Isto não é má vontade. Nem bairrismo. Mas hoje ouvi, no programa matinal de notícias da RTP, algo que me deixou banzado, ainda por cima numa rubrica intitulada "Bom Português". Não foi calinada, admito, mas foi novidade para estes ouvidos. Falavam do quê (q, 17.ª letra do alfabeto) e chamaram-lhe "quê de nove". Percebi à primeira, há para ali uma parecença gráfica, q = 9... Mas, convenhamos, "quê de nove" é algo como "ésse de cinco" (S = 5) ou "éle de um" (l = 1). Bem sei que são coisas que se dizem aos meninos, para aprender a distinguir as letras (desnecessário, diga-se, pois a única confusão possível seria com a letra C, que se lê cê). Também eu aprendi dessa maneira, mas era "quê de haste" ou "quê de cauda". "Quê de quá-quá" (arghhh!...) já ouvi muitas vezes, "quê de nove" é que nunca, até porque a letra em causa não aparece na palavra nove. Presumo que seja um expediente lisboeta, que nem provoca um espanto assim tão grande. Afinal, a simplificação verbal em voga na capital faz com que, por exemplo, cabide sirva para designar cabide e cruzeta, que, como muitos saberão, são coisas completamente diferentes.