Mas que diabo faz uma estátua virada para um edifício? Assim perguntarão muitos dos que visitam a Sé portucalense e, mirando as cercanias, vêem aquela torre que de medieval nada tem (e que nada tem lá dentro...) olhada com espanto pela empedernida figura. Não é aqui lugar para comentar a torre, projectada pelo arquitecto Fernando Távora e reproduzindo, simbolicamente, o que em tempos foi a Casa da Câmara. Erradamente, há quem se refira ao edifício como Casa dos Vinte e Quatro, o que é falso. A confusão deve-se a que, em dias de solenidade, como a festa do Corpus Christi, era ali que os membros desse órgão representativo dos ofícios mecânicos (dois por cada mester) mudavam de roupa, saindo devidamente aperaltados para as procissões. Essa torre, cuja base ainda lá está, era um edifício precário, que sempre evidenciou sinais de iminente derrocada, pelo que a câmara andou, posteriormente, por vários locais. O que nos interessa, já se explicará porquê, é o edifício que existia na Praça Nova, fronteiro às Cardosas, entretanto demolido para rasgar a Avenida dos Aliados. Ora, a estátua que aqui se mostra encimava o edifício, posta que estava no vértice do frontão (imagens da época mostram-na razoavelmente). Simboliza o Velho Porto e, depois de andar em bolandas, foi posta aqui onde a vemos, olhando respeitosamente para o símbolo do poder civil da cidade, para o símbolo do progresso. Ora, a dita Casa da Câmara, por cuja parede envidraçada podemos dar de caras com o velho burgo humanizado, continua sem servir para nada. A culpa só pode ser da Câmara. Da outra.
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