3 comments | quarta-feira, novembro 30, 2005

Sem muito vagar para o blogue, ao longo desta semana, e porque sou um blogueiro de trazer por casa (passe a contradição, que o meu problema é não ter internet em casa...), deixo aqui duas notas com outros tantos dias de atraso.

Desfaçatez 1

Luís Filipe Menezes, jovialmente estimulado pelo jornalista Mário Crespo, comparou a retirada de crucifixos das escolas públicas à destruição, pelos talibans afegãos, dos budas de Bamyan, património da Humanidade. Reconhecendo que não são estúpidos, apenas consigo ver nisso uma manifestação de desonestidade intelectual.


Desfaçatez 2

Mário Lino, ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, foi à televisão dizer que a Ota é a salvação da pátria. Os interesses do Norte foram (mal) representados por Ludgero Marques. Mas voltemos ao governante: disse que o aeroporto da Ota não é um aeroporto de Lisboa, mas sim o aeroporto de Portugal (a apresentadora, aculturada pelo espírito centralizador, também falou, a dada altura do "aeroporto da Finlândia", que presumo ser em Helsínquia); disse, para explicar que tem havido muito investimento público no Norte, que o Metro do Porto, feito em tão pouco tempo, já tem 70 km de linhas, bem mais do que o de Lisboa, que anda a ser feito há sei lá quantos anos (esqueceu-se de dizer que esses 70 km só existirão quando houver ligação à Trofa e à Póvoa de Varzim; esqueceu-se de dizer que, pelas características que tem, o metro de Lisboa é muito mais caro; esqueceu-se de dizer que o metro do Porto anda quase sempre à superfície e, ainda por cima, utiliza, na maior fatia da sua extensão, antigos corredores ferroviários, ou seja, foi quase só mudar carris e catenárias; usou um investimento que já foi feito para branquear um mega-investimento que se quer fazer); disse mais umas piadas do género. Reconhecendo que não é estúpido, apenas consigo ver nisso uma manifestação de desonestidade intelectual.

3 comments | domingo, novembro 27, 2005

Foto de POS
Ponta Delgada, S. Miguel

Tantas são as peculiaridades anedóticas da blogosfera portuguesa!... Quando França interditou aos estudantes o uso de símbolos religiosos, toda a gente tinha opinião. Agora, que o nosso Governo mandou retirar os crucifixos da escolas públicas, parece-me que estão todos calados que nem ratos.

Antes que concluam alguma coisa, devo esclarecer que, para mim, as duas situações são claramente distintas. Se em França estava a jogar-se com a individualidade dos alunos, seja opção ou imposição, a medida agora conhecida em Portugal é um reflexo necessário da separação entre o Estado e a Igreja. De tal forma a decisão me parece óbvia que, quando vi as notícias, só perguntei, na ignorância de quem já saiu da escola primária há uns tempos: "O quê? Ainda há crucifixos nas salas?!...".

Hoje foi dia de reacções, com as excelências reverendíssimas episcopais a atirarem-se ao ar, vendo desvanecer-se mais um pouco do incontestado poderio construído ao longo dos séculos. Mas houve uma outra reacção, que talvez esteja associada ao silêncio de muitos blogues, em particular por parte de alguns liberais que andam a engolir sapos. O candidato Cavaco está "surpreendido". Passo a citar, do "Correio da Manhã": "Nos termos constitucionais, há uma separação entre o Estado e a Igreja, mas não se pode ignorar que na sociedade portuguesa predominam os valores do Catolicismo".

Serão estas opiniões que qualificam um presidente da República? Como já tornei público, com a minha cruz é que ele não conta.

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Direitos reservados

Há tempos, em conversa com um reputado cronista deste reino, entre outras facetas que contribuem para que reputado seja, velho camarada destas coisas, que não os blogues, aproveitei para maldizer as crónicas sobre a falta de assunto, tentação que, por vezes, abraça sem esboço de resistência (a crónica, diz o cronista à crónica, responde a crónica ao cronista...). Por respeito e admiração, só lhe disse que a coisa não tinha jeito nenhum, mas acho mesmo que o subterfúgio para encher papel é uma xaropada.

