1 comments | quinta-feira, junho 21, 2007

Quando, em 1970, a música de Andrew Lloyd Webber e as palavras de Tim Rice deram forma à ópera-rock "Jesus Christ Superstar", um duplo álbum precedeu a subida aos palcos, primeiro na Brodway, só depois no West End londrino. Nessa produção em estúdio, Jesus era interpretado por Ian Gillan, vocalista dos Deep Purple, um homem do hard rock, e toda uma estética hippie esteve associada às várias produções, designadamente a conhecida encenação cinematográfica de 1973. Mais do que imaginar Filipe La Féria envergando uma túnica sobre a qual longos cabelos penderiam, sorvendo cigarros de fazer rir, vejo nesses preparos um barbudo que não o Cristo propriamente dito, de visão caleidoscópica fixada no monitor enquanto escreve, em piloto automático, trips verborreicas que ingere em cubos de açúcar embebidos dessa anacrónica dietilamida de ácido lisérgico, Lysergsäurediethylamid no original germânico (não, nada tem a ver com o Colégio Alemão).




Não acredito que as madames e madamos arregimentados para a festarola do Rivoli fossem groupies dos Deep Purple, nem creio, na verdade, que o plumitivo-mor do município recorra a substâncias psicotrópicas para regurgitar as prosas que abrilhantam sistematicamente o site de propaganda pessoal dos ocupantes da CMP. Mas terão gostado, 36 anos depois, de ver que o Filipe (ler Flip) é moço de vanguardas. Tê-lo-ão, até, felicitado efusivamente, pelo menos quando as objectivas da revista cor-de-rosa de serviço se aproximavam (porque não é de mais lembrar que ao teatro dito municipal, para fazer cobertura jornalística - dê-se de barato que sim - da estreia, só teve acesso o universo Impresa, ler "Caras" e SIC). E participaram, alegremente, porque isto das fêstas é feito de alegria, assim o mostram sempre as fotos, numa clara demonstração do que é a visão... (que diabo!, se fosse eu seria simonística, se fosse o cavaco cavaquista, se fosse o Sócrates socrática... mas Rio não dá para nada...) do que é a visão autocrática, queria eu dizer, de um teatro municipal: glamour rançoso na abertura, rebanho acrítico na plateia em que talvez gostasse de transformar a cidade, deslumbrando-a com recitais de gestão absolutista.




Porém, apesar de esta ser uma cidade em profunda quebra anímica (um mal atávico, mais grave do que a parolice de um ou de outro protagonista da vida pública), a plateia urbana foi mais exprobratória do que aquiescente (deu-me para este maneirismo, um tipo diverte-se assim), contestando não JCristo ou JLaFéria, mas o distorcido entendimento que a gestão municipal tem das suas obrigações enquanto promotor cultural. O liberal discurso das subsidiodependências ou a apologia cega da iniciativa privada nada têm a ver com isto, porque nas mãos da Câmara estaria combater as ditas subsidiodependência (não necessariamente cortando a eito nos subsídios) e porque não cabe aos privados assumir obrigações que são públicas, por mais lucrativa que essa assunção possa revelar-se. Mas nem é isso o que mais importa. Importa insistir, como aqui sempre foi feito, que a descarga de efluentes mentais no site oficial da cidade envergonha qualquer portuense com dois dedos de testa.

1 Comments:

Blogger Lis said...

Eu achava bem.

14:17

 

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