0 comments | segunda-feira, abril 25, 2005

Sinceramente, não estava nos meus planos escrever aqui sobre o 25 de Abril, muito menos nos termos que o título possa sugerir. Convenci-me de que houvesse 25 de Abril na simples circunstância de andarmos todos para aqui armados em analistas (tal como fazem os analistas de carreira...), acreditei que houvesse um cravo plantado em cada blogue, mesmo à revelia dos inimigos da Revolução, apenas porque cada voz erguida aqui ou acolá, em liberdade, é um cravo plantado no jardim do pluralismo. Portanto, não me parecia prioritário fazer esta evocação.

Mudei de ideias, porque há na blogosfera um texto que está há um bocado a fazer-me muitas comichões. Está escrito no meu blog liberal de estimação (há coisas que se sentem e não se explicam) e tem, creio, relação com o pluralismo que, dentro de um determinado padrão, tem sido apanágio dos diversos autores. Resumindo, o Rui A. confunde 25 de Abril com PREC e tenta demonstrar que devíamos andar todos a celebrar, na medida em que o dia de hoje é celebrado, um outro 25, o de Novembro de 1975.

Há 31 anos, caiu uma ditadura. Não seria preciso dizer mais nada, atendendo ao horror que transparece do próprio designativo do regime, agravado por se ter tratado de uma ditadura parola, que incrementou em Portugal a resignação perante as alegrias da pobreza, que impediu qualquer veleidade de progresso, que promoveu a iliteracia sob a asa protectora de um ex-seminarista psicopata, que nos atirou para uma guerra tacanha e lá nos manteve... Uma ditadura que, como qualquer outra, amordaçou as vozes discordantes e afinou as vozes concordantes. Que torturou, matou, aterrorizou. Que nos mergulhou ainda mais no atraso estrutural de que dificilmente recuperaremos...

Só isso seria suficiente para louvarmos, hoje e sempre, a operação militar que deitou por terra um regime que, admitamos, estava corroído pelo próprio lodo que produzira. Mas, pelos vistos, há quem viva numa comunidade de fantasmas, sendo incapaz de encarar o 25 de Novembro como um episódio (importante episódio, pois) do processo revolucionário iniciado a 25 de Abril de 1974. Por processo revolucionário, claro, deverá entender-se aquilo que a história estabelecerá como tal e não aquilo que, ao tempo, foi designado Processo Revolucionário em Curso. Deverá entender-se a mudança de regime, com a abertura a uma democracia que, bem ou mal, ainda se vai construindo. É preciso ser cego, dos voluntários, para não admitir que assinalamos hoje o início desse processo.

Não sou dos que acreditam que o 25 de Novembro pôs fim a um sonho lindo, e isso não me faz mais ou menos de esquerda. Porque também não sou dos que vêem o 25 de Novembro como a data da salvação. Para se compreenderem as coisas, há que analisá-las de forma integrada, não sectária. Só assim se faz história. Mas, já agora, como não é história o que andamos a fazer nos blogues, protesto aqui contra a forma leviana como, denotando algum ressaibo, é menorizado o papel dos que se sacrificaram no combate à ditadura mediocrizante que foi o Estado Novo. A euforia pós-25 de Abril, repleta de excessos e imaturidade, era inevitável. É natural que não seja louvada. Mas não poderá significar que sejam picados os nomes dos que fizeram a Revolução e dos que a inspiraram.

Por isso, aqui os homenageio.