...essa ideia de pôr os pais a avaliar os professores é uma cretinice.
...cobardes.
...bajuladores.
... oportunistas.
...polvo.
... jornais gratuitos.
Que desordem por aí anda! Estão pegados uns com os outros, querem a mesma coisa, mas, afinal, não é a mesma coisa. Que Rangel fez de Carrilho trampolim para voltar a trazer a Ordem dos Jornalistas à agenda, toda a gente sabe. E toda a gente viu que o trampolim estava perro, ou seja, ninguém deu crédito ao senhor. Vai daí, há que marcar diferenças, em nome desse messiânico organismo. Moralista, honrado, disciplinador, castigador. E, acima de tudo, controlador. O que interessa é que lá estejam as pessoas adequadas. Eu, que não sei o que são pessoas adequadas mas sou contra essa ideia desgastada, divirto-me com estas coisas.
Sobre esta ideia de o Menezes levar a Feira do Livro para Vila Nova de Gaia, o que me irrita é que ele é capaz de o fazer e de o fazer bem. Eu, que até sou dos que entendem legítima a ideia de juntar Porto e Gaia na cidade que, de facto, são, fico furioso por saber que o presidente da Câmara da minha terra, o outro que perde duelos de fogo de vista e finge não se aperceber de tudo o resto que vai perdendo, não tem qualquer capacidade de resposta. Não tem qualquer capacidade. A ideia de querer devolver a Feira do Livro à Baixa é uma tontaria, é andar de cavalo para burro. Não é só por causa do ar livre, dir-me-ão que assim é em Lisboa. Mas o Parque Eduardo VII é grande, dá para montar pavilhões onde se façam outras actividades, tem tradição... Cá, não há tradição de local, pois o certame já andou por vários sítios. O problema é que o cavalheiro, pelos vistos, não saberá o que fazer da requalificação da Avenida dos Aliados, uma espécie de Edifício Transparente sem edifício. Ou seja, a feira deve ficar no Rosa Mota até ir para um espaço melhor, adequado à grandeza que se queira dar à coisa. Goste-se ou não de Menezes, o conceito dele é bom. E é um conceito, coisa que nunca entrará no vocabulário do outro.
A partir do momento em que se viu um porco a andar de bicicleta, como será o caso de todos os que agora tenham chegado à Fonte das Virtudes, é legítimo acreditar-se que poucas são as coisas, neste nosso mundo, passíveis de causar estupefacção. Mas todos temos consciência de que isso não é verdade. Sempre haverá alguém que detenha essa inefável capacidade de fazer, dizer ou escrever impunes vergastadas no bem-estar intelectual do próximo.
Tinha concluído, em assembleia geral com os apliques circulares pregados, em vertical alinhamento, ao longo da face frontal da camisa que então vestia, não escrever sobre o assunto Carrilho. Porque não quero que me acusem de corporativismo, porque não li o livro e tenho mais que ler, porque vejo o assunto como um desses folclores que agitam a superfície das águas com espalhafato, sem causar qualquer abanão nas profundezas, no caso, da política e do jornalismo. Uma perda de tempo, portanto.
Ontem, porém, mudei de ideias, os meus botões que me perdoem violar a decisão do colectivo. É que, numa livraria, passei pela polémica obra e dei por mim a folheá-la. Demorei alguns 30 segundos até fechar o livro, devolvê-lo ao escaparate e reforçar a ideia de que não me apetece voltar a olhar para tais páginas. Passo a explicar porquê. No capítulo dedicado ao tal caso do não aperto de mão, Manuel Maria Carrilho, num assomo de ingenuidade tão pouco consentâneo com a imagem de grande intelectual que alguns dele traçam, condena com basta adjectivação a atitude de Carmona Rodrigues, ao lembrar a polémica dos sanitários no Ministério da Cultura, e afirma com todas as letras ter ficado surpreendido, pois tal ataque, alegadamente baixo, era algo que nunca esperara. Logo a seguir, descreve que pôs tudo em pratos limpos, sacando dos papéis de que se havia munido a decisão judicial que o ilibava. Ora bem, tê-lo feito no debate foi uma atitude normal, homem prevenido vale por dois. Agora, escrever (e escrever sempre será um acto mais pensado do que as bojardas proferidas na refrega), do alto de um improvável Olimpo da moral, que tinha ali à mão os documentos para refutar uma acusação que nunca havia esperado, que em circunstância alguma julgou ser possível, que ultrapassou todas as expectativas... escrever isso, assumindo-se nas entrelinhas como o impoluto portador do divino verbo, em vez de notar apenas que tomou as necessárias precauções, é fazer de todos os leitores uma grande cambada de parvos.
