1 comments | segunda-feira, novembro 06, 2006


Georges Bizet, Carmen, prelúdio (Sächsische Staatskapelle Dresden, Giuseppe Sinopoli)


Sobre isto da cultura e das cidades, é interessante, além desta deliciosa interpretação do prelúdio da Carmen, ver como a ópera mobiliza uma cidade. Claro que a cidade alemã de Dresden, alcunhada de "Florença do Elba", tem um passado diferente do Porto. A atestá-lo, neste filme, está o edifício da Semperoper, casa-talismã para as estreias de Richard Strauss, onde também houve a première de óperas de Richard Wagner, como "Tannhäuser" ou "O holandês voador". Vêem-no, de relance, como foi reaberto em 1985, reconstruído depois do tremendo e controverso bombardeamento da cidade pela Royal Air Force, em Fevereiro de 1945. Conheci-o em Agosto de 2002, fortemente danificado pelas transbordantes águas do Elba (reabriu em Dezembro desse ano, em mais uma mostra do que é a espantosa capacidade que aquela gente tem de se reerguer).

Dresden, capital da Saxónia, é uma cidade que, em termos de dimensão, pode ser comparada ao Porto. Escondida, de algum modo, enquanto fez parte da RDA, renasceu de forma quase milagrosa após a reunificação. Dirão, porventura, que foi pelo poder do marco. Também foi. Mas esta recuperação de esplendor não seria possível sem o empenho do poder local (conheci um "öberburgermeister" que nada tinha de Rui Rio) e o entusiasmo de toda a gente. A Staatskapelle Dresden, que vemos no filme, é uma orquestra que faz parte da identidade colectiva. Reconduzi-la ao estatuto internacional que lhe era devido foi um desígnio da cidade (e do estado da Saxónia), entre muitos outros relacionados com as actividades culturais.

Finalizando, para explicar por que pus "um músico" em título, este post é também homenagem a Giuseppe Sinopoli, o italiano que foi maestro titular da Staatskapelle Dresden entre 1992 e 2001, ano em que morreu, de ataque cardíaco, quando regia, em Berlim, uma representação da Aida, de Verdi. Sinopoli, notabilizado, por exemplo, pelas interpretações de Richard Strauss, era, também, psiquiatra, e foi sepultado no dia em que deveria ter concluído a licenciatura em Arqueologia, que lhe foi postumamente concedida. Um homem especial, com certeza, além de ser uma delícia ver o entusiasmo que demonstrava ao comando de uma orquestra sinfónica. Os primeiros segundos deste filme são elucidativos.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A estes, até o Rui Rio dava um subsídio... Digo eu de que...

00:42

 

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