2 comments | sábado, junho 30, 2007

Limitar a Liberdade de Imprensa é, desde sempre, prioridade dos poderes fortes. Se as ditaduras o fazem por decreto pragmático, aliviadas que estão do controlo parlamentar, as democracias musculadas, isto é, quando o poder é respaldado pelo autocontrolo de uma maioria absoluta, buscam expedientes de subtileza mais ou menos grosseira. O novo Estatuto do Jornalista que o Governo quer implementar enquadra-se no gupo dos menos subtis, na medida em que se lêem com clareza os mecanismos que fragilizarão, ainda mais, o exercício de uma actividade que já se move entre pressões de todos os tipos. São essas pressões, das quais o próprio mercado não é a menor, que contribuem para acentuar uma voracidade mediática tantas vezes conducente ao atropelo não apenas da deontologia, mas também da honradez algures perdida por alguns profissionais da informação. A auto-regulação é, evidentemente, instrumento essencial para que o jornalismo seja mais cidadania do que negócio desregrado, devendo ser exercida por cada um em consciência. O mesmo não poderá dizer-se da auto-regulação de classe, exercida pelos pares, porque o jornalismo não é uma profissão liberal (os próprios free-lancers dependem de entidades patronais) e os pares não serão necessariamente solidários. A atestá-lo temos esta questão do Estatuto dos Jornalistas, que, creio não me enganar muito, servirá para que estratégias antagónicas – a que pretende manter o status quo e a que busca soluções corporativas de outro tipo – possam digladiar-se empunhando a mesma bandeira. Até disso o Governo sabe, até disso o Governo se aproveita.

2 Comments:

Blogger Zenix said...

Pois e era exactamente essa possibilidade que me estava a ocorrer enquanto reunia as últimas informações a que tive acesso, no meu poiso.
Se não te importas, o meu próximo "post" será remetido para este teu parecer.

Abraço

01:44

 
Blogger Vítor Soares said...

Parabéns pelo poder de síntese e pela certeira, penso eu, análise prospectiva. Os sinais que já se notam nas hostes corporativas não deixam grande margem para dúvidas. A propósito, aproveito para remeter o assunto para a posição do Joaquim Vieira contra os "papas do jornalismo" no Observatório da Imprensa em http://observatoriodaimprensa.pt/notas/o-regresso-da-ordem/#comments

14:53

 

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