Um dia, ouvi Saramago dizer que o drama da folha em branco é um disparate (lembro-me lá com que palavras...), negar por completo a existência da inspiração e apontar o trabalho como verdadeira fonte da arte em escrita. Tem toda a razão e não tem razão nenhuma. Mente quem diz que escreve ao correr da pena, mente quem diz que a escrita é apenas corolário de um esforço. Ou seja, não há anjos que nos povoem a imaginação, ditando o brilhantismo que uma soma de palavras poderá encerrar, tal como ninguém escreve apenas por saber todo o vocabulário, por recitar as regras gramaticais ou porque investiu em papel e tinta, forma tradicional destes computadores com processador de texto.

Ora, se José Saramago é um escritor brilhante, por mais que o neguem os que lidam mal com o triunfo alheio, não o é apenas por trabalhar a palavra. Nem o dito cronista, que é poeta, novelista, enfim, que é artista, deve encostar-se à rotina de muitos anos para resolver o problema da falta de assunto, ou seja, mandando às malvas essa maçada do trabalho. Entorna-se o caldo, porém, quando escrever significa honrar compromissos e a dormência das ideias não ajuda. Às vezes, é a necessidade de tapar o buraco que nos põe em piloto automático, escolhendo palavras, agrupando-as, inventando-lhes aparente coerência.

Ao erguermos uma precária parede de frases, convencidos de que alguém nelas descobrirá o sentido que as firma, apenas rezamos para que o vento abrande, a terra não trema e ninguém as faça desabar com a sacudidela de um olhar crítico. Na verdade, o que queremos é que ninguém repare muito nelas, que as deixe ganhar repouso sob a poeira que as cobrirá. Até nos blogues, estranhas crias que nos pedem sustento, pode acontecer que apenas lhes possamos dar uma malga de caldo, esgotado que esteja o orçamento mental para escrever bifes do lombo. Assim fiz agora mesmo. Podia ter estado quieto, é certo, mas as mãos mexem-se sozinhas, mesmo se pouco inspiradas.

2 comments | quinta-feira, novembro 24, 2005

Não, não é aqui que poderão ler uma análise profunda de méritos e misérias da obra de regime planeada por Sócrates. São mais que muitas as opiniões sobre o assunto, e a minha nada acrescentaria, mas posso dizer que me identifico, de algum modo, com o ponto de vista do presidente da Associação Comercial do Porto, que vê em todo o processo mais um gesto de desprezo por esta cidade e pelo Norte de Portugal. Também não vou descrever aqui com que argumentos, mas a visão de Rui Moreira, mais pragmática, adequa-se à situação, ao invés da postura dos que, na habitualmente-inócua-postura-académica-que-usam-para-construir-alguma-notoriedade, andam para aí a promover microcausas sobre a divulgação de estudos, para que possam dar umas alfinetadas aos adversários, nos fóruns de discussão em que se popularizam.

O que me interessa é dizer que o desígnio nacional de Sócrates (e, claro, entra neste saco a forma como o TGV ou lá o que é foi programado) é, exclusivamente, um desígnio centralista. Também poderia aqui escrever quilómetros de palavreado justificativo, mas permito-me apenas recordar o que, noutras ocasiões, por cá disse a propósito de Lisboa, não enquanto cidade, com os respectivos habitantes, mas enquanto conceito de poder central, não apenas na política, que absorve tudo o que haja em redor (aqui, por exemplo). Permito-me destacar, agora, a definição que fiz desse conceito a que, por comodidade, chamo Lisboa: "O que é “Lisboa”? Para o que aqui interessa, é uma mentalidade emanada de centros de decisão fechados neles mesmos, sejam políticos ou empresariais, bem como do monopólio de fazedores de opinião de Portugal."

Ou seja, falo de Lisboa enquanto mentalidade do poder, não a identidade dos lisboetas, esta tão válida como a minha condição de portuense. Essa mentalidade do poder, saliento, transforma em alfacinhas todos os que vivem, directa ou indirectamente, em torno desse aparelho do Estado. A propósito da Ota, refiro (de cor e em discurso indirecto) duas frases que ouvi a Jorge Coelho, no programa "Quadratura do círculo" (SIC Notícias).
  • pronunciando-se sobre a possibilidade de, em vez da Ota, haver dois aeroportos na zona de Lisboa (algo de que já se falou várias vezes, desviando para uma segunda estrutura os voos "low cost"), disse que Portugal não tem capacidade para ter dois aeroportos;
  • louvando os méritos da OTA (a 50 km da capital, um projecto feito para servir a capital), salientou que o Governo estava a promover o desenvolvimento de uma região.

