Há notícias que, mesmo esperadas, provocam estranhos sentimentos de incredulidade. Assim foi, hoje, quando alguém, do outro lado da linha, disse: “Morreu o Zé Saraiva”. É sempre assim. Mais assim é quando parte alguém que associamos a energia no estado puro.
O José Saraiva que conheci era o dos jornais, não o da política, se bem que um e outro coincidissem nos modos de ser e de agir. Ele era o trovão, a tempestade que no dia seguinte se transformava em bonança. Com ele morre, também, mais um pouco de uma forma de estar que tornava as redacções lugares únicos, lugares de privilégio. Era excessivo, como o são, de algum modo, todas as pessoas que deixam marca. Era-o de um jeito muito próprio, acentuado numa mistura da forma de ser dos portuenses com a forma de ser da gente dos jornais. Um furacão que hoje varria tudo, para amanhã estar em paz com aqueles que lhe tivessem feito frente, sem ressentimentos.
Conheci-o como chefe de Redacção do JN, já não como director, convivi com ele quando, com empenho, voltou à banca de repórter, vi-o abraçar a política sem ser capaz de abandonar este mundo de papel e tinta onde cresceu. Em todas as circunstâncias foi sempre um de nós. Se ocupava funções executivas, era na mesma um de nós, um primus inter pares que valorizou sempre algo a que chamamos camaradagem.
Porque assim foi, constitui-se agora em memória viva e assim permanecerá. Dele, lembrar-nos-emos. Um de nós, alguém que se fez sendo de nós, alguém que a vida atraiçoou, como nos pode atraiçoar a nós. É nessa proximidade que estamos com ele.