Queiram ou não os que, em Portugal, têm passado os últimos anos a defender as políticas de George W. Bush, porque são incapazes de dar outra forma ao culto pró-americano - como se um tão grande país fosse apenas feito de rednecks -, queiram ou não, dizia eu, a América deste lamentável presidente é a América das armas. Da guerra baseada em mentiras, da promoção e destituição de ditadores consoante o rumo dos ventos, dos massacres em escolas. Não por Bush ser responsável por actos de loucura como a matança de 32 pessoas na Virginia, mas porque foi eleito pelas armas e porque as usou para ser eleito.
A América das armas é um dos resultados mais perniciosos do Liberalismo, conquanto doutrina mais do que ideário. É a América da Segunda Emenda setecentista - "Sendo necessária uma milícia bem regulada para a segurança de um Estado livre, o direito de o Povo possuir e portar armas não será infringido." -, que, mediante boa dose de perversão, entende a posse de armas de fogo (de todos os calibres, feitios e capacidades de repetição) como saudável paradigma das liberdades individuais, da propriedade privada e de todos esses valores que baixam à categoria de disparate a partir do momento em que são transformados em dogmas.
E Bush é um produto da América das armas, pouco interessando o arsenal que guardará no rancho texano. Foi apoiado pela National Rifle Association, mudou a lei para ser apoiado pela National Rifle Association, foi patrocinado pela National Rifle Association. E a National Rifle Association (repita-se à saciedade o nome do diabo) é o poderoso lóbi das armas, da defesa pelos próprios meios, da liberdade individual para disparar, no pressuposto ideológico de que a cada um, e não ao Estado, compete zelar pela própria segurança.
A América de Bush - e de todos os que o precederam, pois apenas Clinton mexeu no assunto e sem ir muito a fundo - é o sítio onde comprar uma pistola, uma carabina ou uma metralhadora é tão fácil como ir ali buscar um par de sapatos. É a América primitiva que, queiram ou não os detractores do cineasta, tão bem foi mostrada por Michael Moore em "Bowling for Columbine". É a América que garante ter um conceito próprio de Liberdade que deseja impor ao Mundo, assim o é desde Thomas Jefferson.
Este blogue não existe para divulgar violência, pelo que opto por não difundir um filme que me mostraram, no YouTube, retratando um alegre bando de "rednecks" que se divertem com toda a sorte de metralhadoras, numa animada tarde ao ar livre. E a ensinar crianças - crianças bem pequenas - a disparar essas máquinas de morte (se forem lá e fizerem uma busca por "Virginia Machine Gun Shoot" não há que enganar).
Deixei lá um comentário que rezava assim: "Disgusting! To be a law-abiding citizen isn't enough when we're talking about primitive laws that allow civilians to have fun with killing machines. You should be ashamed of your Second Amendment...".
Fui censurado, e o rapaz escreveu-me, deixando esta entre outras pérolas: "How can a people be restricted from owning firearms and still call themselves free?".
A América de Bush é o mundo de Bush, nada mais do que o culto da morte com a desculpa da supremacia moral.
2 Comments:
Vi o vídeo e o que vi miúdos a sofrer com a pior das educações e um bando de hillbillies disfarçados de gente a gastar pipas de massa em armas caras e montes de munições quando há gente na Terra a morrer à fome. Esta é a América imbecil que dá mau nome à América não imbecil. Quanto à América de Bush, é como o Portugal de Sócrates (com as suas diferenças óbvias, porque os actores são diferentes e os países igualmente) e, estou certo, mais um conjunto de países que nem me passa pela cabeça mencionar. Ou seja: estamos entregues ao canil - nos Estados Unidos igualmente.
12:02
Revi "Bowling for Columbine", passei-o aos meus alunos na escola e continuo a ficar arrepiada. Como é possível?
23:05
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