0 comments | sábado, abril 30, 2005

No que a essa coisa chamada benfica diz respeito, ninguém venha dizer-me que os árbitros erram porque são pessoas. Pelo menos, nos termos vulgarmente associados a esse lugar-comum. Porque são pessoas, envolvem-se na macabra sucessão de irregularidades que vêm sendo praticadas para o clube lisboeta ser campeão nacional.

Mesmo todos os que negarem, incluindo os que integram essa coisa a que chamam instituição, estão hoje conscientes de que a vitória foi conseguida graças à acção cirúrgica do árbitro, ao inventar um penalty contra o Belenenses, primeiro, ao fazer vista grossa a uma falta dentro da área dos de vermelho, contra estes, depois.

Portanto, há que ter um pouco de discernimento quando essa gente vem falar de moralização do futebol português, seja o senhor Vieira, seja o senhor Veiga, seja a padeira de Aljubarrota. Toda a vergonha foi perdido, e o futebol português, pelos vistos, nada tem a ganhar com uma operação que, aparentemente, devia chamar-se "Apito direccionado". O problema está em anos e anos de secura mal digerida. Só a confiança que, enquanto cidadão, quero ter nas instituições me impede de concluir que, neste momento, vale mesmo tudo.

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A alegria fica depois da curva dos dias vazios. Não a vemos, pressentimo-la. Enquanto não chega, ou não a alcançamos, existimos em velocidade de cruzeiro. Um despiste pode eternizar a curva.

0 comments | quarta-feira, abril 27, 2005



Pairam nos meus ouvidos as canções que Aimee Mann escreveu para Magnolia, de Paul Thomas Anderson. Bonitas, tão bonitas... Mas hesito em reproduzir aqui os versos de "Wise up", ou "Save me", porque não quero turvar a Fonte com a carga depressiva das palavras. Mas, afinal de contas, é este o meu filme de culto. Significa isso que faço o culto da desistência? Não.

Nesta história, nesta teia de histórias sem protagonistas há apenas que ler uma mensagem de esperança. Há sempre possibilidade de redenção para a vida, por mais fundo que se tenha caído, nem que tal dependa de algo tão improvável como uma purificante chuva de sapos. Acaba por ser uma mensagem de fé nas pessoas, de fé em nós próprios.

Por isso, aqui fica:

Save me

You look like a perfect fit
For a girl in need of a tourniquet

But can you save me
Come on and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone

'Cause I can tell
You know what it's like
The long farewell of the hunger strike
But can you save me
Come on and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone

You struck me dumb like radium
Like Peter Pan or Superman
You will come to save me
C'mon and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone
'Cept the freaks
Who suspect they could never love anyone
But the freaks
Who suspect they could never love anyone

C'mon and save me
Why don't you save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone
Except the freaks
Who suspect they could never love anyone
Except the freaks who could never love anyone

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Algures entre Ribeira Grande e Nordeste, S. Miguel

Límpida, a água. Como um sorriso nos olhos nos olhos.

0 comments | terça-feira, abril 26, 2005


Horta, Faial

Consta que o futuro está no horizonte. Acredito que a névoa, mais do que a encobri-lo, existe para o proteger. Todos teremos oportunidade de sorrir nos olhos dos dias solarengos, e só essa convicção dá sentido à sucessão de rotinas em que vamos flutuando.

0 comments | segunda-feira, abril 25, 2005

Sinceramente, não estava nos meus planos escrever aqui sobre o 25 de Abril, muito menos nos termos que o título possa sugerir. Convenci-me de que houvesse 25 de Abril na simples circunstância de andarmos todos para aqui armados em analistas (tal como fazem os analistas de carreira...), acreditei que houvesse um cravo plantado em cada blogue, mesmo à revelia dos inimigos da Revolução, apenas porque cada voz erguida aqui ou acolá, em liberdade, é um cravo plantado no jardim do pluralismo. Portanto, não me parecia prioritário fazer esta evocação.

Mudei de ideias, porque há na blogosfera um texto que está há um bocado a fazer-me muitas comichões. Está escrito no meu blog liberal de estimação (há coisas que se sentem e não se explicam) e tem, creio, relação com o pluralismo que, dentro de um determinado padrão, tem sido apanágio dos diversos autores. Resumindo, o Rui A. confunde 25 de Abril com PREC e tenta demonstrar que devíamos andar todos a celebrar, na medida em que o dia de hoje é celebrado, um outro 25, o de Novembro de 1975.