Portugal em vez de Lisboa, uma região (implicitamente esquecida) em vez de Lisboa (sempre lembrada). É preciso dizer mais?...

P.S. Ainda não consegui perceber por que é que o aeroporto de Lisboa é a chave para o desenvolvimento deste país. A mans's gotta know his limitations...

1 comments | terça-feira, novembro 22, 2005

Estou por cá, estou, mas sem blogar... assim acontece.

0 comments | quinta-feira, novembro 17, 2005

Foto de POS
Promontório da Espalamaca, Horta, Faial

Pus-te no horizonte, onde quer que a vista alcance quando fecho os olhos. Mas tudo escurece se os abro. Foge a maresia, cala-se o embalo das ondas, seca a pele em que senti o salitre de um beijo demorado. De olhos abertos, vejo néon, mecânica, electrónica. Devo cerrá-los para que a vida seja mundo, para que o coração cumpra o que lhe ensinaste, atento às cores, às formas de um sorriso, ao repouso absoluto na palma da tua mão. Pus-te sobre as águas, mas apenas vejo, não posso ir mar adentro. Quieto, pequeno, calado. Sorvendo este viver de ver que me é dado, aprendendo a cada dia, nos olhos onde em ti repouso, que as nossas almas, algures, dançam abraçadas.

0 comments | quarta-feira, novembro 16, 2005

Recapitulação da matéria dada: blogue é um aportuguesamento de blog, versão curta de weblog, palavra que resulta da aglutinação de web (rede) com log (o diário de bordo dos marinheiros). Na verdade, um blogue é o que se quiser lá meter. Mas há blogues que, na realidade, são mais fóruns de discussão do que diários. Nada de mal nisso. Já a coisa da Câmara do Porto é nada. Recuso-me a fazer link para lá, porque mais não é do que o avolumar da mentalidade delirante de que dei conta há dias.

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Ao longo de uma dezena de minutos, li e reli esta coisa várias vezes (caso o apontador directo não funcione bem, estou referir-me ao texto que a cidadã Cristina Santos assina, no blogue "A Baixa do Porto", sob o título "Inversão de papéis"). Estive mais uma dezena de minutos a pensar se havia, ou não, de fazer um comentário, para o referido blogue, explicando, civilizadamente, a gravidade do que foi escrito. Desisti, ou não estaria a pôr aqui esta nota. A coisa é tão abstrusa, tão absurda... Não adianta, a minha veia pedagógica está entupida. Se alguém é capaz de escrever tais barbaridades, julgando estar a reflectir sobre o exercício da cidadania, nunca entenderia o que eu pudesse dizer. Põe em causa, com uma ligeireza chocante, os fundamentos da Democracia e da Liberdade. E talvez nem saiba que o faz. Como pode?...

P.S. - Pareça ou não, estou a ser o mais delicado que consigo.

3 comments | segunda-feira, novembro 14, 2005

_ Sim, caso contigo! _ respondeu-lhe.
Beijaram-se, apaixonados, e o mundo desapareceu. Tal como o volante, a estrada, a curva, a árvore que corria rumo àquele momento.
Morreram felizes, talvez para sempre.

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Dois miúdos jogavam à bola, no passeio. Passei por eles, calçavam sapatilhas luminosas, detestáveis, mas só fiquei incomodado quando um assobiou a melodia de "A ponte do rio Kwai". Não pela sonoridade, mas por saber que daqui a uns anos, quando ouvirem algum puto a trauteá-la, vão reconhecer apenas a música da "1.ª Companhia".

2 comments | domingo, novembro 13, 2005

Foto de POS
Avenida dos Aliados, Porto

Vou de folga, isso sim uma coisa simples.

4 comments | sábado, novembro 12, 2005

Foto de POS
Avenida dos Aliados, Porto

Não há sábado sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça. Sobre a missa não me pronuncio, sobre a preguiça também não, seja por não ir, seja por o meu calendário não ser fixo, isto é, tanto posso trabalhar à segunda-feira como estar de folga, assim será depois de amanhã. Apanhei boleia na nesga de sol que cortou este sábado chuvoso, meti-me no metro, a causa primeira da discórdia, e fui até à Baixa para dar uma espreitadela à concentração de protesto contra as obras em curso no eixo Praça do General Humberto Delgado-Avenida dos Aliados-Praça da Liberdade.

