Provavelmente, porque dúvidas e dívidas são as únicas certezas no mundo do futebol, o F. C. Porto será campeão na última jornada. Sem qualquer mérito. A equipa joga miseravelmente, os jogadores não têm estaleca. O treinador vive num lamaçal de incompetência e pavor. Esta rapaziada que hoje empatou em Paços de Ferreira, a mesma que foi ridicularizada pelo sofrível Boavista, é uma apática amálgama de meninos de coro, despida de entusiasmo e assim mantida por um comandante sem chama, esse professor que nada ensina: nem a técnica, nem a táctica, nem a responsabilidade que é ostentar no peito aquele emblema.
O comportamento em campo dos jogadores é a única voz que se levanta em defesa de qualquer técnico, e esta época tem demonstrado à saciedade que Jesualdo Ferreira é afónico. Ao passar os primeiros vinte minutos a passo, vendo como paravam as modas, e sendo incapaz de reagir com vigor ao golo sofrido, empatando apenas com uma bela dose de sorte, o apavorado treinador mostrou que se coloca, em cada jogo, nas mãos de Láquesis, nada de palpável fazendo para construir o próprio destino.
Imagino-o supersticioso, como é comum entre as gentes da bola. Lembro-me, por exemplo, da história há dias contada por um emérito benfiquista, à hora da ceia. Envolvia dois treinadores do clube lisboeta: o técnico principal, nascido na Bairrada, e o então adjunto, posto no mundo em Trás-os-Montes. Ora, nesse tempo, havia ao serviço da dita agremiação um, digamos, consultor espiritual (dirão as más línguas que era bruxo), o qual, preparando uma recepção ao F. C. Porto, prescreveu que todos os responsáveis teriam de ir ao supermercado, encher sacos com comida (dois sacos cada um, se não me engano) e oferecê-los a pobres que encontrassem nas ruas de Lisboa. Ora, a páginas tantas, os dois treinadores continuavam a deambular com os sacos pela cidade, incapazes que eram de encontrar pobres (em que ruas andariam?), até que alguém inventou solução para o problema, entregando os sacos numa paróquia que faria a distribuição das vitualhas.
Certo é que o F. C. Porto ganhou o jogo, e, segundo o relator do episódio (já disse que é um benfiquista muito conhecido e conhecedor dos meandros da colectividade), ambos os técnicos ficaram plenamente convencidos de que o desaire resultou de não terem entregue os sacos nas mãos dos pobres.
Desses dois treinadores, um já foi campeão nacional, o outro já esteve mais longe.
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P.S. - Parabéns ao Leixões e ao Vitória (de Guimarães) pelo regresso ao universo a que pertencem. Dois clubes com adeptos genuínos, não daqueles que torcem pelo clube da terra apenas para camuflar a devoção a um dos "grandes". Recupero aqui palavras do Álvaro Magalhães, numa crónica que publicou no JN, em Março último, antes de um jogo entre as duas equipas:
"... olhem bem para eles quando o seu Vitória jogar com o Leixões na próxima sexta-feira (jogo que será televisionado, ou não fosse um programa mais suculento do que a maioria dos jogos que vemos, mesmo dos grandes) e vejam como era o futebol, o verdadeiro, há alguns anos."
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