2 comments | quinta-feira, novembro 24, 2005

Não, não é aqui que poderão ler uma análise profunda de méritos e misérias da obra de regime planeada por Sócrates. São mais que muitas as opiniões sobre o assunto, e a minha nada acrescentaria, mas posso dizer que me identifico, de algum modo, com o ponto de vista do presidente da Associação Comercial do Porto, que vê em todo o processo mais um gesto de desprezo por esta cidade e pelo Norte de Portugal. Também não vou descrever aqui com que argumentos, mas a visão de Rui Moreira, mais pragmática, adequa-se à situação, ao invés da postura dos que, na habitualmente-inócua-postura-académica-que-usam-para-construir-alguma-notoriedade, andam para aí a promover microcausas sobre a divulgação de estudos, para que possam dar umas alfinetadas aos adversários, nos fóruns de discussão em que se popularizam.

O que me interessa é dizer que o desígnio nacional de Sócrates (e, claro, entra neste saco a forma como o TGV ou lá o que é foi programado) é, exclusivamente, um desígnio centralista. Também poderia aqui escrever quilómetros de palavreado justificativo, mas permito-me apenas recordar o que, noutras ocasiões, por cá disse a propósito de Lisboa, não enquanto cidade, com os respectivos habitantes, mas enquanto conceito de poder central, não apenas na política, que absorve tudo o que haja em redor (aqui, por exemplo). Permito-me destacar, agora, a definição que fiz desse conceito a que, por comodidade, chamo Lisboa: "O que é “Lisboa”? Para o que aqui interessa, é uma mentalidade emanada de centros de decisão fechados neles mesmos, sejam políticos ou empresariais, bem como do monopólio de fazedores de opinião de Portugal."

Ou seja, falo de Lisboa enquanto mentalidade do poder, não a identidade dos lisboetas, esta tão válida como a minha condição de portuense. Essa mentalidade do poder, saliento, transforma em alfacinhas todos os que vivem, directa ou indirectamente, em torno desse aparelho do Estado. A propósito da Ota, refiro (de cor e em discurso indirecto) duas frases que ouvi a Jorge Coelho, no programa "Quadratura do círculo" (SIC Notícias).
  • pronunciando-se sobre a possibilidade de, em vez da Ota, haver dois aeroportos na zona de Lisboa (algo de que já se falou várias vezes, desviando para uma segunda estrutura os voos "low cost"), disse que Portugal não tem capacidade para ter dois aeroportos;
  • louvando os méritos da OTA (a 50 km da capital, um projecto feito para servir a capital), salientou que o Governo estava a promover o desenvolvimento de uma região.

Portugal em vez de Lisboa, uma região (implicitamente esquecida) em vez de Lisboa (sempre lembrada). É preciso dizer mais?...

P.S. Ainda não consegui perceber por que é que o aeroporto de Lisboa é a chave para o desenvolvimento deste país. A mans's gotta know his limitations...

2 Comments:

Blogger Emilia Miranda said...

Com ota ou sem ela, mas sem qualquer "batota", amanhã teremos Palavras Ilustradas no Museu Nogueira da Silva (não, não é em Lisboa, é em Braga, como sabe.)
Um abraço dos pequenotes e outro meu,
Emília.

15:11

 
Blogger POS said...

Eu até tenho vergonha, Emília...

Obrigado pela visita.

16:48

 

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