Não me apetece postar que estou sem apetite para palrar porque não apetecerá aos leitores saber das minhas apetências quando o apetite aperta à porta de um parco período de pausa no papel profissional que me propicia a pasta para pagar a papa.
Soube, há pouco, que amanhã é o Dia dos Blogues, Blogday na versão original. Trata-se, como poderão ver aqui, por exemplo, da segunda edição da iniciativa, lançada por um blogueiro israelita chamado Nir Ofir. A coisa tem uma página oficial. Não acho bem nem mal, parece-me coisa de "nerd" e não estou para aí virado.
Não, eu não compraria um carro usado a qualquer dirigente do futebol português.
A caminho de curtas e bem merecidas folgas, um pequeno presente para os leitores da FdV, eventual praga para quem estiver nas redondezas. Cavalos a cantar "a capella". Só têm de pôr o som a funcionar e ir clicando nos ditos.
Gostaria, um dia, de compreender o que é que andam a ensinar aos meninos nas escolas de jornalismo. Ensinam-nos, certamente, a não pensar. A não ser que seja invulgar o comportamento que vi hoje, na televisão, com um grupo de proto-repórteres ávidos, encostando os microfones à cara de um homem algemado, conduzido por agentes policiais. Um nojo.
Para os meninos e meninas que aspirem a ser grandes vedetas da informação comercial, reproduzo o nono artigo do Código Deontológico:
9.O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.
Enquanto escrevo esta nota, há apenas dois computadores entre mim e o Vítor Pinto Basto, excluam-se as mesas e as papeladas, povoando metro e meio de distância. As circunstâncias recomendam prudência, está visto, pois o assunto é “Morto com defeito” (Porto, Deriva, 2006), o primeiro romance do dito. Ou seja, o que se segue é um frete e não é um frete, usando a terminologia mais suave do jargão jornalístico, porque me abstenho de ser antipático (não vá um monitor aterrar na minha cabeça) e tento resistir a ser simpático porque sim. Talvez devesse sê-lo, digo simpático, porque apenas faria eco das amigas e talvez excessivas palavras que decidiu escrever no meu exemplar. Mas não preciso, simplesmente porque a leitura me trouxe algo de estimulante. Quanto às questões da forma e do estilo, reservo-as para conversas pessoais, fugindo ao papel de aprendiz de feiticeiro da crítica.
Como nunca vi anjinhos a aspergir inspiração sobre cabeças iluminadas, permaneço convicto de que a imaginação é ressonância das vivências, pelo que encaro com normalidade que um jornalista efabule em torno do jornalismo, situação que, aliás, me é mais simpática do que determinados arroubos académicos em que a teorização perde contacto com a realidade. O que o Vítor faz, se a tal o pudermos reduzir, é uma reflexão sobre a vida vivida, que se cruza com a vida imaginada, algo que podemos facilmente entender, sem cairmos no facilitismo de partir em busca dos elementos autobiográficos. Estes estão lá, na medida em que integram toda a palavra escrita, mesmo que indirectamente. Mas não podemos encarar este “Morto com defeito” como mero exorcismo de um ou outro episódio do percurso de vida do autor, o que nos faria incorrer no risco de perder a capacidade reconstrutiva que, em verdade, é a chave de qualquer leitura.
Uma Redacção, com as suas intrigas, maledicências e jogos de poder é, afinal, apenas um microcosmos em que podemos retratar a voracidade, a competição ou a perda de valores em que vemos mergulhar, lato sensu, a vivência em sociedade. No meio disso encontramos desencantos, mas também encantos, o que, de certo modo, ajuda a desmontar a romanesca ideia que muitos têm do jornalismo, ao cabo e ao resto uma profissão como outra qualquer, em que o gostar do que se faz e o brio são formas únicas de traçar a diferença.
