Rua dos Clérigos, Porto
Lê-se na frente do autocarro, que passeia turistas pela cidade esventrada, o "Porto vintage" que dá título a este post. Como certamente sabem, a designação vintage, no que ao Vinho do Porto respeita, reporta-se à colheita de um ano específico, que é assim declarada por ter qualidade excepcional. Ora, o que os passageiros deste veículo vêem não é um vintage, mas um Porto a martelo (leia-se camartelo, leia-se martelo pneumático, leiam-se os martelinhos que os calceteiros usam na dita requalificação do centro da cidade). Mas nem está aqui em causa o mau aspecto das obras que se arrastam, uma rotina que já flui no nosso sangue, e a imagem que os estrangeiros levam para as respectivas estranjas. Quero apenas apontar uma outra face da incompetência pública, a que releva do esquecimento a que os peões são sistematicamente votados. Quem sai a pé da Praça da Liberdade em direcção à Rua dos Clérigos, ou vice-versa, circula no exíguo espaço destinado aos veículos, vendo de soslaio os rabos de pavão que os operários vão desenhando no que um dia voltará a ser o passeio. O tema nem suscita grande reflexão. Está mal feito, é um desrespeito pelos cidadãos, é um perigo.
Rua dos Clérigos, Porto
Rua dos Clérigos, Porto
Rua dos Clérigos, Porto
As fotos, feitas em hora de pouco movimento, são, creio, elucidativas.
Mas não ficamos por aqui. A ideia não é discutir a essência da dita requalificação, mas, simplesmente, questionar a metodologia aplicada. A escultura que simboliza a abundância, da autoria de Henrique Moreira, clarifica a minha perplexidade. Os cubos de granito do pavimento, saídos das cabeças de Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura, já rodeiam a escultura de uma forma que aparenta ser definitiva. Ora, dá-se a circunstância de o plinto assentar no que agora parece ser uma sapata de granito, afinal de contas a dura pedra que foi partida quando ali se rasgou a avenida, agora um afloramento resultante do rebaixamento que as obras em curso provocaram. Vai ficar assim? Suponho que não, seria uma imbecilidade. Então, por que diabo não usaram a cabeça quando deviam, pondo a estátua ao nível adequado, antes de avançarem com a pavimentação?
Em plano recuado, uma casa cega, surda e muda.
Avenida dos Aliados, Porto
4 Comments:
A base ficava tapada pelo canteiro que rodeava a escultura. Agora terá que se encontrar uma solução para disfarçar a base do monumento, que foi feita para estar tapada.
José Manuel
01:42
Colocam-se uns vasinhos de flores.
Hã? Não é "voa" ideia? Não acham?
.....
Caro POS, aproveito para lhe comunicar que publiquei justamente esta foto lá no sítio. Não resisti...(espero que nao se importe;-)
19:14
Claro que não, Manuela. Disponha :-)
19:47
essa rua dos clérigos não tinha sido "arranjada" nos tempos da Porto 2001???
00:44
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