Um pormenor desses é suficiente para que eu não queira ler "Sob o signo da verdade" (ah, quanto pedantismo cabe num título!...). Porém, já que estou com as mãos na massa, posso deixar algumas notas sobre o debate de segunda-feira à noite, que vi, pois a legitimidade para tal não tem qualquer relação directa com a leitura do livro. Fá-lo-ei da maneira fácil, dedicando um parágrafo a cada um dos principais intervenientes.
Manuel Maria Carrilho, devo confessá-lo, causa-me alguma pele de galinha. Escapa à minha inteligência que alguém, nos dias que correm, assuma o rótulo de filósofo. Até poderá sê-lo (quem não é?), mas assumi-lo, até porque não tenho informação de que tal mester conste do código das actividades económicas, não passa de pose, uma pose como a que Carrilho fez para a foto que pôs na capa dessas páginas que julga reveladoras e - pasme-se - corajosas. Mas isso, terei de reconhecer, é defeito meu. Não deverá interferir no meu juizo essa circunstância de um professor de Filosofia, por mais meritória e original que possa ser a obra que vai publicando (sei lá se é), ostentar o distanciador título de filósofo, algo que, porventura, lhe deveria ser dado pela posteridade, a única capaz de aferir com serenidade intelectual do dito mérito e da dita originalidade. Seja como for, não tenho muito a dizer sobre o Carrilho que foi ao debate. Aquele Carrilho que disparava ódio pelos olhos, aquele Carrilho que estuda a junção das mãos enquanto reflecte para dizer nada, aquele Carrilho que voltou a insistir nas acusações que se mostra incapaz de demonstrar. Não me compete dizer se ele tem ou não razão no que diz, justamente porque não sou capaz de demonstrá-lo. Porém, devo admitir que, nas relações entre políticos e jornalistas, com as agências de comunicação pelo meio etc. e tal, é perfeitamente possível que surjam casos de corrupção. Digo-o no abstracto, naturalmente, porque deles não tenho conhecimento palpável, isto é, de que possa fazer prova. O problema é que também Carrilho o diz no abstracto, tentando dar a imagem corajosa de que está a concretizar. Está visto, por um lado, que não concretiza nada. Mas, também, que falta ali qualquer coisa. É que, se sabe que há corrupção, sabe que há corrompidos e corruptores. Ora, contra os corruptores, isto é, os políticos que, supostamente, possam comprar opinião e coisas que tal, não diz uma palavra. Ou seja, age, nesse particular, como quando justifica ter cumprimentado sorridentemente, dias depois, o adversário que tão gravemente o havia ofendido, explicando ser essa a diferença entre público e privado (só alguém com cérebro de paramécia poderá acreditar que a filmagem do não aperto de mão foi ilegítima). Em suma, o antigo ministro da Cultura deixa, por mais que não queira, a imagem de alguém que não digeriu a derrota. Não sei se sabe de coisas ou se deixa de saber de coisas. Não o demonstra, não consegue ser credível, parece toldado pelo rancor e aparenta, sem disfarce, desprezar os antagonistas. E mais não será preciso dizer.
