Há uma entre várias subespécies, dentro desta a que determinámos pertencer, que me incomoda um pouco: os homens de acção. Aqueles que pensam como os paralelepípedos, em linha recta, com ângulos rectos, com toda essa rectidão de que se mascara a deliberada incapacidade de reflectir. Quando alguém diz que, no Médio Oriente, assistimos ao confronto entre a cultura (Israel, já se vê) e o obscurantismo (esse grande saco do terrorismo em que se metem todos os árabes), vejo-me forçado a identificar esse alguém com as pedras da calçada, cinzeladas com vigor, desenhadas com o fino traço de cortantes arestas. Sólidas. Duras. Imutáveis, porque o tempo efémero de uma vida humana não chega para as erodir. São esses paralelepípedos de nítido corte que, olhando para esta coisa que a todos assusta, decidem desde logo compreendê-la. E tomar partido, coisa própria dos homens de acção. Nem param para pensar por que motivos uma civilização tão avançada, que tanto nos deu, é agora tão obscura. Esse mundo islâmico que determinou o progresso das matemáticas, que nos deu luzes para a navegação, que impediu os grandes clássicos de se perderem para sempre, traduzindo-os para que mais tarde viessem a ser recuperados pelos humanistas. Fixados no papel que lhes atribuiu o destino, elos de firmeza nessa calçada que os tempos pisam, ignoram tudo o que o luminoso Ocidente fez para obscurecer essa infiel gente do Levante. São calhaus, nada mais poderá esperar-se deles.
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