problema, nunca questionam o que acham do assunto, mas traçam complexas formulações para explicar o que, enquanto liberais, devem achar do assunto. Resumidamente, não são livres, instrumentalizados que foram pela ideologia da liberdade (individual, claro).