0 comments | quinta-feira, fevereiro 15, 2007

No espaço territorial de uma aldeia chamada Vimieiro, entre a casa térrea onde nasceu e a campa rasa onde o sepultaram, Oliveira Salazar renasceu em austera glória, pela mão do zeloso Jaime Nogueira Pinto, que teve o desvelo de fazer um retrato televisivo do ditador em que a sigla "PIDE" não foi pronunciada uma só vez. Honra lhe seja, estava encarregado de defender a figura e assim fez. Por isso, a Guerra Colonial perpassou como um episódio disfarçado e as referências a repressão (terei ouvido bem "detenções preventivas"?...) foram ilustradas, a título comparativo, com imagens do brutal terror implementado por Estaline noutras paragens. E, para contestar os que acusam o velho "Botas" de ter atrasado o país, atirou com a crueza de alguns números da coisa económica, ignorando o atraso estrutural, que mexe, mais do que com coisas, com a multidão de pessoas mantidas numa modorra mental que, julgaria ele, fazia cumprir os desígnios da nação.

Está certo que isto dos "Grandes Portugueses" é um jogo, legítimo será, também, o papel de advogado do diabo, não importa se por devoção à chifruda criatura. Todavia, o público, essa vasta entidade que tem fé em tudo o que a televisão lhe impinge, raramente saberá ter um olhar crítico sobre as encomiásticas verdades reduzidas que lhe entram em casa.

P.S. - Falei há dias do programa sobre D. Afonso Henriques, viro-me agora para o de AOS. Pelo meio, ignorei a "biografia" de Álvaro Cunhal. A verdade é que não vi, mas não me custa a adivinhar que Odete Santos, a defensora do líder histórico dos comunistas portugueses, também tinha tido este peculiar brilhantismo na oração panegírica que proferiu. A fé tem dessas coisas.

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