Autoqualquercoisa, 2006
O espelho, a cada dia, uma prova da existência, estímulo para repescar as memórias da véspera e construir avatares do amanhã que sempre será diferente. Olhamo-nos, procurando reconhecer algo, sempre perplexos com esse estranho que nos olha com familiaridade, ora sorridente, ora soturno. Então, um movimento brusco. Um esgar, a carantonha que não se faz em público ou, pelo menos, a qualquer público. O outro acompanha o movimento, é rápido a partilhar a insanidade com que o confrontamos. Não estás só - diz -, sou tão doido como tu. Olhamo-lo, depois, em pétrea pose de censura, para logo voltar o sorriso. Ágil, repete tudo. Parece alguém que conhecemos, uma imitação perfeita, impecável. Mas uma imitação. Há sempre algo desconcertante nesse companheiro das manhãs. O eu visto pelo eu, nunca o outro pelos outros visto.
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