Jornais, notícias, fontes, corrupção, crime... ingredientes que se ligam numa trama bem urdida (não tão bem resolvida, opino) em que se movem personagens palpáveis, emocionalmente densas, com histórias de vida, com medos, pulsões, prazeres... Gente, não apenas nomes inconsistentes. Gente que não é extraordinária, mas vive, em tantas das dimensões que esse verbo representa. Quando assim é, há algo que foi conseguido, e isso, sim, pode sempre ser tido como extraordinário.
Depois de, há dias, ter anunciado a criação do blogue do Ahmadinejad, que não conheço de lado nenhum (Pinto da Costa não diria melhor), mal seria se não assinalasse duas novas adesões ao vício, porquanto vizinhos da FdV. Num dos casos, até sou uma espécie de assessor técnico do gajo (verão qual é, porque o outro é escrito no feminino). Sem apreciações, que não estou cá para isso, deixo as ligações para O Silêncio de Deus e para Delírios do Comboio Amarelo, com as costumeiras boas-vindas à Sophia e ao Maquinista Afonso.
Eu ia postar qualquer coisa, mas olho para o relógio e vejo que tenho de me pôr a andar, antes que feche o estabelecimento do xô Belmiro. Entre o blogue e a comida, fala mais alto o instinto de sobrevivência.
Se Agosto é o mês das romarias, o dia 15 é campeão nacional do assunto. No Porto, de facto uma Cidade Surpreendente, Paranhos venera a Senhora da Saúde, todos os anos, com uma procissão de aldeia. Mas não de uma aldeia qualquer. Duas bandas, uma fanfarra e foguetes à farta fazem a diferença.
Aos básicos que confundem, despudoradamente, qualquer posição que contrarie as políticas israelitas com anti-semitismo, deixo o lendário Yehudi Menuhin, interpretando o famoso Romance n.º 2 para violino e orquestra de Beethoven (a actuação foi em Londres e a orquestra é conduzida por Adrian Boult, mas desconheço a data da gravação). Claro que é, também, para todos os outros, que não baralham as coisas.
Novas na blogosfera! Este caramelo atoleimado também já tem um blogue. Será que alguém lhe vai dedicar posts de boas-vindas? E cantar-lhe-ão os parabéns quando fizer um ano de postagens? E dar-lhe-ão a honra de um link nas colunas de favoritos? Não me parece, mas tenho por certo que o gajo rapidamente destronará o Pacheco Pereira do Olimpo das audiências. Pelo menos, parece que escreve...
Dois posts seguidos no Blasfémias, este e este, deram-me vontade de vomitar. Enquanto a senhora diz haver chantagem implícita quando os muçulmanos britânicos lembram a EVIDÊNCIA de que a desastrosa política de Bush e Blair, no Médio Oriente, aumenta o risco de acções terroristas no Ocidente, o cavalheiro dá a entender que a nova resolução das Nações Unidas para o Líbano é igual à de 2004, logo, não presta, logo, o que era bom era ir lá matá-los todos para acabar com o mal pela raiz (dedução minha, quiçá abusiva...). A liberdade de expressão é isto, e ainda bem: enquanto eles podem escrever o que quiserem, também eu tenho o direito de dizer que só escrevem disparates.
Hoje, os Rolling Stones estão in town. Não vou ver, paciência, a verdade é que não me preocupei muito com o assunto, além de estar condicionado por aquela estranha palavra que começa por "t" e acaba em "rabalho". Mas, já que os homens cá estão, é justo que passem pela Fonte das Virtudes. Deixo-vos "Hot Stuff", do álbum "Black and Blue", de 1976. Ouçam, se forem capazes de deixar o ritmo invadir-vos as entranhas. Caso contrário, não funciona.
(música retirada)
Chego a esta hora completamente às escuras. Depois de ler, ler, ler e escrever, escrever, escrever, só penso que já vão sendo horas de jantar, algo que nem sempre rima com blogar. Podia abrir uma clarabóia na cabeça, tentativa última de iluminar as ideias, mas tal opção não me parece muito razoável...