Há 31 anos, caiu uma ditadura. Não seria preciso dizer mais nada, atendendo ao horror que transparece do próprio designativo do regime, agravado por se ter tratado de uma ditadura parola, que incrementou em Portugal a resignação perante as alegrias da pobreza, que impediu qualquer veleidade de progresso, que promoveu a iliteracia sob a asa protectora de um ex-seminarista psicopata, que nos atirou para uma guerra tacanha e lá nos manteve... Uma ditadura que, como qualquer outra, amordaçou as vozes discordantes e afinou as vozes concordantes. Que torturou, matou, aterrorizou. Que nos mergulhou ainda mais no atraso estrutural de que dificilmente recuperaremos...

Só isso seria suficiente para louvarmos, hoje e sempre, a operação militar que deitou por terra um regime que, admitamos, estava corroído pelo próprio lodo que produzira. Mas, pelos vistos, há quem viva numa comunidade de fantasmas, sendo incapaz de encarar o 25 de Novembro como um episódio (importante episódio, pois) do processo revolucionário iniciado a 25 de Abril de 1974. Por processo revolucionário, claro, deverá entender-se aquilo que a história estabelecerá como tal e não aquilo que, ao tempo, foi designado Processo Revolucionário em Curso. Deverá entender-se a mudança de regime, com a abertura a uma democracia que, bem ou mal, ainda se vai construindo. É preciso ser cego, dos voluntários, para não admitir que assinalamos hoje o início desse processo.

Não sou dos que acreditam que o 25 de Novembro pôs fim a um sonho lindo, e isso não me faz mais ou menos de esquerda. Porque também não sou dos que vêem o 25 de Novembro como a data da salvação. Para se compreenderem as coisas, há que analisá-las de forma integrada, não sectária. Só assim se faz história. Mas, já agora, como não é história o que andamos a fazer nos blogues, protesto aqui contra a forma leviana como, denotando algum ressaibo, é menorizado o papel dos que se sacrificaram no combate à ditadura mediocrizante que foi o Estado Novo. A euforia pós-25 de Abril, repleta de excessos e imaturidade, era inevitável. É natural que não seja louvada. Mas não poderá significar que sejam picados os nomes dos que fizeram a Revolução e dos que a inspiraram.

Por isso, aqui os homenageio.

0 comments | domingo, abril 24, 2005

Ver os jogos do meu Portinho é confrangedor. Um suporífero como poucos, hoje animado, no limite, pelo brilhante golo de Quaresma. Seja como for, a jogar mal, mal, mal, lá continuamos a lutar por qualquer coisa.

Sinceramente, o que agora me anima é a possibilidade de o Braga, clube pelo qual não tenho qualquer simpatia, ser capaz de limpar o campeonato da vergonha que é a forma como os inomináveis têm sido empurrados, levados ao colo, beneficiados descaradamente pelos árbitros, mesmo em jogos que envolvem outras equipas. Hoje, além das estratégicas expulsões de dois jogadores do Estoril (algo que não é inédito com o árbitro em causa, para benefício da mesma equipa), o golo do empate nasceu de uma falta inexistente.

Sinto náuseas ao ler e ouvir os discursos moralistas do presidente da dita instituição, quando vêm à liça apitos dourados e quejandos. O que me preocupa, na relativa medida em que o futebol me preocupa, é a histeria colectiva em que nos veremos mergulhados com a ressurreição dos seis milhões. É que, ainda por cima, eles não merecem.

0 comments | sábado, abril 23, 2005


Angra do Heroismo, Terceira

Há muitas maneiras de passar o tempo, de esperar a ideia de um post, de esperar os novos amanhãs, de esperar o inesperado. Dar banho à minhoca é uma delas. Não é o caso. Tenho postado pouco, esta semana, por andar longe da net.

1 comments | terça-feira, abril 19, 2005


Ratzinger e Wojtila, fotografados a 11 de Setembro de 2002

Estavam à espera de quê? De um Papa africano? Latino-americano? Asiático? Do fim do celibato? De mulheres no sacerdócio? De abertura? Modernidade? Esperavam o fim da ditadura sobre questões da sexualidade? Ou da Saúde pública?

Habemus papam: ao jurássico João Paulo II sucede o pré-câmbrico Bento XVI.