Emídio Rangel foi patético. Também ele, introdutor em Portugal do telelixo, do jornalismo transformado em espectáculo e cultor primeiro da encarniçada concorrência que tem transformado a televisão em objecto deformador das mentalidades, também ele, dizia, quis empunhar a bandeira da moralidade. Pode fazê-lo, claro, mas ninguém acredita. Não disse coisa com coisa quando pretendia estar a elevar o debate. Dizia que há bom jornalismo e mau jornalismo... Claro! É como o senhor de La Palice, que estaria vivo se não tivesse morrido ("hélas, s'il n'était pas mort, il ferait encore envie"). O problema é que Rangel não disse mais nada. De resto, limitou-se a perder a guerra de comadres com Ricardo Costa.
Ricardo Costa foi ao debate para se defender das acusações de Carrilho. Há quem diga para aí que foi muito bem preparado, direi eu que foi razoavelmente preparado. Porque se limitou à argumentação inconsequente, nunca sabendo mergulhar na discussão de fundo. Deitou por terra o que o amigo Emídio terá querido dizer, mas isso é absolutamente irrelevante. O mundo continua a girar sejam quais forem as historietas vividas pelos senhores das televisões. Exaltou-se também com Carrilho. Não devia, devia permitir que Carrilho fosse o único exaltado. E não soube justificar devidamente a questão do não aperto de mão, quando teria sido tão fácil: as atitudes de candidatos em campanha são sempre escrutináveis, pelo que nem se coloca a questão do público/privado, pois um estúdio de televisão em caso algum é espaço de intimidade; se os candidatos não sabem disso, pagam; por ter tomado consciência disso, Carrilho deu o tal "bacalhau" sorridente, dias depois, que, nessas circunstâncias, não passou de um tiro no pé.
José Pacheco Pereira é, pelos vistos, de outro campeonato. Mesmo sem fazer parte do clube de fãs, tenho de reconhecer que teve a única participação lúcida e inteligente no debate. Participação pouca, é certo, porque a lucidez nem sempre cabe nestes espaços de combate mediatizado. Desmontou as debilidades do livro de Carrilho facilmente, tentou elevar o debate sobre os media, questão a que consagra tantos dos seus escritos. Mas, como sempre, não deixou claro que também ele vive pelos media, que será ele dos que em Portugal melhor partido tiram dos media, se bem que num universo distinto dos que frequentam as páginas de revistas do coração. Diz que "quem vive pelos media morre pelos media". Ao sabê-lo, consegue estar em vantagem.
Um pouco de serviço público. Foi-me recomendado, há dias, o Portal Pimba, blogue que dá tratamento digno à Música Popular Alternativa (MPA). As belas notícias, as belas reportagens e, claro, as belas músicas. Obrigatório visitar. Deixo, a título de exemplo, alguns versos do refrão de uma das várias cantigas disponíveis de Leonel Nunes, que o blogue em causa, produzido na zona de Coimbra, aponta como "Rei da MPA".
Mil comboios de beijos,
Mil folhas de alface,
São razões para tu
Levares dois beijos na face.
Foto recolhida do blog Viagem pelas ruas da amargura.
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The Death Penalty in 2005: Saudi Arabia
In Saudi Arabia, people have been taken from their prison cells and executed without knowing that a death sentence has been passed against them. Others have been tried and sentenced to death in a language they didn’t speak or read. Saudi Arabia executed at least 86 people in 2005.
Texto recolhido do site da Amnistia Internacional.
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Foto concorrente ao World Press Photo de 2004, recolhida do site noticioso da BBC.
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energúmeno
substantivo masculino
1.
possesso do Demónio;
2.
figurado - pessoa que, dominada por uma obsessão, pratica desatinos;
3.
figurado - pessoa desprezível;
4.
figurado - ignorante;
(Do gr. energoúmenos, «possesso», pelo lat. energumènos, «possesso do demónio»)
Definição extraída do dicionário online da Porto Editora.
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"...Pessoalmente, vou empenhar-me na resolução desta situação, porque agora a minha situação política assim o permite. Isto é, permite-me administrar sem arranjinhos políticos..."
Extracto de declaração de Rui Rio, retirado do contexto e extraído do site da Câmara Municipal do Porto.
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(Estado de direito democrático)
A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.
