Se eu fosse mais encorpado, ao abrir os braços, tocaria ambos os muros que ladeiam a Rua da Boa Viagem. Por ela desço, por vezes, em busca do frescor da beira-rio, por ela subo de novo, mais a custo, para regressar ao ponto de partida onde o pópó ficou espojado ao sol. Um dia destes, nessa nesga campestre em plena cidade, cruzei-me com um varredor da Câmara, ou cruzou-se ele comigo. Teve de desviar o carrinho com balde, não cabíamos todos. Nesse momento, nem ele nem eu. Dissemos de uma só vez, sem pensar, “bom dia!”. Há uns anos, nos confins nordestinos de Rio de Onor, uma senhora fazia-me queixa de forasteiros como eu: “O pior é quando passam e não dão as boas horas...”. Numa rua do Porto, em caminhos ditos “do Romântico”, dois desconhecidos, em sentidos contrários, tiveram a noção do Outro, o respeito pelo semelhante que parecia confinado, e mal, a essas terras onde aparece gente grosseira, que não sabe dar as boas horas.
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