Além de escrever malzito, o arquitecto José António Saraiva não acerta uma. Atira-se hoje a Saramago, nem sequer se incomodando por o fazer a destempo, publicada que foi a entrevista ao "Diário de Notícias" há duas semanas. Naquela coluna intitulada "Política a sério", um entre vários assomos de vaidade, o homem que se julga o mais influente do país associa uma visão pessoal de Saramago a essa abstracta entidade a que dá o nome de "esquerda". O escritor (o verdadeiro, que ganhou o Nobel, não o de pacotilha, que disse querer ganhá-lo) tem um peso institucional próprio, pessoal, e, pelo que dele se vai ouvindo, já deve ter mais que fazer do que pretender doutrinar a dita esquerda. A questão da putativa Ibéria, resultado da integração dos dois estados peninsulares, isto é, a junção de Portugal com as várias nações espanholas, não mereceria o arraial de reacções que provocou, mesmo aquelas que ocorreram em tempo próprio. É uma visão pessoal que, diga-se, não é inédita nem uma impossibilidade. Não será para os nossos dias, suponho, e até pode nunca vir a ser, mas a união ibérica será sempre uma possibilidade, mesmo que distante ou indesejável, excepto para os que ainda acreditarem na pátria de direito divino. Portugal não existiu sempre e, como tudo, acabará. Tal como Espanha. Tal como os que lêem Saramago, tal como os que compram o "Sol".
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