Artigo 2.º da Constituição da República Portuguesa, extraído do site da Assembleia da República.
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Imagem do Reizinho, personagem que ocupava as tiras de jornais de outros tempos, extraída do blogue Cocanha.
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Cartaz do filme "Judge Dredd", de 1995, extraído daqui.
Facto: Ouço uma de quatro transeuntes que por mim passam dizer, ao ver exactamente o que a foto mostra: "Estamos a chegar! Já está ali a igreja da Praça!...".
Facto: O edifício em causa não integra a rede da diocese portucalense.
Dúvida: Se assim é, alguém poderá informar-me sobre a irmandade ou ordem religiosa que ali celebra o culto? E que culto é esse, já agora?
Portugal é o galo de Barcelos, já sabemos. É Fátima, no ar em simultâneo em quantos canais houver. Também é o Campo Pequeno, remodelado e mostrado às massas, de Norte a Sul, na certeza de que a tourada é tão portuguesa como se pretende que o fado seja. Portugal é o país que ouve e vê, em directos na abertura dos noticiários, um cidadão peçonhento a anunciar vinte e três cavalheiros que vão à Alemanha jogar à bola, com apelos ao patriotismo feitos em grande solenidade, como se na presumível selecção nacional de futebol residisse o segredo da retoma, emocional ou económica.
Luís Felipe Scolari é, para mim, um zero. Desde a primeira hora. E não se pense que o digo apenas porque o cavalheiro prima em desrespeitar o clube que mora nesse canto relvado do meu coração. Nunca poderia ter consideração por um sujeito que, publicamente, apontou Augusto Pinochet como modelo.
Scolari é um seleccionador de olhos fechados aos critérios técnicos e à valia desportiva. Seleccionou em tempos, como ele gostará de dizer, uma espécie de família ou grupo de amigos, convocados sempre, haja o que houver, joguem ou não joguem nos clubes que representam, estejam ou não em forma. São aqueles quem segue viagem, ele é que sabe, quem não vai fica de fora e a palavra injustiça nada lhe diz. Seguisse ele o exemplo de Pinochet e todos os que o criticam desapareceriam, como talvez desaparecessem os jogadores que as massas ignaras gostariam de ver convocados. Seria mais fácil, ninguém contestaria a família Felipão & Filhos, todos rezaríamos à Senhora do Caravaggio, poríamos a bandeira nas janelas e pediríamos autógrafos ao treinador de todos nós. De todos, sem excepção, porque tem tempo, nos intervalos de aprontar os craques, para doutrinar o furor patriótico nestas terras onde, suporá, tal coisa nunca antes existira.
Scolari é vaidoso e bem pago. É pedante e cultiva a pose de estado como se fosse mais do que um treinador de futebol. A soberba corre-lhe nas veias, na precisa dose em que a coragem se esvai nas latrinas que frequenta. Evidentemente que lhe perguntaram por Ricardo Quaresma, mas, como Portugal é um país onde não faltam brandos jornalistas, todos acham normal que se recuse a responder, argumentando só falar dos atletas que convocou. A não convocatória de Quaresma, considerado em diversos fóruns o futebolista do ano neste país, é o assunto do momento, mas todos os pés-de-microfone baixaram as orelhas. Não insistiram, não souberam ser o que lhes compete, isto é, perguntar o que aqueles que servem, ou deviam servir - os leitores, os ouvintes, os telespectadores, os cidadãos... -, mais queriam saber. Na estação de serviço público, através da qual assisti ao anúncio da convocatória, o repórter esclarecia o povo de que eram aquelas as regras do jogo, como se tal fosse normal. Incluir-se-á, provavelmente, entre o lote de basbaques que, no decurso do Euro/2004, batiam palmas ao mesmo senhor no decurso de conferências de Imprensa, entre outras patéticas mostras de subserviência e amadorismo.
Scolari é desavergonhado. Tem o desplante de dizer, para todo um país, que, por vezes, é mais importante aparecer em festas, ao lado do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, do que estar no terreno a observar jogadores ou a cumprir tarefas que se insiram nas funções para que foi contratado. E a massa acrítica ouve, e a massa acrítica cala.
