0 comments | segunda-feira, fevereiro 26, 2007


Martins Scorsese teve a consagração que há muito lhe era devida, e os americanos prezam muito estas coisas. Um dos maiores cineastas de sempre recebeu o Óscar que lhe vinha sendo negado. Hitchcock nunca o teve e nem por isso deixa de ser Hitchcock. Mas era inglês. De algum modo, lamento que o remorso da Academia tenha levado a que o filme de Marty, "The Departed", tenha levado a estatueta para o melhor filme (a tal que é votada por toda a gente). "Babel" merecia.
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Nota - Suponho que os comentadores da generalidade dos canais de televisão não passam por aqui, ou ensinar-lhes-ia pacientemente como se pronunciam alguns nomes... é que nem isso (algo que é básico, essencial, elementar) sabem fazer: por exemplo, Whitaker, para essa gente, continua a ser "uíteiker"... E mais. De uma vez por todas: Stephen lê-se exactamente da mesma maneira que Steven, se estamos a falar de anglo-saxões. Tenho um primo que se chama Stephen, Stephen Reckert, americano de Indiana que há muitos anos divide a vida entre Inglaterra e Portugal. E fica furioso quando o tratam por "Stéfan": "Não sou sueco nem alemão!...". Já agora, o Stephen, marido de uma prima da minha mãe, deixou há muito os Estados Unidos, mas é americano como todos os outros, ou seja, preza largamente a nacionalidade. Porém, tem uma postura engraçada. Portador de passaportes americano e britânico, prometeu que apenas usará o do Reino Unido enquanto George W. Bush for presidente. É que há gente decente neste mundo.

1 comments | quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Foto de POS

Ser cão é, realmente, do mais cansativo que há...

0 comments | segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Tenrinho seria se me surpreendesse com as folias do rei momo que habita a Quinta da Vigia. Demite-se porque não está agarrado ao cargo e recandidata-se porque não foge às responsabilidades. Alegadamente. Dizendo-se perseguido pelo partido que governa o país, vai criando no eleitorado que o sustenta (saberão os madeirenses porquê) a nítida imagem do inimigo "colonialista" e rotulando desde logo a oposição interna que poderia ter (fraca, talvez, sempre incipiente), cortando as veleidades dessas forças aliadas aos malfeitores. E pisca o olho aos descamisados do continente, solidarizando-se no combate ao centralismo lisboeta. Assim, não vá dar-se a ínfima possibilidade de o tiro lhe sair pela culatra, prolonga o mandato até 2012. O centralismo lisboeta existe, sim, mas não se combate subvertendo a democracia e transformando-a em mecanismo de uma autocracia legitimada. Bastou apertar a torneira que tão copiosamente tem feito jorrar fundos sobre a região autónoma, accionada por pressões a que nos habituámos e com a eterna complacência (ou receio) do poder central, para voltarmos a ouvir o rugido alarve da sanha anticontinental. Agora, os colonialistas saberão com quantas bananas se faz uma canoa. Uma canoa que não deve inspirar confiança, pois precisa do Estado português para se aguentar à tona do Atlântico. Uma canoa feita de folclore e fogo de artifício, julgo eu que alheia ao sentimento dos madeirenses, que se julgarão portugueses e não pobres oprimidos sob a canga da potência colonial (potência colonial, isto?...). Mas voltarão, decerto, a dar o aval à boçalidade.

Nem sou dado a essas coisas do patriotismo, mas parece-me adequado, neste momento, deixar aqui a enorme Dulce Pontes, cantando "O Amor a Portugal" sobre o tema de "C'era una volta il West", do genial (tantos adjectivos) Ennio Morricone.

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As eleições antecipadas na Madeira são pagas no âmbito da nova Lei das Finanças Regionais?

0 comments | sexta-feira, fevereiro 16, 2007



Espetar com vídeos do YouTube pode parecer sintoma de preguiça, no que à alimentação do blogue diz respeito. Sê-lo-á, por vezes, mas garanto que não é a norma. O que eu ponho aqui transmite sempre alguma coisa, nem que seja, como no caso, a tentativa de partilhar a alegria que pode dar a música dita clássica a quem a ouve. Já para não dizer a quem a interpreta, algo em que a Berliner Philharmoniker, uma das mais notáveis orquestras do mundo, é sempre paradigmática. Aqui a temos, dirigida pelo grande Claudio Abbado, em 1996, com a Dança Húngara n.º 5, de Johannes Brahms. É rápido e vale a pena. Mesmo.

