Reproduz-se, no Glória Fácil, uma entrevista feita por Fernanda Câncio, há dezaqualquercoisa anos, a "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas". Aguarda-se vivamente a estreia do emblemático liberal na blogosfera, alter-mundo em que os pataratas, muitas vezes, elevam a nobre arte da atoarda a níveis jamais imaginados.
As palavras são o que lemos, sempre é falível nelas vermos quem as escreve. Não é dogma, apenas regra de segurança, mais para quem lê do que para quem escreve. Até porque as palavras só são preciosas, mesmo que trabalhadas e buriladas, quando saídas da alma e desenhadas pelo coração. Massificadora da palavra escrita, a Internet é, também, alfobre de equívocos. É pena que assim seja, mas não é letal, e devemos batalhar para que o bom ultrapasse o mau. Na vida, claro, porque o cesto dos papéis é o karma de muitos escritos, mesmo que o suporte electrónico inviabilize a profilaxia.
Parque das Nações, Lisboa
É de mim, ou as tágides são danadas para a brincadeira? (sim, eu sei, mais uma foto de Lx na FdV... ao que isto chegou)
Desde que li, há dias, que Pedro Arroja é "um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas", tenho estado à espera da estreia do homem no Blasfémias, afinal o facto anunciado pela panegírica proposição, para comentar a ridicularia. Acontece que a première
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NOTA: Como o blasfemo JCD esclarece na caixa de comentários, precipitei-me, uma vez que a estreia de Pedro Arroja está agendada para a segunda quinzena de Outubro. Disso peço desculpa aos leitores. Esclareço eu ainda que a ridicularia de que falo (uma opinião minha, claro) é o rótulo de "um dos maiores defensores da Liberdade". Nem Pedro Arroja nem os restantes blasfemos são ridículos. São apenas liberais.
Palácio da Justiça, Porto
"E poderíamos colocar o mundo ao contrário: caça à multa para quem sorrisse pouco ou sem convicção, notícias sobre gente que nunca comeu algodão doce, advogados que acusam quem, violando o disposto no art. 21º do Código das Boas Maneiras Cívicas (e olha que a lei especial derroga a lei geral) não disse bom dia no elevador, pior, não sorriu nem disse bom dia..."
Mudando as leis e as práticas, redesenhando o mundo e reformulando a vida, mudariam as notícias. A regra transformar-se-ia em excepção, os leitores estariam habituados à manchete das rosas que floriram, ao suplemento dedicado aos novelos de algodão doce (há tantos anos não como algodão doce!...), à crónica discutindo os abraços, à reportagem sobre a epidemia de beijos, já para não falar sobre utopias mais correntes, como a paz mundial, desejada pelas misses, ou o fim da fome, indesejado pelos poderosos.
Recebi a sugestão que convosco partilho, em cima e em itálico, no pressuposto de que todos prefeririam ler sobre coisas boas, de que não haveria este maldito voyeurismo consagrado ao sofrimento alheio, de que as desgraças venderiam menos papel do que as graças. Assim não é, assim não será, mas viver é, provavelmente, sonhar com isso. E lutar por isso, mesmo que em pequenas quantidades.
Caro João,
1. O presidente do Sindicato dos Jornalistas não é militante do PCP. Pessoalmente, também acho que não deveria candidatar-se, mesmo que sempre em lugares não elegíveis, em listas partidárias.
2. Se os redactores do “Avante!”, evidentemente um órgão de propaganda, têm direito a carteira profissional, o mal estará aí. Mas, assim sendo, podem ser sócios do sindicato e, como em qualquer outra associação, têm legitimidade para integrar os corpos sociais. Em tempos, através do SJ, eram os próprios jornalistas que regulavam o acesso à profissão. Esse problema foi sanado, chateia-me a possibilidade de uma ordem de amigos assumir esse papel, com todas as arbitrariedades que daí decorrerão.
3. Não sei o que é um jornal de referência.
4. Ontem, um indivíduo desrespeitador, que ocupou todo o passeio com o automóvel, pondo em risco pessoas idosas ou com dificuldades de locomoção, chamou-me “palerma” por eu o ter interpelado. Se me chamasse “estalinista” ou “porco fascista”, o efeito seria o mesmo. Ter-lhe-ia virado as costas.
