Aprendi cedo que temos pouco tempo para cá andar, mas não creio que isso influencie a minha maneira de pensar a vida, supondo-me eu alguma vez a pensar convenientemente a vida. Não concordo com a perspectiva frenética de viver cada dia como se fosse o último, essa ideia é assustadora e, creio, emocionalmente precária. Mas isso sou eu, umas vezes pachorrento outras temerário, aqui tímido, ali desbocado. À espera que o sol brilhe como nunca, algumas vezes, encolhido para o mundo me cair em cima, outras. Todos seremos, aqui e ali, um pouco de tudo isso. Em cada um de nós cabe a complexidade do universo, mas somos também irrisórios, partículas ao sabor de uma espécie de acaso que nunca compreenderemos. É no terreno dos afectos que mora a verdadeira grandeza a que temos direito, nas pessoas de quem gostamos, nas pessoas que gostam de nós. Nos sorrisos que partilhamos, nas lágrimas que enxugamos, nas palavras que estão sempre presentes, mesmo se não ditas, mesmo se sussurradas ou silenciadas, mesmo se impossíveis...
Estou a divagar, aparentemente sem sentido, na esperança de encontrar os votos ideais para 2006 que aqui deixarei, a todos os que têm a simpatia de me visitar, nesta curiosa rede de afectos que é, também, a blogosfera. Há nisto uma espécie de ritualismo que, confesso, escapa à minha modesta racionalidade. Entendendo nós o tempo como uma dimensão contínua, que diferença poderá fazer uma divisão artificial? Por que haverá 2006 de ser diferente de 2005? Por que razão aquilo que desejamos para um novo ano não deve ser, afinal, aquilo que desejamos para todos os dias, todos os momentos? Enfim, não sei os porquês, até porque também eu estou, como qualquer outro, agarrado a essa referência cultural que nos leva a renovar votos à entrada de cada primeiro de Janeiro.
E continuo sem formular esse desejo que vos quero deixar (e a mim também). Há uma explicação. Só encontro uma palavra e temo que me confundam com uma candidata a miss qualquer coisa, à uma, ou, às duas, com um sacerdote de outra qualquer coisa. Porque não me chega desejar prosperidade, dias felizes, dinheiro, saúde, sucesso e todas as coisas positivas que possam ocorrer a quem come passas às doze badaladas. Porque preciso de condensar tudo numa só palavra e apenas me ocorre aquela de que falam as misses ou os seminaristas. Mas não é esta a hora de hesitar. Esta é a hora de desejar a todos os que lêem a Fonte das Virtudes, mas também a todos os que nunca aqui passaram, que 2006 possa ser o ano em que encontrarão a verdadeira
PAZ.
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Uma boa maneira de passar o ano seria escapar às tontarias musicais do costume e dançar ao som de "La valse d'Amélie", de Yann Tiersen, que passa agora a tocar no cantante ali ao lado.