1 comments | sábado, junho 03, 2006


Aturado esforço de investigação do meu companheiro de JN Cristiano Pereira, há anos emigrado em Lisboa, resultou na publicação de um excelente trabalho de duas páginas, na edição de 2 de Abril último, unidas pelo garrafal título "Um segredo chamado Artur Gonçalves". Num dos textos, o Cristiano, um dos tipos mais brilhantes que já vi nesta coisa dos jornais, coloca a questão fulcral: "Que espécie de país é este que esquece e despreza artistas deste calibre?".

As canções satíricas de Artur Gonçalves, amálgama bem temperada de marialva e trovador intervencionista, estão disponíveis na Internet, designadamente num blogue que o Cristiano criou apenas com objectivos de divulgação. Não tenho possibilidade de pôr as cantigas aqui a tocar, mas recomendo vivamente a visita, chamando a atenção para as inefáveis capas dos discos e para as letras. Sugiro que ouçam o tema "Vamos dar caça à Pide", de 1974 (a música é o conhecido fado "Dar de beber à dor"), cujas palavras transcrevi há pouco e aqui reproduzo.


Vamos dar caça à Pide

Fez no sábado quinze dias que passei
P'la Rua António Maria Cardoso,
Ai, mas está tudo tão mudado,
Que não vi em nenhum lado,
Aqueles pides de aspecto tenebroso!
Desde a porta até ao tecto
O prédio tem outro aspecto,
Já não podem lá fazer mais falcatrua.
Na parede, rente ao chão, escrito a carvão,
"Os pides morrem na rua".

Entrei onde era o escritório do Silva Pais,
Mas não estava à secretária, já se vê,
Nem molduras de madeira
Do Tomás e do Moreira
Nem daquele que falava na tv.
Tudo mudou de figura
E na sala da tortura
Onde tanta boa gente andou de gatas
Quando, em noites muito beras, essas feras
Enfardavam democratas.

As janelas das traseiras, tão garridas,
Com cortinados de ferro aos códradinhos,
Ai perderam todo o interesse
Porque agora os dê-gê-ésses
Estão de saco em Caxias, coitadinhos.
Não se vêem cassetetes,
Nem mocas, nem canivetes
Enfeitando os salões desse alicerce.
Chegou a esta penúria toda a fúria,
A sede da DGS.

O que vão fazer do prédio, não importa,
Mas decerto que o irão pintar de novo.
Esse ex-coito de suínos
Que foi viveiro de assassinos
E se alimentavam c'o sangue do povo.
Das torturas padecidas
E das costelas partidas
Que eu não consigo esquecer... entre um copinho.
Pois vamos todos dar caça a essa raça,
Já dizia o Zé Povinho!

Pois vamos todos dar caça a essa raça,
Já dizia o Zé Povinho!

1 Comments:

Blogger ANTONIO DELGADO said...

amigo Pedro Olavo Simões, há possibilidades de adquirir as musicas do ou alguma musica do Artur Gonçalves? já visitei o blog que refer e até esta linkado no meu, mas agora não se consegue ouvir a musica.

O meu contacto é: a_delgado@netcabo.pt

Cordialmente
António Delgado

17:16

 

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