Scolari é menos do que julga, mas veio parar a um país onde o fazem assim julgar. Triste espectáculo, este, mas bem inserido na onda de optimismo que o marketing tem vindo a injectar na turba, de tal forma que deve haver uma cada vez maior quantidade de portugueses e portuguesas convencidos de que Portugal é o favorito no Campeonato do Mundo. Os milagres acontecem, se calhar... Até no futebol. Foi neste país de pastorinhos que a medíocre equipa da Grécia se sagrou campeã da Europa, não conseguindo, depois, qualificar-se para o Mundial da Alemanha. Mas daí a estarmos todos optimistas vai uma distância maior do que a cumprida pelo Gama até chegar a Calecute.
Scolari é, enfim, aquilo que as circunstâncias proporcionam. De barriga cheia e bem cheia, e a encher mais os alforges a cada dia que passa, sabe ter a postura que impressiona os descamisados, gostaria ele de ser Evita para cintilar entre jóias. Cultivando aquela imagem falsa de seriedade, promete maravilhas sem prometer maravilhas, cria na distante perspectiva do sucesso a redenção de um povo cada vez mais asfixiado. Cresceu o número de peregrinos em Fátima, joga-se cada vez mais no Euromilhões. É em países assim que Scolari brilha. Sul-americano que é, sabe-o melhor que todos nós.
Imagem captada hoje, no estádio de Oeiras, onde conquistámos mais uma dose de tripas ("dobradinha", ou dobrada, à moda do Porto é coisa que não soa bem, nem mesmo no poema de Álvaro de Campos).
(a verdade é que gosto mais de feijoada sem tripas, mas isso é coisa para escrever assim, em corpo muito pequenino)
Sabem os frequentadores da Fonte das Virtudes que essa agremiação chamada Benfica não integra a minha lista de afectos, mas foi movido das melhores intenções que enviei ao Paulo, benfiquista de moderada militância, a foto aqui ao lado, indicando o futebolista retratado como um eventual reforço do clube lisboeta. Fiquei, portanto, estarrecido ao vê-lo pôr em dúvida, publicamente, a bondade do meu altruista gesto. É, pois, imbuído de brio patriótico que aqui deposito a imagem, na esperança de que os sempre atentos dirigentes da citada associação recreativa possam encetar contactos com o craque, na medida em que me entristece assistir à diáspora dos mais hábeis desportistas deste nosso enfraquecido país.
Praça do General Humberto Delgado, Porto
Dois mesteres num fotograma. Um deles tipicamente português, a subtil arte da observação de obras.
Nem sei o que dizer. A todos os que julgam saber conduzir, recomendo vivamente que vejam e revejam o filme que vou lincar a seguir. Reparem nos pormenores, como os peões, as motos e por aí fora. Cinema épico na filmagem de um cruzamento. É aqui!...
Deve ser mau feitio meu, mas a verdade é que nem sempre respondo às sms de boas festas, principalmente quando me parecem mandadas em massa, com o uso de papel químico electrónico, para uma caterva de gente. No último Natal, só respondi a uma, que, depois do blá-blá circunstancial de que não me lembro, vinha assinada: "Nuno, Donzília, Inês e Afonso".
Ora, o Afonso nasceu hoje, às 12.15. Aqui o temos. Por ele, que, por razões óbvias, não sabia ainda assinar por alturas do Natal, respondi à tal mensagem.
Hoje, quando eu estava a almoçar, tendo à minha frente um amigo que completa 80 anos neste nono dia de Maio, recebi outra sms a que respondi logo, a que me dava conta da boa nova. Na resposta, além de exigir fotos para pôr na blogosfera, mandei abraços e beijos ao Nuno, à Donzília, e à Inês (a primeira da prole).