A foto acima tem estado na ordem do dia. A manipulação da imagem (não importa se grosseira), denunciada na blogosfera, valeu o despedimento ao colaborador da agência Reuters que, desejoso não sei de quê (de nada servirá especular), quis acentuar, como se necessário fosse, o dramatismo do fotograma. A partir deste exemplo, a mesma blogosfera (sempre a blogosfera de direita, pois...) está a mover uma cruzada (em parte bem), desmontando as encenações que o Hezbollah tem levado a cabo, na ressaca de bombardeamentos israelitas, para alimentar repórteres pouco escrupulosos com imagens de cadáveres que passam de mão em mão, ou até de vivos que se fazem passar por mortos. Fazem-no bem apenas em parte, porque, nessa cruzada de vigilantes do universo mediático, estão a pôr alegremente em causa todos os profissionais que, no terreno, põem a vida em risco para mostrar ao mundo o que se passa, sem atropelos à deontologia. Fazem-no bem apenas em parte porque, tendo tomado partido por Israel, estão apenas empenhados em mostrar que a frente de combate é uma fronteira entre bons e maus, já se sabendo quem são os bons e quem os maus são. Fazem-no apenas em parte porque não querem entender que a propaganda existe em todos os lados, em todos os partidos, em todos os países, em todas as guerras. E a encenação está em todo o lado. A demonstrá-lo, fecho com uma imagem que parece andar esquecida.
George W. Bush de visita às tropas americanas em Bagdade, no dia 27 de Novembro de 2003 (dia de Acção de Graças), fazendo-se fotografar com um peru de plástico, decorado com uvas de plástico e outros sintéticos ornamentos.
Sim, sim, tenho um pirilampo mágico colado no meu monitor... É o de vermelho.
De saída para folgas, deixo-vos imagens surpreendentes de um dos mais surpreendentes e brilhantes pianistas da actualidade, o chinês Lang Lang. Uma inovadora abordagem a Prokofiev, com jogos de vídeo e tudo!
Donald, Panchito e Zé Carioca juntaram-se, em 1944, para este "miracle music feature" em que, por exemplo, é notável a dança do famoso pato com vestes de marujo, contracenando com Aurora Miranda, irmã da lendária Carmen do Marco de Canaveses. Na imagem que aqui mostro, o título do filme está em Inglês, mas a estreia foi no México, e era mesmo "Los tres caballeros". Leio hoje, no "Periodista Digital", uma peça com referência a "los tres de las Azores" (havia um quarto, mas, como bem sabemos, ficou fora das fotografias, era mais uma espécie de mordomo).
Segundo a notícia, Tony Blair estará a acelerar a saída do Governo britânico, para poder responder afirmativamente a um convite do magnate dos media Rupert Murdoch, que lhe quer oferecer uma cadeira de administrador, como recompensa por ter estado ao lado de George W. Bush aquando da invasão do Iraque. Outro dos retratados na Terceira, José María Aznar, já foi contratado há tempos para conselheiro do milionário australiano, como então noticiou o "El Pais".
Rupert Murdoch é amigo dos seus amigos. Nos Estados Unidos, é dono da "Fox News", modelo universal de jornalismo de capacho, sempre a favor de Bush. Também o amigo Blair se vale do controlo que Murdoch tem sobre alguns dos mais influentes jornais, do impoluto "The Times" ao pestilento "News of The World", bem como da estação televisiva "Sky News". Todos garantem ao primeiro-ministro aquilo a que agora se chama "boa imprensa", mesmo nos períodos em que é mais contestado. Até o tablóide número um de Inglaterra, o "The Sun", tradicionalmente esteio dos conservadores, virou o bico ao prego, devido à influência de Murdoch.
Termino com a foto usada pelo "Periodista Digital". São, realmente, três. O quarto pode ser visto, hoje, numa excelente primeira página d' "O Inimigo Público".
Ligar o rádio do carro e ouvir, de chofre, "ninguém pára o benfica".
