Às vezes, divirto-me a ver a conversa de amigos na SIC-Notícias. Mas também me impaciento, em momentos como aquele em que Pacheco Pereira falava do significado da palavra “carisma” em Sociologia, dizendo que, aplicado a uma pessoa, representava quem leva a cabo a mudança. Falavam de líderes carismáticos dos partidos, questão que, pelos vistos, terá de ser analisada à luz dos cânones sociológicos... Ripostou bem Lobo Xavier, ao enunciar correctamente o significado da palavra, justamente o que qualquer pessoa sem complicadores mentais entende, mas fez-me mudar de canal quando disse que não estava para discutir a “origem semântica” da palavra. Porquê origem? Estava a falar de etimologia? Queria dizer, com todo o direito, que não lhe apetecia discutir semântica? Custa assim tanto falar normal, falar simples?
Fora da Liga dos Campeões. Num jogo entre duas equipas fracas, a lógica prevaleceu e a mais medíocre foi eliminada. O fenómeno é complexo, nem me atrevo a tentar compreendê-lo. Treinadores que vêm e vão, fracos, fraquinhos, um estranho carrossel de estranhos jogadores, um deserto. Nem importa que Couceiro tenha dado mais uma fraca imagem das respectivas capacidades, ao tirar da cartola a táctica cobarde dos três centrais. Mau é que, além das más ou desadequadas contratações, parece evidente que se passa algo, no F.C. Porto, que está a minar a capacidade dos jogadores, agora tristonhos, depois desinteressados. Patético.
1. A questão da venda de medicamentos em hipermercados e afins é, afinal, mais uma dose de provincianismo à portuguesa. Estou ainda para perceber qual é o aconselhamento recebido pelo cidadão quando vai à farmácia comprar uma aspirina. No fundo, as resistências ouvidas à intenção de Sócrates enfermam, de algum modo, do mesmo tipo de atraso que tem impedido a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Do lobby das farmácias, construído, às custas das dívidas estatais, no tempo do cavaquismo, outra reacção não seria de esperar, já os farmacêuticos apresentam um corporativismo mais "light". Os médicos, teoricamente aqueles que mais percebem dos perigos que há ou não para as pessoas, batem palmas, evidentemente, pois facilitar o acesso aos medicamentos de venda livre é um óbvio benefício para todos os que não ganham dinheiro a vendê-los. Em todos os aspectos, daí outro aplauso, o das associações de consumidores. Mas os políticos põem-se a inventar reticências, porque a negação está na massa do sangue de todas as oposições. Essas reticências têm estado, ao longo dos anos, na base de larga parte do marasmo português, principalmente porque a exigência dos media, que querem reacções sempre em cima da hora, leva a que, muitas vezes, só se pense no que se diz depois de se ter dito.
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2. Outro aspecto do nosso atraso é a questão da falta de mulheres no Executivo. A paridade, como objectivo, causa-me alguma estranheza, tanto faria se houvesse mais homens ou mais mulheres, é de pessoas que falamos. Mas que há resistências, todos sabemos que há, e continuam a ser muito fortes. Estabelecer quotas, para atacar essas resistências, também não é uma solução para o problema, porque se trata de um princípio que pode sobrepor-se a outro mais importante, o da competência. Chocante é, como se leu nos jornais, que haja, por parte do agora primeiro-ministro, a impressão de que o PS não atrai mulheres competentes. Não vou aqui tomar a defesa das mulheres socialistas, que não precisam, nem criticar as escolhas de Sócrates, mas esse argumento da atracção parece-me absolutamente ilógico e despropositado. Talvez o problema, neste e noutros partidos, como na vida, esteja na base. Nos obstáculos suplementares colocados às mulheres, no esforço suplementar que elas têm de fazer. Estou a falar nas nossas fraquezas. Na fraqueza dos homens.
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3. Mais PS, mas agora ao nível local. Escreveu-se no "Público", que Francisco Assis será candidato à Câmara do Porto. De surpreendente, a notícia nada tem, há muito que é público e notório o interesse do líder distrital em candidatar-se ao cargo. Não sei qual seria a alternativa, mas parece-me que, uma vez mais, os socialistas apontaram a artilharia aos próprios pés. O candidato a candidato é tudo o que não falta à cidade, um homem dos bastidores, desprovido de carisma, baço. Uma indefinição aos olhos dos eleitores. Ou muito me engano, ou Rui Rio agradece. Logo, eu não agradeço.
