3 comments | quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Há notícias que, mesmo esperadas, provocam estranhos sentimentos de incredulidade. Assim foi, hoje, quando alguém, do outro lado da linha, disse: “Morreu o Zé Saraiva”. É sempre assim. Mais assim é quando parte alguém que associamos a energia no estado puro.

O José Saraiva que conheci era o dos jornais, não o da política, se bem que um e outro coincidissem nos modos de ser e de agir. Ele era o trovão, a tempestade que no dia seguinte se transformava em bonança. Com ele morre, também, mais um pouco de uma forma de estar que tornava as redacções lugares únicos, lugares de privilégio. Era excessivo, como o são, de algum modo, todas as pessoas que deixam marca. Era-o de um jeito muito próprio, acentuado numa mistura da forma de ser dos portuenses com a forma de ser da gente dos jornais. Um furacão que hoje varria tudo, para amanhã estar em paz com aqueles que lhe tivessem feito frente, sem ressentimentos.

Conheci-o como chefe de Redacção do JN, já não como director, convivi com ele quando, com empenho, voltou à banca de repórter, vi-o abraçar a política sem ser capaz de abandonar este mundo de papel e tinta onde cresceu. Em todas as circunstâncias foi sempre um de nós. Se ocupava funções executivas, era na mesma um de nós, um primus inter pares que valorizou sempre algo a que chamamos camaradagem.

Porque assim foi, constitui-se agora em memória viva e assim permanecerá. Dele, lembrar-nos-emos. Um de nós, alguém que se fez sendo de nós, alguém que a vida atraiçoou, como nos pode atraiçoar a nós. É nessa proximidade que estamos com ele.

KO

2 comments | domingo, fevereiro 20, 2005

Era de dois mil e quarenta e três anos. Saibam quantos esta carta virem que Portugal está, a partir de hoje, livre de ter um primeiro-ministro chamado Pedro Santana Lopes, com todo o nada que isso implicaria. A maioria absoluta acarreta riscos, mas a coligação agora escorraçada do poder, nada menos que uma maioria absoluta, era muito mais nefasta. Não é que a vitória do PS nos entregue a esperança de mão-beijada, pois isso é algo que requer tempo, mas a derrota da direita alivia-nos desta sensação de opressivo desespero em que nos temos arrastado. Não haverá milagres, pois ainda não há receita para erradicar alguns males endémicos da classe política que temos, do mundo onde estamos e do povo que somos, mas estes, os que para lá vão agora, têm outros valores, embora, por vezes, seja difícil encontrar a linha de separação. Como sempre, compete-nos estar vigilantes, mas poderemos respirar melhor.

2 comments | sábado, fevereiro 19, 2005

O meu voto está há muito decidido, outras utilidades terei de encontrar para este dia modorrento. Sem me apetecer reflectir noutras coisas, despejo aqui estas palavras assépticas, simplesmente para ver se a caixa de comentários me trará algum reflexo, para saber se ainda haverá algum motivo para pôr termo à secura da Fonte.