Não mandei abraços ao Afonso, pois, quando ele chegar a casa vai pôr o computador em marcha, ligar-se à Internet e escrever o endereço da Fonte das Virtudes, para receber em pessoa este meu abraço (virtual, não sou um monstro abrutalhado que abraça recém-nascidos) com que lhe dou as boas-vindas cá ao sítio.
Mudança de urgência no Cantante. Eu explico. Diz o jmf que esta divulgação musical, chamemos-lhe assim, vai contra os princípios dele, mas remete-nos para o gramofone do jph, como quem não quer a coisa, ou seja, declinando qualquer evidente cumplicidade. Ainda bem que o fez. Há séculos que não ouvia algo tão contagiante: The Boss, com mais 17 marmelos em palco, que devem divertir-se à grande com o que estão a fazer.
P.S. - Quanto aos problemas que isto levante, éticos e outros, talvez nem existam. Pela parte que me toca, acho que tenho de ir a correr comprar este disco.
é minimalista? é repetitivo? só se for por se querer ouvir repetidamente. Ryuichi Sakamoto no Cantante.
...não nos responsabilizamos por danos causados pelo cão.
(sugestão para a vigilância, seja do parqueamento ou da liberdade de expressão, numa cidade perto de si)
Suponho que muita gente, tal como eu, recorra aos sites dos municípios sempre que precisa de saber mais sobre o funcionamento dos ditos ou, de um modo geral, sobre os mais variados aspectos relacionados com os espaços que os compõem. Quando se abre a página oficial da Câmara do Porto, é isto que se encontra. Afinal, quem é que perdeu a noção do ridículo?
Rua do Bonjardim, Porto
Os horários do comércio tradicional, cuja nova regulamentação foi há dias aprovada em Assembleia Municipal, têm sido alvo de debate no blogue A Baixa do Porto, pelo que ir lá equivale, como sempre, a saber mais alguma coisa sobre o assunto. Mas há um aspecto que me parece não ter sido referido, simbolizado nesta foto em que parece vivo o que está morto. A generalidade dos portuenses conhecerá o estabelecimento Cardoso Cabeleireiro, onde ninguém vai cortar o cabelo. É uma loja de grande tradição, especializada em cabeleiras postiças e que, pelos mais variados motivos, tem sido, ao longo dos tempos, útil a muita gente. Uma loja à moda antiga, está-se a ver, que, talvez por isso mesmo, figura em directórios apresentados aos turistas e tudo.
O centro da questão, evidentemente, é a revitalização da Baixa. Há quem diga que o centro urbano precisa de habitantes, há quem diga que o primeiro passo é reformular o comércio. Eu digo uma coisa e outra, mas digo mais: ir morar para a Baixa não deve implicar que em cada loja haja uma mercearia, se bem que as ditas sejam evidentemente necessárias, remodelar o comércio não pode ser reconstruir uma cidade de velhos hábitos. Fazer compras em centros comerciais (nunca ao fim-de-semana, em que entrar nesses sítios é motivo para cortar os pulsos) é prático e cómodo, conquanto ir às compras seja uma necessidade e não um programa de passeio. Inevitavelmente, o comércio de qualidade tem desaparecido da Baixa (não todo, claro), mantendo-se por lá alguns recalcitrantes, enquanto os espaços tradicionais que definham estão sujeitos a um de três destinos: ficam devolutos, são ocupados pelas mesmas cadeias internacionais que vemos nos centros comerciais ou transformam-se em lojas de terceira categoria, orientais ou não (vai havendo exemplos da quarta e essencial via, a da inovação, mas ainda são residuais). Por isso, a sociedade tem de criar condições para que o comércio dito tradicional seja reconvertido, ou seja, faça a diferença ao romper com algumas tradições.