Rua António Maria Cardoso, Lisboa
Sacrilégio! Uma foto de Lisboa na Fonte das Virtudes!... Mas seja... A polémica já deu o que tinha a dar, certo é que está a crescer o Paço do Duque, apartamentos de T1 a T5+1 com estacionamento, mesmo onde era a sede da PIDE-DGS. Haverá muita gente endinheirada pronta a morar em zona privilegiada, a meio passo do Chiado, sem que a preocupe a memória da ignomínia que aquelas paredes exteriores, as únicas remanescentes, acoitavam. Não quero ter a ilusão de que todos os edifícios com história possam ser preservados para o benefício comum (vejo na memória um benefício, serei normal?), mas creio que este empreendimento de luxo é paradigma do que se faz, impunemente, nas nossas cidades. Promove-se o abandono, potencia-se a degradação e alimenta-se o esquecimento, até que a única solução é abrir as portas à voracidade imobiliária. Ali foi derramado o único sangue de Abril, ali serão derramadas garrafas de Dom Pérignon, pelos que ocuparem os T5+1, com vista de esguelha para o Tejo. Na parede esteve pintada a frase "os pides morrem na rua". Agora, tudo será pintado de fresco. Talvez se lembrem de pôr por lá alguma placa evocativa, discreta. Os calabouços darão lugar ao estacionamento, alguém dormirá onde foi o gabinete do Silva Pais, ninguém quererá ter o sono afectado por memórias tão distantes de um país que, se calhar, nunca existiu.
Não há sábado sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça. Amanhã é, portanto, dia solarengo. Embora o domingo seja o dia do sol (sunday, sonntag...), noutros países onde o paganismo não foi banido do dia que passou a ser do Senhor, Portugal terá de reger-se por outros padrões, seja a sabedoria popular ou a circunstância de chegar às bancas a primeira edição de um novo semanário, a que decidiram chamar "Sol" (o nome estranha-se, mas talvez venha a entranhar-se, como sucedeu com o Estádio do Dragão, que começou por soar mal e parece, agora, ter existido sempre).
Tenho visto, na blogosfera, algumas referências ao "Sol", em especial nos blogues de jornalistas de Lisboa. Regra geral, noto algum desdém em relação ao director, tricas de paróquia, eventualmente. Ora, sendo eu de outra paróquia, tudo isso passa-me ao lado, porque não o conheço de lado nenhum. Mesmo a entrevista de José António Saraiva à RTP, um evidente tempo de antena ou momento publicitário, não me choca em demasia, pois qualquer outro nas mesmas condições tentaria conseguir o mesmo. Consegui-lo-ia, com certeza. E tem havido outras situações do género. Claro que jornais como o meu, que cá andam há mais de cem anos, não conseguiram ver o lançamento preparado na televisão, mas qualquer director de qualquer jornal, de qualquer quadrante e de qualquer fé, faz uns telefonemas estratégicos para ser visto, quando muda o grafismo, o formato ou o alinhamento do seu periódico. Normal, apenas.
Sobre o "Sol", devo dizer que o aguardo com expectativa e, até, com alguma esperança. Por um lado, é bom quando os projectos jornalísticos vingam, na mesma proporção em que é mau quando deixam de existir. Por outro, porque um grande amigo está mais do que empenhado no projecto e, ainda por cima, faz anos amanhã. Tratamo-nos, mutuamente, por "Cavalo", e ele diz que não tem vagar para ler blogues. Vou telefonar-lhe só depois de ler o "Sol". Quero ter motivos para lhe dar duplos parabéns.
Nota: actualizei o post, colocando links, pois verifiquei que o site do jornal já está activo.
Algures em Portugal, ontem.
...estou na estranja, mas, pelos vistos, não posso fazer o costumeiro choradinho da falta de acentos nos computadores. Nem posso contar a batida historieta de que encontrei um cibercafé onde está toda a gente a espreitar sobre os meus ombros e coisa e tal. Escrevo em casa de um amigo, emigrante neste sítio a que chamam Campo de Ourique. Talvez agora vá ver a lagartagem na TV, depois de roubar uma cerveja do frigorífico.
