Amarante, 2005, Outubro, 1
Em tempo de grandes causas, como reparar nos pequenos? Por falar em pequenos, é um líder político nacional que está, algures à direita, a suscitar as atenções de tão erectas pernas. O pedinte, um toxicodependente que já nem saberá de onde vem, muito menos para onde vai, quase foi pisoteado pelos que se acotovelavam para escutar as grandes coisas que ali se diziam. Eu já tinha ouvido todo o palavreado de circunstância do político. Pude ficar fora da molhada. Pareceu-me ver ali uma metáfora daquilo em que nos transformámos. Tão anestesiado, o homem estendia a mão aberta a tudo o que em torno dele mexesse, até aos pés que quase o atingiram. Ele é apenas um pobre diabo, encostado à entrada de uma ponte. Ao lado, falava-se de grandes coisas, mas quem se preocupa com a imagem global não pode perder tempo com pormenores. Os pormenores morrem, abandonados, como parcela residual numa estatística qualquer.
Nota: a fraca qualidade da imagem prende-se, afinal, com uma evolução técnica deste blogue: finalmente, comprei um telemóvel com máquina fotográfica, o que, com sacrifício da resolução, permitirá, eventualmente, que aqui sejam usados instantâneos que, de outra maneira, não existiriam.
5 Comments:
Está bem. A escrita está bem. A fotografia está bem. Já agora, quem era o político? Devia ser muito pequeno para não se ver na foto. :))))
16:01
Há coisas que não interessa ver, não é verdade?
Há coisas que só alguns vêem!
Um abraço,
Emília
21:34
que se lixe a técnica, por este instante. porque neste instante, por entre o barulho de tão altos ideais, ha um olhar que impôs a voz. fica bem
18:21
o verdadeiro "instantâneo"
08:25
Gostei... mostra bem o quanto esses senhores são indiferentes ao coitado,aquele que precisa de ajuda, o pior é que não são apenas esses senhores...somos todos nós.
Catarina Viegas
22:44
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