Entra aqui a galinha e o respectivo ovo: há comércio na Baixa se houver gente ou há gente na Baixa se houver comércio? As duas são válidas, mas importará perceber de que gente e de que comércio estaremos a falar. São precisos habitantes para a Baixa, mas uma cidade como o Porto terá de pensar sempre, de forma muito estruturada, nos turistas. Ser turista e visitar, hoje, a Baixa significa várias coisas pouco dignificantes: obras a torto e a direito sem condições dignas de circulação para os peões (que se arrastam no tempo, mas isso os estrangeiros não sabem); lixo; casas a cair aos pedaços; lojas devolutas e cobertas de pichagens ou cartazes publicitários; deserto nocturno, com as ruas povoadas de insegurança; ausência de animação, programada ou espontânea (as pessoas que saem fazem a animação espontânea e por elas se vê a vitalidade de uma cidade)... E de que precisam os turistas? De lojas de perucas? Sem desprimor para o Cardoso Cabeleireiro, estabelecimento de valor patrimonial que reconheço, creio que não. Também não precisam de uma mercearia de dez em dez metros ou de um centro de estética de quinze em quinze. Claro que precisam de restaurantes de qualidade, o que é possível existir em vários níveis de preços, precisam de lojas onde o atendimento faça a diferença (lembro-me sempre de um sítio onde às vezes vou lanchar, onde vão muitos estrangeiros e ninguém sabe comunicar com eles e, se querem comprar vinho, aconselham qualquer zurrapa como sendo o néctar mais precioso do universo). Precisam de diversidade, de originalidade, de conforto, de modernidade associada aos valores locais e regionais... E por aí fora.
Perguntarão, eventualmente, se faremos uma cidade para os turistas. Claro que não. Também nós merecemos qualidade, conforto, diversidade e por aí fora, e só quando tivermos critérios de exigência poderemos ter a certeza de que estamos a prestar bons serviços aos que nos visitam.
Quem for morar para a Baixa, se algum dia forem dados passos seguros para o repovoamento, continuará, estou certo, a ir fazer compras ao centro comercial ou ao hipermercado. Fará outras compras na Baixa apenas se isso fizer a diferença, e a proximidade poderá não ser o mais relevante elemento de diferenciação. E procurará diversão na Baixa, se ela existir. E tomará café numa esplanada à hora da telenovela. E passeará sem medo pelas ruas, porque muita gente estará pelas ruas sem medo, a passear.
O cenário utópico deve ser sempre traçado, pois quem não almeja longe fica sempre perto.
Bastará permitir que as lojas estejam abertas até à meia-noite? E estarão todas? Quais estarão? E quem quer ir à noite para comprar algo em estabelecimentos decadentes, quando podem fazer programa no shopping, com comida, sessão de cinema e lugar garantido para estacionar? Mexer nos horários é importante, mas é apenas um pequeno passo.
P.S. - E para que isto não seja uma selvajaria, mas também para que possa haver qualidade no comércio, é bom que alguém fiscalize, devidamente, se são respeitados os direitos dos trabalhadores. Se todos (empregadores e empregados) cumprirem, os negócios florescem ou definham em igualdade de circunstâncias. Se quem deve fiscalizar fizer vista grossa à exploração, o barco afunda-se mais e os vigaristas ficam à tona.
Rua das Flores, Porto
De fugir. Não tarda, as varandas das nossas terras voltarão a espelhar um país harmonioso, unido em torno desse desígnio nacional que pontapeia esféricos. A alegria é tanta que até haverá quem queira ver Scolari como treinador vitalício, agora que há o tão falado precedente da Cinemateca Portuguesa. Quando vier o apelo das bandeirinhas, voltam os chineses a esfregar as mãos, e aí teremos, de novo, os castelos transformados em pagodes.
Alguém chegou aqui ao pesquisar, no Google, com a seguinte frase: "como e que as gaivotas sabem que vai aver [sic] tempestade no mar". Soubesse eu e teria a chave da sabedoria. Assim, como sou, não passei de desilusão para alguém que, aparentemente, julga encontrar na Net respostas para tudo.
Rua das Flores, Porto
Sejamos honestos. Este dístico não entra naquelas brincadeiras do "Portugal no seu melhor". Está numa loja de chineses, devoluta, e presumo que tenha sido elaborado pelos ditos. Se eu tivesse de escrever o mesmo, em Mandarim ou Cantonês, tenho a certeza de que faria pior figura...