4 comments | domingo, abril 17, 2005



Chamo-me Alexandre e tenho seis anos. A fotografia é de quando eu era criança, o que já lá vai há muito tempo. O maior desgosto que já dei ao meu tio, que escreve este blogue, foi ter-lhe dito que sou do Sporting. Ele bem trabalhou para me fazer portista, mas o meu melhor amigo diz que o Liedson é o maior, e eu acho que ele deve saber mais dessas coisas. Mas hoje, ainda antes de partir um copo (não fui eu, foi o Batman...), pus o tio Pedro a rir às gargalhadas. Ainda não percebi bem porquê, deve ser porque ele gosta de gozar comigo. Mas foi quando o meu pai estava a dizer que um dia ainda tirava outro curso e eu disse que ele fazia mal: "Se não fosses professor, tinhas de trabalhar!".

nota do editor: filho de um professor, irmão de outro e conhecedor de muitos, sei que eles trabalham e sei que esta sociedade boçal em que nos constituímos não os honra convenientemente; mas que ri, ri.

0 comments | sábado, abril 16, 2005

Este sábado foi, futebolisticamente, quase perfeito. Tinha de haver um Mantorras para estragar tudo...

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Tão bonito!... Vale a pena gastar dez minutos a ver e a ouvir o filmezinho que aqui se mostra.

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Sete Cidades, S. Miguel

Nem a pastar nem a postar nada de jeito. Estou ocupado com outras escritas.

0 comments | sexta-feira, abril 15, 2005


Lagoa do Fogo, S. Miguel

Ali turvo, aqui nítido, claro e escuro, contraditório, oscilante. Fascinante. A vida fotografada sem querer.

0 comments | quinta-feira, abril 14, 2005

Entre as palermices que se fazem no Porto, urbanisticamente, posso dar os batidos exemplos do edifício transparente (aprovaram-no com as funções que lhe estavam destinadas, isto é, nenhumas), ou o mamarracho erguido junto à Sé, sobre o que restava da medieva Casa da Câmara (não, não é dos Vinte e Quatro...).

Mas o mamarracho que agora interessa é aquele que, provavelmente, com saloio aval de poderes que o não são, será erguido nas traseiras da Casa da Música. Não podemos desistir de protestar, pelo que também já subscrevi a petição.

Os cidadãos estão acima de poderes económicos pontuais. Como já uma vez disse, o Estado somos nós, os poderes central e locais são aquilo que lhes permitirmos. E é no que lhes permitirmos que estará a grandeza do que somos.

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Aí está! Custou balúrdios, demorou seis anos a ser construída e alimenta toda a sorte de sentimentos. Mas aí está, inevitavelmente marcante, concreta, palpável. A Casa da Música é daqueles empreendimentos que dão visibilidade às cidades, é uma prova de vida. Claro que este nosso Porto precisa de muito mais. O centro histórico, pintado com a fachada de património mundial, degrada-se contínua e inexoravelmente, o metro (chamemos-lhe assim) tarda em ser verdadeiramente funcional e tem um tarifário obsceno, a gestão autárquica continua a ser pequenininha e birrenta (não há alternativa à vista), o processo de desertificação progride sem que alguém faça algo palpável contra isso, a vida cultural, por obra do poder local, já teria sido declarada inútil e alienante, as pessoas fecham-se nos guetos domésticos e arejam pelos centros comerciais, a pobreza desfila ante a indiferença...

Mas aí está a Casa da Música. Pode ter defeitos, com certeza que os tem, mas faz com que o mundo olhe para esta cidade, algo que talvez não acontecesse desde o dia em que se esperava que a Ponte da Arrábida caísse, só porque nunca ninguém antes se atrevera a fazer tamanho arco de betão.

Que nunca se calem as vozes críticas, perfeitamente legítimas, mesmo que pouco mais veiculem do que rancores pessoais. Mas como eu gostava que esta cidade vivesse muitos momentos como o de hoje. Momentos de vida. Momentos de afirmação. De orgulho.

1 comments | quarta-feira, abril 13, 2005

Como a coisa não é anónima, faço aqui publicidade ao novo blogue do Paulo F. Silva, sentado ali atrás (calculo quatro metros, a olho) sem suspeitar que eu realmente farei tamanha maldade, apesar de lhe ter dito que a faria. Além de ser o link para um camarada de trabalho e amigo, a recomendação deve-se à circunstância de o Paulo ser também um homem de causas, de boas causas, das que facilmente encontram apoio aqui na Fonte. Uma nota pessoal para o caracterizar como líder incontestado do Clube Universal Interplanetário de Fãs de Peter Gabriel. É, a propósito, um homem que teve a coragem de tornar público que há 30 anos, quando foi a Cascais ver os Genesis, apenas tinha no currículo dois espectáculos musicais, um dos quais do grandioso Nelson Ned. (corro risco de vida por ter escrito isto).