0 comments | quinta-feira, fevereiro 15, 2007

No espaço territorial de uma aldeia chamada Vimieiro, entre a casa térrea onde nasceu e a campa rasa onde o sepultaram, Oliveira Salazar renasceu em austera glória, pela mão do zeloso Jaime Nogueira Pinto, que teve o desvelo de fazer um retrato televisivo do ditador em que a sigla "PIDE" não foi pronunciada uma só vez. Honra lhe seja, estava encarregado de defender a figura e assim fez. Por isso, a Guerra Colonial perpassou como um episódio disfarçado e as referências a repressão (terei ouvido bem "detenções preventivas"?...) foram ilustradas, a título comparativo, com imagens do brutal terror implementado por Estaline noutras paragens. E, para contestar os que acusam o velho "Botas" de ter atrasado o país, atirou com a crueza de alguns números da coisa económica, ignorando o atraso estrutural, que mexe, mais do que com coisas, com a multidão de pessoas mantidas numa modorra mental que, julgaria ele, fazia cumprir os desígnios da nação.

Está certo que isto dos "Grandes Portugueses" é um jogo, legítimo será, também, o papel de advogado do diabo, não importa se por devoção à chifruda criatura. Todavia, o público, essa vasta entidade que tem fé em tudo o que a televisão lhe impinge, raramente saberá ter um olhar crítico sobre as encomiásticas verdades reduzidas que lhe entram em casa.

P.S. - Falei há dias do programa sobre D. Afonso Henriques, viro-me agora para o de AOS. Pelo meio, ignorei a "biografia" de Álvaro Cunhal. A verdade é que não vi, mas não me custa a adivinhar que Odete Santos, a defensora do líder histórico dos comunistas portugueses, também tinha tido este peculiar brilhantismo na oração panegírica que proferiu. A fé tem dessas coisas.

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0 comments | sábado, fevereiro 10, 2007


Sendo eu alheio a esses desígnios nacionais (a avaliar pela cobertura televisiva) que são o Pinhalnovense-Sporting e o Varzim-benfica, ao que acresce a circunstância de estar a reflectir, por imperativo legal, naquilo que já há muito decidi, resta-me dar-vos música. Esta é rapidinha, pouco mais de dois minutos, e pôs-me mais novo, o que convém, a 52 dias de fazer qkhjkagh anos. Mike Oldfield, em Montreux, numa empolgante versão do "Sailor's Hornpipe". Até dá vontade de comer espinafres e dizer à Olívia Palito que é boa como o milho.

0 comments | sexta-feira, fevereiro 09, 2007



A anteceder o referendo, Sarah Chang interpreta "Aires Zíngaros", de Pablo de Sarasate, ao lado da Berliner Philharmoniker, regida por Plácido Domingo. Se algo há ainda a reflectir, façam-no ao som de música.

0 comments | quinta-feira, fevereiro 08, 2007

É cedo no relógio e vou para a toca, mergulhar num copo de vinho e num vinhedo de livros e papéis. Chove na noite escura, mas os prados continuam verdes, lá longe, onde o sol aquece. Ou cá dentro, de olhos fechados e braços abertos, voando para lá das nuvens e de todo o negrume.

5 comments | quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Até parece que passo a vida a ver televisão, mas enfim... Chamou-me a atenção, ontem, o primeiro documentário sobre os finalistas desse passatempo dos Grandes Portugueses. Afonso Henriques visto por Leonor Pinhão. Eu não voto, mas, se já era verdade que nunca votaria no primeiro rei, mais certo seria agora que o não fizesse. Houve imprecisões várias, mas isso é inevitável quando se fala de alguém de quem a posteridade sabe, realmente, muito pouco. Algumas imprecisões mais ingénuas, como omitir que a versão contada do "milagre de Ourique" foi fabricada no século XVII, já que, originalmente, não tinha sido o próprio Cristo crucificado a aparecer ao monarca, mas S. Tiago... Mas essas imprecisões pouco importam, já disse. A figura, envolta na bruma dos séculos, presta-se a isso. Porém, há exageros insuportáveis, como a preocupação de tentar "demonstrar" que Portugal só o foi após a conquista de Lisboa...

Vindo de quem vem, não surpreende, ou não vivesse a autora ao serviço do benfica. É que pouca gente se lembraria de abrir um programa sobre D. Afonso Henriques com imagens de Eusébio da Silva Ferreira...

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0 comments | terça-feira, fevereiro 06, 2007

Embora o meu envolvimento na campanha seja nulo, pois nada pesam as palavras que aqui vou alinhavando, há que manter alguma cordialidade em relação ao outro lado. E o blogue ressente-se: poucas pessoas suscitam tanta vontade de postar como a dona Laurinda Alves. Mas sou um menino bem comportado.

