Se para alguma coisa serviu esse imbróglio de que não se pode falar, envolvendo alguém que vocês saberão quem é... Mas - que raio! - eu não trabalho na DREN... Seja como for, não vá o diabo tecê-las, o que eu quero é dizer que esse assunto, qualquer coisa sobre uma habilitação num outro assunto qualquer, envolvendo tijolos, betão armado e línguas estrangeiras, mas que nada interessa para aqui... esse assunto, dizia eu, serviu, quanto mais não seja, para ficarmos a saber que esse alguém, que saberão vocês nomear (não me metam nisso!...), tem uma caligrafia deplorável.
Vem isto, que nem eu compreendi, a propósito
desta notícia do DN, a que cheguei
por esta via, que poderei resumir assim: feitas as provas de aferição de Língua Portuguesa aos alunos dos 4.º e 6.º anos, os correctores e correctrizes receberam instruções para que, nas primeiras partes dos testes, "
os erros de construção gráfica, grafia ou de uso de convenções gráficas não fossem considerados".
Porque, explicarão os entendidos desta e de todas as matérias, importará mais avaliar competências do que conhecimentos. E se se pretende saber da capacidade que os meninos e as meninas têm para compreender um texto, nada mais se pretende saber. Ou seja, se perceberem que o rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia, podem, à vontade, escrever que "u rato rueu a ro-lha da gargafa du rui da ruça", pois a coisa escapa e a pretendida competência está plenamente desenvolvida.
Só os burocratas da pedagogia, atolados nas notas de pé de página em que desagua a falta de sapiência de milhares de académicos (minoritários, talvez, mas falo dos que fazem carreira a tornar labiríntico o que é rectilíneo), entenderão que esse é um caminho válido. Mas não é válido. Nem responsável. Nem sequer é decente, sabendo a pouco rotulá-lo de vergonhoso.
Certo é que os próprios representantes dos docentes, naturalmente críticos, também andam perdidos no meio de tudo isto. É que, segundo a mesma notícia, para o presidente da Associação de Professores de Português, a triste situação deverá ser resolvida através da utilização do sistema de "
escolha múltipla". É que, diz Paulo Feytor Pinto, assim, "
são avaliadas só as competências de leitura e não também as de escrita". E mais: "
Mecanismos que permitam distinguir as capacidades de leitura e de escrita são os ideais".
Quando assim é, com o ensino da língua repartido pelos herméticos frascos das competências, o mínimo que pode suceder às crianças é chegar à vida adulta com uma caligrafia tão patética como a do outro alguém, que saberão vocês nomear. Noutros tempos - bárbaros tempos, é certo -, os erros valiam "bolos", e quem aprendia não tinha outro remédio para lá de aprender. Hoje, neste tempo de acção e pragmatismo em que vamos respirando, basta chegar ao destino, pouco importando que todo o percurso seja feito em contramão. Como o problema só toca os que em casa nada aprendem - a estrondosa maioria dos tugas -, a aposta de transformar Portugal num país qualificado é uma derrota anunciada.