Evidentemente, não venho para aqui fazer apreciação de manifestações, concentrações ou seja lá o que forem, apenas me compete saudá-las. Enquanto deambulava por lá, encontrei um grande amigo, que não via há uns tempos, e com ele troquei algumas impressões. Contou-me que antes, sempre que mostrava a Avenida dos Aliados a estrangeiros a quem servisse de cicerone, eles ficavam maravilhados, motivo “suficiente” para abraçar a causa. “Fazias isso ao sábado ou ao domingo, imagino...”, comentei, já a ouvir a resposta afirmativa.

Claro que a conversa foi mais do que isto, meteu “vacas sagradas”, e eu admiti que haja por aí quem se julgue intocável, falou-se na degradação da Baixa, e disse-me ele que fica deprimido quando por ali anda, mais quando olha para cima do que quando o faz para o chão. Aí aplaudi, pois já estávamos a falar da desertificação, da degradação do edificado, das casas devolutas em que ninguém pega...

O meu amigo foi à vida dele, por ali fiquei eu alguns minutos, caladinho a beberricar o ambiente, até que fui avenida acima para apanhar de novo o meu meio de transporte, fatalmente a pensar na dita requalificação daquele espaço. E a verdade é que, por mais que pense, continuo à margem desta causa, embora admita que os contestatários têm razão, em diversos aspectos.

E volto a bater nas mesmas teclas. Os amigos estrangeiros do meu amigo ficavam maravilhados com a Avenida dos Aliados porque a viam despida da confusão, tal como agora está a ficar despida dos canteiros. E se falo em canteiros, esclareça-se desde já que gosto de flores, de cor, da frescura dos relvados, da possibilidade de me deitar neles (ali, só em noite de S. João recuada, já bem bebido...); e que me parece muito bem que tudo aquilo seja repensado. Quanto à falta de transparência no processo e o desrespeito por movimentos de cidadãos, nem precisarei de dizer muito, sou incondicionalmente contra todos os exercícios de autoritarismo e sobranceria do presidente da Câmara e respectivos muchachos.

Então, o que é que me incomoda? Que queiram pôr tudo como estava. Porquê? Porque acho que estava mal, naturalmente, e porque considero insensato o argumento de que alterar o traçado das ruas e a largura dos passeios mexe com a história da cidade. Isso, para mim, é absolutamente desprovido de sentido.

Incomoda-me que queiram pôr tudo como estava, porque estava mal, e volto a dizer que os cidadãos e o espaço conviviam em plena indiferença, porque era ponto de passar e não de ficar. E continuará a ser, se não fizerem mais. Muito mais.

Bem sei, já aqui disse coisas parecidas com estas. Importa ir um pouco além. Em primeiro lugar, a avenida nunca poderá ser como era, pois o alargamento dos passeios laterais é um facto mais do que consumado, devido às saídas da estação do metro. Ora, o metro é a coisa mais importante que se fez nesta terra, nas últimas dezenas de anos, e a lógica de funcionamento dele implica as estações existentes (estamos a falar de um “tramway” com troços subterrâneos, não de um metropolitano convencional). E o alargamento dos passeios laterais parece-me essencial à revitalização da avenida, desde logo porque continuará a haver trânsito, que demove os cidadãos de usufruirem da placa central. Mas porque, caminhando rumo à requalificação do comércio, poderão esses espaços tornar-se aprazíveis, vivos, vividos, partilhados (falo em esplanadas, até agora impossíveis, falo no que vos apetecer). Admito que nada venha a ser feito nesse sentido, mas parece-me o único caminho, se quisermos que a expressão “sala de visitas da cidade” deixe de ser tão despropositada.

Depois, há a questão do granito. Desculpar-me-ão os supostos defensores da calçada portuguesa, mas essa expressão não implica a obrigatoriedade de usar calcário e basalto. Com pequenos cubos de granito, que o há de várias tonalidades, podem fazer-se calçadas lindíssimas. É o material típico da região e, num espaço inclinado como aquele, não oferece o perigo de escorregadela permanente dos calhauzinhos brancos, numa cidade onde a chuva está sempre a tentar compensar a inoperância dos serviços de limpeza. Ou seja, não vejo problema no granito propriamente dito, posso apenas dizer que não gosto da tonalidade única, não gosto dos cubos grandotes e não gosto daquele padrão monótono em leque por ali abaixo. Mas também admito que possa estar enganado (quem sou eu?) e que a coisa, depois de pronta, até funcione. Já o granito nas faixas de rodagem é, para mim, uma imbecilidade, porque provocará considerável aumento do ruído e será uma permanente fonte de insegurança, para os automobilistas e, consequentemente, para os peões.