Nevogilde, Porto
Parque da Cidade, Porto
De férias, mas sem ir a banhos e passando aqui com alguma frequência. Nada de novo.
Gosto de futebol. Gosto, particularmente, do F. C. Porto. Em regime de quase exclusividade. Sempre achei idiota a presunção de que o futebol é arte, simplesmente porque arte pressupõe intencionalidade criativa, espera-se que transmita algo, uma ideia, uma sensação, uma opinião. Quando há beleza num lance de futebol, é algo semelhante ao belo da natureza, que transcende toda a arte. Porém, o que me interessa, no futebol, é que o Porto ganhe. Dá-me especial gozo quando o Porto ganha ao Benfica. Porque futebol é desporto, competição, tribalismo mais ou menos moderado. Não é arte. Portanto, se continuarmos a ganhar aos outros já me chega. Quero lá saber se deixamos de ir à Europa.
A introdução foi sinuosa, admito, mas talvez já tenham percebido que se deve a esta vergonha a que se tem chamado "caso Mateus". Mas a vergonha não é, entenda-se desde já, a salgalhada em que estão metidos os campeonatos, a inoperância da Liga ou a incompetência da Federação. A vergonha é a possibilidade de a República cair às mãos das obscuras organizações que gerem o pontapé na bola.
Falha-me, evidentemente, a capacidade de análise jurídica, mas não a capacidade de pensar um pouco além da vulgar conversa de café ou de barbeiro. No uso dessa modesta faculdade, parece-me óbvio que, se as associações de associações, como a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, e as associações de associações de associações, como a Fédération Internationale de Football Association, têm todo o direito de impor as regras que lhes apetecer para o bom (ou mau, que importa?) funcionamento das provas desportivas, não podem de modo algum, por outro lado, travar os direitos que assistem a cidadãos e instituições de um país (ou de um conjunto de países, lá iremos) para regular a vivência em sociedade. Ou seja, o Gil Vicente deve poder recorrer aos tribunais civis para os efeitos que considere legítimos, exteriores à mera quezília desportiva (v.g. o árbitro que fez vista grossa ou a baliza que estava fora do sítio). Se não pode, está a ser privado de direitos que a Constituição lhe confere. Digo eu, que nada percebo de leis.
Um organismo internacional como a FIFA, que tem sido alvo de múltiplas denúncias de alegada corrupção, pode fazer sobre um país como Portugal todas as pressões que entender. Mas é absolutamente inaceitável que um país como Portugal ceda a essas pressões. É absolutamente inaceitável que um conjunto de países, como a União Europeia, possa fazer vista ainda mais grossa do que a de alguns árbitros, em face de tais pressões.
Se os clubes forem afastados das competições internacionais, isso não é uma questão de Estado. Se a Selecção Nacional afastada for, isso não é uma questão de Estado. Se a Justiça for travada por causa desses interesses, é uma humilhação para o Estado.
Não percebo de leis, já o disse, mas alguma coisa saberei de jornalismo. Vi há pouco, de relance, uma entrevista dada à RTP pelo presidente do Gil Vicente, que se mostrou esclarecedora, não pelo que ele disse, mas pela ideia subliminar que os entrevistadores pareciam estar a querer incutir nos telespectadores: o Gil Vicente estará a ir longe de mais e está em jogo, além dos principais clubes, a sacrossanta Selecção.
Está em jogo muito mais do que uma simples selecção de futebol, muito mais do que os clubes que moram num ou noutro coração de adepto. Em milhões de corações de adeptos, seja. Está em jogo a integridade moral da República. Se o Gil Vicente tem convicções inabaláveis a respeito deste assunto, deverá ir o mais longe que a lei lhe permitir. Deverá esgotar os tribunais portugueses e os tribunais europeus, como um dia fez esse jogador chamado Bosman, com uma relevância e notoriedade que nunca conseguiu igualar nos relvados.
O poder e os direitos dos cidadãos estão nos estados de Direito, são defendidos nos tribunais. E são inalienáveis. Se Portugal impedir isso, é como se Portugal não existisse.
É sempre triste quando um jornal fecha as portas. Nada mais do que isso.