1 comments | segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Em confronto com a clareza da pergunta do referendo temos, aqui e ali, um turvo véu de dúvidas erguido por defensores do "não", com destaque para Marcelo Rebelo de Sousa, que nada tem de burro, pelo que, a meu ver, usa generosa dose de doce veneno nas suas intervenções (ou não fosse ele o primeiro causador desta salgalhada de levar às urnas uma questão que a Assembleia da República tem competência e legitimidade para resolver). Poucos lerão o que aqui se escreve, mas sinto-me obrigado a insistir nestes assuntos, justificando o meu sentido de voto. Um sentido que está, todo, na pergunta.

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez,..." - SIM, concordo, porque é uma ignomínia ter uma lei que persegue as mulheres, por terem tomado uma decisão duríssima - "... se realizada, por opção da mulher,..." - SIM, porque, embora o ideal seja que a mulher não esteja sozinha e deva haver co-responsabilização do progenitor, a vontade da mulher tem de ser salvaguardada, para combater a coacção a que possa ser sujeita - "...nas primeiras dez semanas,..." - SIM, porque uma lei tem traçar limites (os juristas saberão desses imperativos formais) e esse prazo, inferior ao praticado noutros países, é tido como razoável por muitos especialistas abalizados - "...em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?" - SIM, porque, para combater o aborto clandestino, como já aqui escrevi, há que torná-lo desnecessário; sem esta ressalva, estar-se-ia, de certo modo, a aplaudir a vergonha de vão de escada, que o "não" implicitamente apoia.

Isto parece-me tão claro que, quando ouço os argumentos demagógicos que por aí andam, tendo a impacientar-me. Porque vejo mais crueldade (em nome de jogos de poder, políticos ou religiosos) do que burrice.

Contrariamente ao que por aí se ouve, o aborto despenalizado e regulamentado será tão livre como o é agora. Porque não há leis que determinem a intimidade, e a mulher que decide avançar, em sofrimento e circunstâncias extremas, fá-lo-á. Claro que deverá haver aconselhamento, claro que as estruturas de saúde não podem ser um self-service de interrupções de gravidez, tal como não podem decidir, devendo haver um prazo curto (fala-se em dois dias) entre o aconselhamento e a decisão definitiva. Certo é que, no momento em que a mulher decidir mesmo, fá-lo-á. No domingo, decidiremos se queremos que continue a ser possível que o faça em condições degradantes. Decidiremos se uma sociedade justa é a que temos, empurrando para a morte mulheres mergulhadas em desespero.

Neste pequeno capítulo da nossa organização social que seremos chamados a decidir, votar SIM é, a meu ver, a única forma de progresso.

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1 comments | sábado, fevereiro 03, 2007



Não me apetece falar de futebol, vá lá saber-se porquê. Opto por algo mais improvável, um post a propósito de rock progressivo, género musical que sempre dividiu opiniões. Eu gosto, mas só quando me apetece. Apetece-me. Rick Wakeman, mago dos teclados, é um ícone do rock progressivo. Aí o temos, no solo de apresentação durante a digressão "An Evening Of Yes Music Plus", feita quando os Yes voltaram a juntar-se, em 1989, apresentando-se com os próprios apelidos: Anderson Bruford Wakeman Howe. Vale a pena - digo eu de que - ouvir este medley com pedaços dos temas "Gone But Not Forgotten", "Catherine Parr " e "MerlinThe Magician". Porque yes.

0 comments | quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Foto de POS
Autoqualquercoisa, 2006

O espelho, a cada dia, uma prova da existência, estímulo para repescar as memórias da véspera e construir avatares do amanhã que sempre será diferente. Olhamo-nos, procurando reconhecer algo, sempre perplexos com esse estranho que nos olha com familiaridade, ora sorridente, ora soturno. Então, um movimento brusco. Um esgar, a carantonha que não se faz em público ou, pelo menos, a qualquer público. O outro acompanha o movimento, é rápido a partilhar a insanidade com que o confrontamos. Não estás só - diz -, sou tão doido como tu. Olhamo-lo, depois, em pétrea pose de censura, para logo voltar o sorriso. Ágil, repete tudo. Parece alguém que conhecemos, uma imitação perfeita, impecável. Mas uma imitação. Há sempre algo desconcertante nesse companheiro das manhãs. O eu visto pelo eu, nunca o outro pelos outros visto.