É aos tropeções que este blogue anda, apenas devido a questões logísticas que afectam o administrador/director/director adjunto/subdirector/editor executivo/editor/coordenador/índio que escreve. Nada de extraordinário, é que o gajo está de férias, mas promete ir por aqui passando, ao mesmo tempo que pede a vossências um pouco de paciência.
NRP Sagres
ARC Gloria
Atento à nostalgia que vai perfumando o Avenida dos Aliados, a propósito dos gloriosos tempos em que a dinâmica mercantil do Porto polvilhava de grandes veleiros as águas do Douro, principal motor do desenvolvimento da cidade, aqui deixo o meu pequeno contributo, esclarecendo uma dúvida do MBP. Pois sim, a nossa barca "Sagres" (terceiro navio na nossa Marinha com esse nome) passa bem a barra do Douro (a tremenda barra do Douro, outrora viveiro de naufrágios), algo que está ao alcance de barcos maiores, como é o caso do "Gloria" (foto de baixo), navio-insígnia da Armada colombiana que já este ano foi notícia, por haver marinheiros que o usavam para operações de tráfico de droga. As fotos, que não são grande coisa, são fragmentos dos dias de 1994 em que o Douro esteve pejado de grandes veleiros, participantes na Regata do Infante, que veio ao Porto assinalar o sexto centenário do nascimento do infante D. Henrique. Até por esse motivo a ausência da "Sagres" seria impensável, pois o "Navegador" é patrono do navio-escola português.
Não defendo, assim à toa, que se negoceie com terroristas. Porém, sempre que ouço os governantes que apregoam não o fazer em situação alguma, penso que não há acaso que os ponha numa improvável escola da improvável Ossétia do Norte, num arranha-céus de Manhattan ou num automóvel não blindado em Madrid. Falta-lhes a inocência. Há uma estranha noção de invulnerabilidade, uma reminiscência do poder de inspiração divina, por trás da intransigente atitude que associamos às carnificinas deste tempo.
Pecado Original
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém escrever,
A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade - o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza - o propósito à mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela da sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois do jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui?
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão
Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Há um gene que me conduz, periodicamente, a Álvaro de Campos. Foi agora o caso.
Quando o destino nos coloca perante a oportunidade de vislumbrar a beleza, tudo o resto perde sentido. A beleza pode não ser perfeita. Nós não somos perfeitos, o mundo nunca é perfeito. Mas há um sentido gratificante para a vida quando tudo o resto deixa de ter nexo. Que bonito seria se fosse possível vivermos todos, em harmonia, num mundo sem nexo. Que tristes são os momentos em que, porque a tal luz se afasta, as coisas corriqueiras começam a assumir a tonalidade cinzenta de que são feitas, mas que alívio é pensar que não são necessariamente assim. Escrever aqui, agrupar palavras desta forma, também pode servir para prolongar o deslumbramento, para dizer tudo sem dizer nada.