Num dia em que o momento mais vibrante foi descobrir, finalmente, quem é a Floribella (vi na primeira página do "24Horas" que se escreve com dois éles), nem sei bem o que postar. Há outras coisas... coisas dos blogues... enfim, deixo-vos a canção "It's no game, Part 2", que encerra o álbum "Scary monsters (and super creeps)", de David Bowie.
I am barred from the event
I really don't understand the situation
So where's the moral
People have their fingers broken
To be insulted by these fascists is so degrading
And it's no game
(música retirada)
Num post aí para baixo, alguém comentou
"Pois. Pra ti, matar crianças só se forem israelitas, certo? "
ao que eu respondi
"Evidentemente, isso não está escrito em lado nenhum. Obrigado pela atenção, mesmo que fraca atenção. "
Reproduzo aqui os comentários porque acabei de os apagar. Como já esclareci algumas vezes, a caixa de comentários está aberta a todos, mas é minha a prerrogativa de os eliminar, se for caso disso. O que aqui está em causa não é o conteúdo. Apesar de o reparo do leitor dar mostras de indigência mental, não é isso que me incomoda. Porém, ao seguir o link para o blogue do comentador, dei com posts de carácter fascista, racista ou homofóbico, além de uma miríade de delirantes teorias da conspiração... Assim sendo, como não admito que a Fonte das Virtudes seja porta de entrada para esses locais, usei o adequado comando "delete forever".
Sobre o tema do post anterior, mantive na caixa de comentários do meu amigo e camarada Paulo F. Silva um curto debate. Para que o último comentário que escrevi não permaneça asfixiado, reproduzo-o também aqui.
(...)
A crítica de fontes é regra primacial do historiador, mas deverá sê-lo, também, do jornalista. Ou seja, nada nos leva a crer que o rapaz Hussein Saad (não me parece nome de apologista de Israel) ou a rapariga Béatrice Khadige [nota: por estarem aqui despidos de qualquer contexto, esclareço que os nomes atrás referidos são de jornalistas que, no terreno, afirmaram que a povoação bombardeada é a mesma onde Jesus transformou água em vinho] sejam detentores da verdade. Até porque, nestes assuntos, a verdade é um conceito complexo: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6).
A Bíblia, fonte histórica essencial mas de carácter muito duvidoso, atendendo à essência simbólica da linguagem utilizada, tem aberto o apetite dos arqueólogos ao longo dos tempos, mas a verdade é que muitas das grandes descobertas apenas são verdadeiramente credíveis se as olharmos com uma maciça dose de fé. José Amadeu Coelho Dias (frei Geraldo), professor que me deu umas luzes sobre civilizações pré-clássicas, é, além de padre beneditino, um dos mais relevantes estudiosos destas matérias no nosso Portugal. E é extremamente céptico em relação à maior parte destes achados. Porque à fé, que certamente tem, associa o espírito crítico a que o rigor científico o obriga. Neste caso, a maior parte dos estudiosos dá mais crédito à possibilidade de a Canaã do Evangelho ser a que fica nas proximidades de Nazaré, o que não implica, necessariamente, que tenham razão. O mesmo sucedendo no que respeita à versão libanesa. Porque estes achados baseiam-se em indícios muito frágeis, em vestígios muito questionáveis. Ocorre-me, por exemplo, o caso de André de Resende, um dos mais insignes humanistas portugueses, que, no afã de estudar os clássicos que era apanágio dessa gente do século XVI, andou a "semear" marcos romanos nos arredores de Évora, para os apresentar como achado seu...
Perante tais circunstâncias, a visão crítica do jornalista deve ir além dos palpites que lhes caem das agências, de modo algum mais válidos porque dados por gente que por lá anda. Ao usarmos Canaã (e a terra de Canaã era toda a Terra Prometida, não apenas uma aldeia onde da água se fez vinho ... ), estamos a assumir que é aquela a localidade referenciada no Evangelho, algo que a falta de certezas nos impede de dizer. Assim sendo, mantenho que Cana ou Caná são as grafias que me parecem mais adequadas.
(...)