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4. Lá teríamos de chegar a este ponto. A vergonha de ontem à noite foi tudo menos uma surpresa. Ainda há pouco, deitando o olho ao jogo dos lampiões, vi que o Gil Vicente joga muito mais do que o F. C. Porto. Ou seja, levar quatro do Nacional chocou-me menos do que seria de esperar, de tão familiarizado que estou, como os restantes portistas, com a mediocridade futebolística que esta época nos reservou. Outra coisa não seria de esperar, ante uma desastrada política de contratações, assente nas necessidades de treinador nenhum. Vários deles (Leo Lima, Hélder Postiga, pseudo-Fabuloso...) são imprestáveis. Mas o certo é que, se Pinto da Costa tivesse contratado onze maradonas, o clube continuaria a não ter uma equipa de futebol.
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2. Outro aspecto do nosso atraso é a questão da falta de mulheres no Executivo. A paridade, como objectivo, causa-me alguma estranheza, tanto faria se houvesse mais homens ou mais mulheres, é de pessoas que falamos. Mas que há resistências, todos sabemos que há, e continuam a ser muito fortes. Estabelecer quotas, para atacar essas resistências, também não é uma solução para o problema, porque se trata de um princípio que pode sobrepor-se a outro mais importante, o da competência. Chocante é, como se leu nos jornais, que haja, por parte do agora primeiro-ministro, a impressão de que o PS não atrai mulheres competentes. Não vou aqui tomar a defesa das mulheres socialistas, que não precisam, nem criticar as escolhas de Sócrates, mas esse argumento da atracção parece-me absolutamente ilógico e despropositado. Talvez o problema, neste e noutros partidos, como na vida, esteja na base. Nos obstáculos suplementares colocados às mulheres, no esforço suplementar que elas têm de fazer. Estou a falar nas nossas fraquezas. Na fraqueza dos homens.
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3. Mais PS, mas agora ao nível local. Escreveu-se no "Público", que Francisco Assis será candidato à Câmara do Porto. De surpreendente, a notícia nada tem, há muito que é público e notório o interesse do líder distrital em candidatar-se ao cargo. Não sei qual seria a alternativa, mas parece-me que, uma vez mais, os socialistas apontaram a artilharia aos próprios pés. O candidato a candidato é tudo o que não falta à cidade, um homem dos bastidores, desprovido de carisma, baço. Uma indefinição aos olhos dos eleitores. Ou muito me engano, ou Rui Rio agradece. Logo, eu não agradeço.
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4. Lá teríamos de chegar a este ponto. A vergonha de ontem à noite foi tudo menos uma surpresa. Ainda há pouco, deitando o olho ao jogo dos lampiões, vi que o Gil Vicente joga muito mais do que o F. C. Porto. Ou seja, levar quatro do Nacional chocou-me menos do que seria de esperar, de tão familiarizado que estou, como os restantes portistas, com a mediocridade futebolística que esta época nos reservou. Outra coisa não seria de esperar, ante uma desastrada política de contratações, assente nas necessidades de treinador nenhum. Vários deles (Leo Lima, Hélder Postiga, pseudo-Fabuloso...) são imprestáveis. Mas o certo é que, se Pinto da Costa tivesse contratado onze maradonas, o clube continuaria a não ter uma equipa de futebol.
À míngua de palavras minhas, as de David Mourão-Ferreira.
São de nada
tempestades
ante a falta
que me fazes.
Ontem teria sido um bom dia para escrever isto. Assim o entendeu o blasfemo LR, que reparou neste tímido e condicionado (ainda pela preguiça, ainda pelo tempo) regresso à blogosfera. Teria sido um bom dia, principalmente se outras tivessem sido as ocorrências registadas no Estádio do Dragão. Porém, dá-se o caso de eu não ter visto o jogo. Triste caso, não pelo resultado, mas por ter sido obrigado a ir a Mortágua, onde quatro bombeiros morreram no exercício da profissão.
Sobre o futebol, apenas me apraz dizer que gostaria de ser "assanhadamente portista", mas o deserto que é aquela equipa não constitui inspiração por aí além. Assim sendo, só me resta felicitar todos os que fazem o Blasfémias pelo primeiro aniversário dessa confluência de vidas bloguísticas, ricas pela diversidade de que fazem estandarte, mesmo que todas naveguem no mesmo oceano político. Parabéns!