0 comments | domingo, julho 10, 2005

Foto de POS
Pontes vistas de Raiva, Castelo de Paiva

Ilustro este apontamento com duas obras que deviam ter sido feitas antes da razão que esteve por trás delas. Unem as duas margens do Douro, entre a freguesia de Raiva (Castelo de Paiva) e o lugar de Entre-os-Rios, na freguesia de Eja (Penafiel). Sobre isso todos estarão esclarecidos e não será preciso dizer mais nada. Ponho-as aqui, motivado pelo comentário que fiz a um texto do blasfemo PMF, em que um exemplo histórico foi usado para demonstrar as bases do despesismo público português. O dito exemplo, como verificarão se o forem lá ver, põe a tónica nos custos que envolvem pessoas, mas eu prefiro associar o desperdício a obras disparatadas. Poderão os liberais argumentar que está aí mais um argumento para justificar que tenhamos menos Estado, mas o que eu quero (haja esperança) é que tenhamos Estado com gente que possua verdadeiro espírito de serviço público.

O que é desperdício? É, por exemplo, querer fazer um aeroporto gigantesco na Ota, quando não se substituem pontes que estão a cair. É insistir que o TGV é estrategicamente essencial, num país que destruiu a rede ferroviária para sustentar os lobbies do betão com estradas irresponsavelmente concebidas (tempo de Cavaco) ou desnecessárias (tempo de Guterres). É ver que há ideia de montar uma candidatura de Lisboa à organização dos Jogos Olímpicos em dois mil e não sei quantos. E é muitas outras coisas, de menor dimensão mas sintomáticas da falta de verdadeiro espírito de cidadania entre a nossa classe política. Dou dois exemplos simples, ao nível local: a guerra de fogo-de-artifício entre os presidentes das câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia e, hoje mesmo, as disparatadas corridas levadas a cabo por Rui Rio em redor do Parque da Cidade.

Sobre o foguetório, poderão alguns (os próprios envolvidos, primeiramente) dizer que foi pago com o dinheiro de patrocinadores. Seja, mas ter uma porção de privados a dar dinheiro para queimar exageradamente, numa dispensável disputa de galos, enchendo os cofres de uma só empresa, não me parece factor de dinamização da economia. Por outro lado, não vejo privados a patrocinar o apoio aos que dormem na rua, não vejo privados a contibuir para que o centro histórico do Porto se aguente em pé e com vitalidade... Já as corridas dos popós antigos, naquilo a que tenho chamado "autódromo Rui Rio", são de bradar aos céus. Quando o poder local não faz nada de jeito pela cidade, em ano de eleições, toca a dar entretenimento ao povoléu, a ver se cola. Para isso, destrói-se obra feita para montar uma pista, que, depois, vai desfazer-se, voltando a pôr-se tudo como estava antes (suponho). A cidade ganhou muito com isso? Veio muita gente de fora? É ilógico que esta cidade, com tantas razões para ser atractiva, precise de eventos pontuais para chamar forasteiros.

Fazer grandes coisas não é, sempre, fazer coisas em grande, porque estas podem ser disparatadas. É na dificuldade de combinar dois elementos, a vontade de fazer e o acerto com que se faz, que reside, em grande parte, a tendência portuguesa para o despesismo.