0 comments | terça-feira, julho 11, 2006

Comparar a Câmara do Porto, enquanto entidade concessora de subsídios, a um patrão, fazendo dos agentes culturais apoiados os empregados que se querem obedientes, é muito errado e perigoso. Na essência, os eleitos com poder executivo não passam de intermediários mandatados pela sociedade. Ou seja, compete-lhes promover a dinamização desta ou daquela actividade, mas não em nome próprio, nem apenas em nome dos que neles votaram. Assim é a democracia. Claro que o sistema pode redundar no favorecimento de clientelas, mas a alternativa, num país embrutecido como o nosso, é o vazio total. Para os liberais, a única liberdade que parece importar é a que mexe com a administração dos próprios tostõezinhos. Assente no indivíduo, nas liberdades individuais, a doutrina pisa a linha de fronteira do egoísmo, causa de todos os males porque intimamente ligado à inveja, à cobiça, ao desprezo pelo outro... Mas a Liberdade é mais do que a livre iniciativa. É, por exemplo, o direito à diferença, a liberdade de contestar sem que as minorias dominantes, que sempre são as mais endinheiradas, espezinhem impunemente as vozes discordantes. O famigerado protocolo que Rui Rio & associados querem impor às instituições subsidiadas é um claro abuso de poder. À uma porque o dinheiro não é deles, às duas porque só serve para oficializar a instrumentalização política da concessão de subsídios, sob uma máscara propagandística de fosca transparência.