"Discriminação inaceitável" e "enxovalho" são expressões que ouvi da boca de Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), por intermédio da TSF. Em causa estava a intenção de limitar os mandatos dos autarcas ou, melhor, o subterfúgio usado para contestar, não contestando. Entende o presidente da Câmara de Viseu (e será, acredito, secundado por um exército de autarcas) que ou há moralidade ou comem todos, ou seja, que apenas aceita tal imposição se ela for também feita aos deputados à Assembleia da República.
Na minha modesta e nada consequente opinião, Fernando Ruas, ao proferir tais dislates, mostra por que motivos a limitação de mandatos dos autarcas é, como já defendi noutras ocasiões, uma prioridade nacional. Ao meter poder legislativo e executivo no mesmo saco, perde toda a razão que possa querer ter. Reduz a questão à travagem de "tachos" e benesses, isto é, pauta-se por uma visão comezinha do que é o exercício de cargos públicos.
Obviamente, é o poder executivo, particularmente ao nível local, que é mais susceptível de criar climas de suspeição, ou permitir, por exemplo, ligações entre autarcas e agentes económicos, designadamente construtores civis e afins, que alguns, bem ou mal intencionados, não interessa, poderão considerar pouco transparentes. Mas o esforçado líder da ANMP prefere dar a ideia de um entre muitos homens e mulheres agarrados a cargos e à notoriedade local a que se habituaram, resmungando e esperneando ante um propósito que constitui claro avanço para a nossa democracia.
Além do mais, é ridículo. Num momento em que tanta gente se queixa de a política não atrair os nossos cidadãos mais válidos, limitar o nível de participação das pessoas no poder legislativo levaria a que, dentro de algum tempo, o Parlamento fosse formado por manéis das iscas e marias papoilas completamente desconhecidos, com ou sem maioria absoluta...
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