Também os blogues ganham vida própria. Quer isso dizer que nos hipnotizam, que nos transformam, que em nós despertam um instinto de jogo ou competição. A febre de clicar naquele botãozinho que diz “publish”, por vezes, atraiçoa-nos, levando-nos a embarcar em teias de falsidade. A pressa pode tornar-nos indelicados, pode levar-nos, perdoem a metáfora, a protagonizar execuções sumárias por dá cá aquela palha. Falo na primeira pessoa do plural, assumindo que também, aqui e ali, possa enfermar dessa maleita. Na blogosfera portuguesa, há dois casos paradigmáticos. Em primeiro, aqui há tempos, a admissão pelos menos atentos de que um blogue estapafúrdio podia, realmente, ser da autoria de Anabela Mota Ribeiro, admissão essa acompanhada de muitas tiradas pouco simpáticas. Hoje, a notícia veiculada pelo “Expresso online” sobre alegadas declarações do jurista Pedro Amorim, entretanto liminarmente desmentidas, clamando pelo fim dos blogues. Como sucede habitualmente na blogosfera, esta situação foi, em vários locais, acompanhada ao segundo, da justa indignação ao alívio pelo desmentido. Eu mesmo, se não tivesse tomado conhecimento da situação já depois do desfecho, teria aqui verberado contra a suposta imbecilidade. Como vi o fim do filme, poupei-me a esse constrangimento. Com isto, quero notar que os leitores de blogues (geralmente, somos nós que nos lemos uns aos outros) têm sempre de ter alguma benevolência. Isto é um jogo, uma pequena corrida, uma diversão. Joga-se e corre-se com coisas sérias, mas a coisa deve ser interpretada por aquilo que é. Não mais. Se assim for, evitar-se-ão muitas zangas escusadas. Um jornal, claro está, tem outras responsabilidades. Um jornalista, enquanto tal, tem outras responsabilidades. É mais importante evitar as precipitações, se bem que ninguém seja imune ao erro. Quando assim é, desmente-se sem delongas, à luz da lei e da deontologia. Com dignidade. Isso foi feito.
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