3 comments | terça-feira, julho 25, 2006

As palavras abandonam-nos. Quantas vezes... Por mais que as procuremos, apenas surgem aqueloutras que não são publicáveis, porque eventualmente ofensivas, porque certamente diminuidoras da elevação que se pretende associada ao debate das coisas públicas. Abandonado pelas palavras, começo a ser incapaz de escrever, respeitando os limites da decência e da urbanidade, sobre as atitudes da entidade que presume ser a Junta de Salvação Municipal. Esta decisão de entregar a gestão do Rivoli a privados é... é... pois, faltam-me as palavras. Não sei o que dizer da atitude (...) de Rio e da (...) da mentalidade que lhe subjaz. Porque gerir um município desta grandeza não é apenas fazer as (...) das contas, porque os eleitores (presumo eu, quiçá inocente) não votaram num (...) de um contabilista. (...) que (...) esta (...)!!... Mas outra coisa não seria de esperar daqueles cérebros (...). Essa (...) da cultura é uma (...) dum negócio como qualquer outro, e tudo se resume ao livrinho do deve e do haver. Ou seja, o cavalheiro lança como único argumento a possibilidade de levar mais gente ao estaminé. Se for para ver as pessegadas do La Féria, assistir às diabruras do palhaço Batatinha ou ao desfile dos Morangos com Açúcar, é certo que aquilo será um êxito permanente de bilheteira. O município, vocacionado para senhorio, recebe a renda e, alegremente, é capaz de atirar aos olhos da opinião pública, com muita areia à mistura, os números de uma decisão acertada. Porque o acerto destes senhores é mensurável, sujeito ao aval de revisores oficiais de contas, escrito em folhas quadriculadas. O acerto é aferido pela prova dos nove, ganha corpo em sucessões alinhadinhas de algarismos sorridentes. Ao município não compete dinamizar a cultura, julgarão eles, e o vazio completo da cidade é a prova de que seguem à risca o que as convicções lhes ordenam. Querem emagrecer as despesas e assim fazem. Mas tinham obrigação de prescindir dos respectivos ordenados e, em paralelo, estipular um valor diário qualquer, que pagariam à cidade, como indemnização pela penumbra em que insistem em mergulhá-la. Nunca tão poucos fizeram tanta (...) para prejudicar tantos.

A decisão está tomada, mas a petição ainda está ao dispor de quem quiser juntar-se ao protesto.

3 Comments:

Blogger AM said...

Caro Pedro

Como compreendo a sua falta de palavras.
A mim também se me acabaram as palavras, as publicáveis.

No que respeita à situação da cidade, no que respeita à situação do país, no que respeita à situação do mundo, da humanidade, só cabem as outras palavras (os gritos) as impublicáveis.

Mais de 6000 assinaturas, já...

E não se pode impedir o crime, o roubo...?

Não valem acções populares, providências cautelares, nada?

Onde andam o Arq. Pulido Valente ou outros Valentes?

Desistimos assim?

AM

11:21

 
Anonymous Anónimo said...

penso ke se poderá sempre fazer alguma coisa. méne era muito mau ver no "meu"kerido Rivoli os morangos grrr

13:42

 
Blogger Rui Rebelo said...

Arte e Entretenimento

Nos dias de hoje, com a globalização, a massificação do consumo e o crescimento exacerbado da indústria do lazer, torna-se cada vez mais difícil distinguir o entretenimento da arte. O ideal consumista converteu a arte num produto de estética populista, fruto da cultura do entretenimento e formatado à lógica do espectáculo.
A lei do rentável foi matando a capacidade de discernimento do indivíduo, tornando-o apenas em consumidor ou consumível .
“Arts and Entertainments” - Os motores de busca na internet teimam em colocá-los sempre no mesmo directório e o facilitismo da estandardização faz com que essa lógica se vá apropriando do imaginário colectivo.
Ambas fazem parte da cultura universal mas com papeis substancialmente diferentes na sua capacidade de intervenção no indivíduo, na sociedade e, consequentemente, na História.

Muitos animais se divertem e entretêm mas apenas um faz arte – o Homem.
O entretenimento (sem as mais valias do convívio, da pedagogia, da ginástica, etc.) está associado apenas ao prazer e a arte vai muito para além disso, é muito mais abrangente e está inevitavelmente vinculada à inteligência, à intuição, ao raciocínio, ao sentimento, à imaginação, à expressão e a tudo o que nos transcende.
Jogar consola com o meu filho é entretenimento. Olharmo-nos nos olhos e sentirmos o amor que nos une, compreendendo e realizando a importância desse amor, é arte.
Um diverte, a outra sensibiliza, emociona, perturba e faz pensar, tocando, modificando, sendo dinâmico e vivo, fazendo evoluir.
Por vezes tocam-se, misturam-se, como o azul e o amarelo que dão verde. Mas não deixam de ser coisas completamente distintas.

Entreter é o espaço entre o que se teve e o que se vai ter, é o tempo em que não se tem nada, em que não se é nada, em que não se existe. Logo é necessário passar esse tempo para outra coisa ter, ser ou existir por nós. Recorre-se então ao passatempo que é uma espécie de encher um copo sem fundo, onde se tem uma sensação de satisfação e a ilusão da acção em si. Passar o Tempo é a coisa mais estúpida que se pode (não) fazer na vida. Simboliza a inutilidade por excelência e é sinónimo de inactividade e improdutividade. É queimar tempo de existência. Não no sentido da meditação e da introspecção mas no sentido da passividade no seu estado mais estupidificante.
Entretenimento é darem-nos algo já feito quando nós não estamos a fazer nada, é darem-nos uma comida já mastigada, ingerida e digerida…

O objectivo da McDonalds é fazer dinheiro ou boa comida? Claro que para os meus filhos é a melhor comida do mundo. Sabe bem, dá-lhes prazer comer. Mas será que lhes faz bem? Quando tinha a idade deles tinha o mesmo prazer a comer fruta arrancada directamente da árvore…
Não sei o que é que a McDonalds põe na comida para que as crianças (e não só) gostem tanto e quase se viciem, bloqueando o gosto por outros sabores, mas sei o que o Sr La Féria faz para entreter tanta gente… a resposta está nos sinónimos de entreter.
Entreter: deter, paliar (com promessas); enganar; recrear; divertir; distrair; suavizar.
O resto é atirar areia para os olhos e partir do principio que as pessoas não sabem fazer nada dando-lhes tudo feito. O que causa um efeito de satisfação de quem nada fez mas comprou feito. Há o pronto a comer, o pronto a vestir e o pronto a assistir…

Para acabar digo apenas que não sou contra a existência da McDonalds e do sr. La Féria desde que não contribuam para o desaparecimento progressivo da boa comida e do bom teatro (quero dizer da comida saudável e do teatro inteligente).

16:44

 

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