A propósito, a coluna ali ao lado precisa de actualizações como de pão para a boca, mas agora não me apetece.

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"Discriminação inaceitável" e "enxovalho" são expressões que ouvi da boca de Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), por intermédio da TSF. Em causa estava a intenção de limitar os mandatos dos autarcas ou, melhor, o subterfúgio usado para contestar, não contestando. Entende o presidente da Câmara de Viseu (e será, acredito, secundado por um exército de autarcas) que ou há moralidade ou comem todos, ou seja, que apenas aceita tal imposição se ela for também feita aos deputados à Assembleia da República.
Na minha modesta e nada consequente opinião, Fernando Ruas, ao proferir tais dislates, mostra por que motivos a limitação de mandatos dos autarcas é, como já defendi noutras ocasiões, uma prioridade nacional. Ao meter poder legislativo e executivo no mesmo saco, perde toda a razão que possa querer ter. Reduz a questão à travagem de "tachos" e benesses, isto é, pauta-se por uma visão comezinha do que é o exercício de cargos públicos.
Obviamente, é o poder executivo, particularmente ao nível local, que é mais susceptível de criar climas de suspeição, ou permitir, por exemplo, ligações entre autarcas e agentes económicos, designadamente construtores civis e afins, que alguns, bem ou mal intencionados, não interessa, poderão considerar pouco transparentes. Mas o esforçado líder da ANMP prefere dar a ideia de um entre muitos homens e mulheres agarrados a cargos e à notoriedade local a que se habituaram, resmungando e esperneando ante um propósito que constitui claro avanço para a nossa democracia.
Além do mais, é ridículo. Num momento em que tanta gente se queixa de a política não atrair os nossos cidadãos mais válidos, limitar o nível de participação das pessoas no poder legislativo levaria a que, dentro de algum tempo, o Parlamento fosse formado por manéis das iscas e marias papoilas completamente desconhecidos, com ou sem maioria absoluta...

0 comments | terça-feira, abril 12, 2005


Baía de Porto Pim, Faial

Há paz na lonjura, verdade na simples contemplação do mar, onde a terra acaba e o sonho começa. Por cá viramo-nos para Ocidente, de outros lados podemos mirar o Oriente, mas há sempre um horizonte de fantasias a inundar os olhos. Com cores ou sem elas, sempre o mesmo mundo onde é possível ser, sem mais. Onde todas as barreiras foram demolidas.

0 comments | segunda-feira, abril 11, 2005


Angra do Heroismo, Terceira


Madalena, Pico

Anda o país num sino porque o "Guardian" diz que o cardeal Policarpo pode chegar a Papa. Depois de termos perdido o Euro 2004, volta a haver uma causa nacional.

1 comments | domingo, abril 03, 2005

Almocei e jantei com a mulher mais linda do mundo, a única que dá e recebe parabéns neste dia.

(lembrei-me agora da batida anedota do Zequinha, quando a professora o manda escrever uma redacção em que inclua a frase "Mãe há só uma"; e ele conta que estava a ver o futebol na TV, com a mãe, e, ao intervalo, é encarregado de ir buscar duas cervejas; ao abrir a porta do frigorífico, berrou para a sala: "Ó mãe: há só uma!...")

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Um dia simbolizado num sabor, na quentura de um momento, no conforto de um carinho em estado líquido.

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2 comments | sexta-feira, abril 01, 2005

Deixa-me cheirar-te, pousa
Em mim a brisa matinal que,
No segredo do jardim, pinta
De flores o teu cabelo solto.

Deixa-me tocar-te, sentir
Na tua pele o aconchego
Que embala as noites,
Desperta em cada dia o desejo

De beijar-te, deixa
Que te veja, te reveles
Inteira, em cada sentido
Que dás à vida.

Que te sinta em mim, te
Afague com os olhos e
Explore com as mãos, a boca,
E possa acariciar a tua alma
Escondida nas ramagens,

Quieta nesse mundo onde
Te entrevejo, perfumada
De flores que te encontram
Sem que as colhas, onde
Te sonho, onde
Te invento,
Pronta para que
Eu possa
Amar-te.


Estas palavras já aqui estiveram, uma vez, durante poucas horas. Foi o único post que apaguei, contrariando essa coisa a que alguns chamam ética bloguística. Porque sim, reponho a normalidade.