Sintetizando: concordo que se lute pela transparência e contra a autocracia de que há dias falava o Manuel António Pina, mas rejeito a ideia de querer pôr tudo como estava antes. A estação do metro está feita, é uma inegável mais-valia, embora ainda haja muita gente que o não entenda, e deve transformar-se numa oportunidade. Não no sentido em que Rui Rio usou a mesma expressão, unicamente para defender o que ele mesmo havia decidido, mas com o intuito de devolver realmente a Baixa aos cidadãos, que mais não é do que devolver os cidadãos à Baixa.

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Moi-même, outros tempos

...que isto de ser posto em destaque pela Charlotte dá a qualquer blogueiro uma sensação plena de dever cumprido, apenas compensável com o sono dos justos e os números a subir no site meter.

Claro que estou a brincar, mas a coisa sabe bem, porque o Bomba inteligente é, em vários aspectos, aquilo que um blog deve ser, na minha opinião (claro que é na minha opinião, ainda não percebi por que motivo se usa esta muleta): é sobre gosto e tem bom gosto, veicula ideias e é pessoal, sem sombras de uma enjoativa auto-exposição gratuita que, em determinados lugares, transforma os leitores em voyeurs, coisa que não me agrada por aí além.

2 comments | quarta-feira, novembro 09, 2005

Se não todos, muitos leitores da Fonte saberão que trabalho no "Jornal de Notícias". Estou aqui há quinze anos, se o pormenor vos interessar, o que, não sendo uma eternidade, já deu para ver muita coisa. Se me fizerem justiça, saberão que a profissão e o blogue são dimensões diferentes, pelo que as referências que aqui faço, por vezes, à actividade jornalística prendem-se com questões da essência e não da prática. Digo isto tudo para não pensarem que estou, apenas, a defender o JN ou algum alegado lobby de jornalistas (coisa absurda, para quem saiba o quão desunido é este grupo profissional). Portanto, aqui vai, curto e grosso:

O senhor presidente da Câmara Municipal do Porto e aqueles que o acolitam e iluminam, com opiniões de conhecedores de causa que passam à prática em forma de disparate, voltam a surpreender. Depois da decisão de dar entrevistas apenas por escrito, criando depois excepções para a TV, Rádio Festival e afins, Rui Rio e o respectivo "staff" deram início a um novo ramo de actividade: a crítica de Imprensa. À primeira vista, admito que possa ver-se nisso algo de natural, até um salutar exercício da liberdade de expressão. Mas não é. À uma, porque os senhores eleitos locais e acólitos não existem para fazer crítica de Imprensa, às duas porque não estão sujeitos aos instrumentos legais que responsabilizam quem faz jornalismo, críticos incluídos. Ou seja, se se sentem ofendidos e atacados, é noutros espaços que terão de dirimir as questões. Não no "site" da Câmara, que todos pagamos e que deve servir para uma aproximação saudável do poder aos cidadãos. Não para ser usado como veículo de propaganda, o que é, claramente, o caso.

1 comments | terça-feira, novembro 08, 2005

Foto de POS

Foto de POS
Da minha janela

Há no ar esta cinza que me escurece. Não chega a chuva para limpar o céu, aí vem a noite precoce dos novembros. O fogo diurno está para lá da cinza, sei-o, mas não posso vê-lo de perto. Adivinho, apenas, um batimento de braços, pássaro hesitante nas incertezas de além-ninho. Não voo, não há em mim a audácia impensada de um ícaro, falta-me a natureza decidida das gaivotas, o poder de enfrentar o vento, a força de furar as nuvens para rever um instante de calor. Podemos aprender a amar a chuva, é certo, mas o azul do céu vicia. Quando se esconde, deixa-nos imersos numa ressaca de saudades.

Nota: saí sem guarda-chuva e nem sempre apetece andar por aí singing in the rain.

