0 comments | quinta-feira, novembro 16, 2006

"O referendo ao aborto é, provavelmente, uma das mais insidiosas manifestações do despotismo da multidão sobre a individualidade humana que Portugal conheceu desde que vive em democracia."

Esta purulência demagógica foi escrita, há pouco, por "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas". Pelos vistos, é apologista da liberdade condicionada, formatada, não pela multidão mas pelo Estado. Ou seja, ser liberal pode significar, portanto, dar uns golpes de rins, comer uns sapos como os que Cunhal deglutiu quando apelou ao voto em Soares. Nada de novo, já assim foi nos idos de oitocentos, quando os liberais tinham razão de ser e se fizeram poder...

Por se arrogar doutrinador, "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas" tem o arrojo de sugerir que o resultado deste referendo condiciona a dita "individualidade humana", usando da mais rebuscada argumentação que já vi, baseada no pressuposto (nojento pressuposto, de resto) de que à despenalização corresponde a vulgarização, daí advindo uma cadeia de malefícios que resultará na implosão da espécie humana (dedução minha, talvez abusiva, feita porque não quero discutir o conceito de individualidade ali posto por "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas").

Para filho do racionalismo, "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas" é demasiado profético.

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O que me incomoda mesmo é que gente como "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas", reduzindo todas as questões a uma doutrina que, afinal, quer impor aos restantes (meta típica dos neo-conservadores, que queriam espalhar a democracia, no sentido americano do termo, a todo o mundo, mesmo à força da bomba e ao ritmo da metralhadora), tenha possibilidade de, influenciando os crentes, manter Portugal ao sabor da vergonha e do atraso legislativo.

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