3 comments | sábado, novembro 05, 2005

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS
S. Pedro de Rates, Póvoa de Varzim

Dizer que Bento de Nursia é o “pai da Europa” é um chavão algo disparatado, entre tantos outros. O senhor mais não queria do que levar a cabo uma experiência de cenobitismo, em Monte Cassino ou lá onde foi, e escreveu uma regra à maneira do tempo, ou seja, copiando outras, acrescentando o que entendeu acrescentar, retirando o que entendeu retirar. Mas é certo que a Regra de S. Bento foi determinante na construção da Europa, em especial através da rede de mosteiros criada pelos monges negros cluniacenses, veículos privilegiados da reforma da Igreja, dita Gregoriana. Ora, Portugal, mesmo antes de ser Portugal, já era o atraso de vida que é hoje, ou seja, tudo sempre cá chegou com atraso. Portanto, quando a reforma cá chegou, já o poderio de Cluny estava a ser ofuscado por beneditinos de outra ordem, os monges de Cister, cujo papel neste nosso reino foi muito mais relevante. Mas para que estou eu aqui a dizer estas generalidades? Porque o mosteiro de S. Pedro de Rates, doado pelo conde D. Henrique à abadia de La Charité sur Loire, acabou por ser o único, no que agora é Portugal, a ter filiação directa em Cluny. Ou seja, a igreja românica que aqui mostro, o que resta hoje desse mosteiro, tem uma importância extraordinária. Apresento-a como exemplo de valorização do património, conservada pelo uso que nunca deixou de ter, pelo arranjo cuidado da zona envolvente, pelo razoável esclarecimento propiciado aos visitantes, que, inclusivamente, têm ao dispor um núcleo museológico com algum interesse. Vai-se lá de propósito, a essa aldeia à margem da estrada que liga Vila do Conde a Vila Nova de Famalicão. É exemplo por ser ainda excepção, e isso é que está mal.

0 comments | sexta-feira, novembro 04, 2005

Anda por aí um tal de Nuno M., moço aqui da fábrica, armado em "graphic advisor" (será que isto existe?) cá da tasca, implicando sucessivamente com os meus olhos. Já para não falar de outro, para quem a imagem anterior, a tal psicadélica, tinha a ver com cogumelos mexicanos... Vou-lhes fazendo as vontadinhas. Leitores que são, têm sempre razão enquanto me apetecer dá-la...

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Foto de POS
Travessa do Gólgota, Porto

A propósito da minha modesta e incipiente cruzada contra o vandalismo com tinta, bem mais do que uma microcausa (digo eu), regresso à minha segunda série de exemplos para salientar a atitude da Metro do Porto, que, ao cabo de dois dias, anulou as pichagens na estação de Faria Guimarães. Pecados e pecadilhos terá a dita empresa, mas este gesto merece destaque, indo ao encontro da opinião de vários urbanistas, que consideram ser necessário, para combater a destruição, repor de imediato o que tenha sido destruído, caso tal seja possível (tenho resistido a atravessar a rua para fotografar a miséria feita ao monumento à Guerra Peninsular, na Boavista).

1 comments | quinta-feira, novembro 03, 2005

Foto de POS

Se procurarmos, podemos aprender a amar a chuva.

4 comments | quarta-feira, novembro 02, 2005

Agora, tirei daqui a minha foto psicadélica. Voltam os olhos, mas menos arregalados. É o que se arranja.

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Ao escrever o post anterior, apercebi-me de que a lógica de arquivamento do Blogger fez desaparecer o texto que escrevi, a 10 de Setembro, quando um dos meus amigos de quatro patas, de sua graça Aartois do Bosque d'Uccle, ascendeu ao nirvana canino. Não me agradou que desaparecesse desta página, pelo que a foto dele, com link permanente para o referido texto, passa a estar na coluna da direita.

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Não quero desenvolver muito a ideia, mas reparo que os blogues não têm prestado grande atenção aos ex-jornalistas que desaguam em Vila Nova de Gaia. Quero só dizer que o jornalismo é uma profissão digna, imprescindível ao funcionamento da democracia, que implica uma permanente auto-responsabilização, assente em preceitos éticos e deontológicos claramente definidos. É jornalista quem compreende isso.

6 comments | terça-feira, novembro 01, 2005

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS

Foto de POS
Madalena, Pico

Cá ponho as fotos dos dragoeiros do Museu do Vinho, na ilha do Pico, por causa do que aqui está explicado.